2015-05-08 15:50:00

Duas periferias em diálogo - Santiago e Casal Palocco


É tradição na Igreja católica que a cada novo cardeal seja atribuída uma paróquia na Diocese de Roma, onde tomam posse, mesmo continuando a estar nos países de origem.

Domingo 10 de Maio dois cardeais africanos tomam posse nas suas respectivas paróquias: D. Júlio Duarte Langa, arcebispo emérito de Xai-Xai, Moçambique, na Paróquia de “San Gabriel dell’Adolorata”; e de D. Arlindo Gomes Furtado, bispo de Santiago de Cabo Verde a quem foi atribuído a paróquia  de “San Timóteo”.

A nossa emissão quis saber de que modo os párocos dessas paróquias e os seus respectivos fiéis acolheram a notícia e como se estão a preparar  para o evento.

No caso de “San Timoteo” (com a qual começamos hoje) não foi preciso ir muito longe, pois na Rádio Vaticano trabalham três membros dessa Paróquia. Um deles é Angelo Paoluzi, jornalista de renome, já na reforma. As suas últimas energias – disse-nos – quer dedicá-las ao mensário, “Santimoteo News” em que o Cardeal Arlindo Furtado já foi manchete em dois números, o primeiro intitulado “Adopte um Cardeal”.

“No primeiro era a expectativa, no segundo é a esperança de que o Cardeal nos adopte (riso); que se sinta satisfeito dos seus paroquianos”.

A paróquia de San Timoteo, com cerca de 17 mil fiéis, colheu a notícia com surpresa. É que não esperava ter um título cardinalício e ainda menos um cardeal africano, diz com simpatia o pároco D. Angelo Compagnoni:

“Para nós foi sinceramente uma surpresa. Não esperávamos nem sequer que a nossa paróquia recebesse um título cardinalício. Foi uma surpresa absoluta. Uma dupla surpresa.”

Já teve ocasião de encontrar o Cardeal Gomes Furtado e falar com ele? Qual foi a sua impressão?

“Muito boa, porque encontrei uma pessoa (falo do ponto de vista humano) uma pessoa fantástica, disponível, humilde, verdadeiramente fraterna…. Me apresentou logo às pessoas que estavam presentes dizendo: “este é meu pároco, agora este é o meu pároco (riso) foi uma coisa muito simpática”

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Um cardeal cabo-verdiano…, uma descoberta para D. Angelo Compagnoni que nem sabia que em Roma existe uma comunidade significativa de cabo-verdianos. O mesmo já não acontece com a sua paroquiana, Anna Albertini, que de pequena tinha amigos de origem cabo-verdiana.

“Conhecia já diversas pessoas, quando era pequena tinha amigos cabo-verdianos”.

Não obstante isso, Anna, tal como os outros paroquianos ficou perplexa com o anuncio de um cardeal para “San Timoteo” porque não sabiam o que isso significava exactamente…

Anna trabalha há vários anos no “Estúdio A – Rádio Vaticana Música”. A paróquia é para ela uma segunda casa: faz parte dum dos coros e os dois filhos são, respectivamente, catequista e animador. Domingo 10, estarão a servir a missa na presença do Cardeal, e haverá também um coro da comunidade cabo-verdiana. Estão a preparar-se para isso.

A comunidade cabo-verdiana em Roma está, efectivamente a preparar-se para passar mais um momento importante com o seu cardeal, refere Helena Rodrigues, uma da animadoras em Tra-Noi, Movimento espiritual de Acolhimento com o qual os cabo-verdianos em Roma estão ligados desde sempre…

O P. Adolfo é congolês e trabalha e San Timoteo. A paróquia situa-se no bairro Casal Palocco, um oásis verde a sudoeste de Roma. Tem cerca de 17 mil fiéis, nem todos praticantes, mas é uma paróquia cheia de vida e actividades: grupos diversos de jovens e de adultos; comunidades neo-catecumenais e mesmo uma cantina que dá diariamente o almoço a uns 30 imigrados necessitados, sobretudo do Sri-Lanka. Cabo-vedianos não são muito conhecidos na paróquia. Mas famílias ricas do bairro têm desde os anos 60/70 empregadas domésticas crioulas. Praticamente desde a criação da paróquia, como se nota das palavras de Sergio Centofanti, outro membro da paróquia, jornalista na RV, onde é dos chefes de Redacção da secção italiana: Para ele também a notícia de um cardeal foi uma surpresa…

“Recebi a notícia com grande surpresa. Nunca teria imaginado que San Timóteo pudesse tornar sede cardinalícia; uma paróquia da periferia romana, surgida em finais dos anos 60. Vi-a crescer. No início íamos para um pré-fabricado em ferro, enquanto aguardávamos pela construção da Igreja.

Agora, depois de cerca de 50 anos chega um cardeal da periferia, da África. Nós temos desde há anos geminações com alguns países da África, de modo particular com um hospital pediátrico de Kimbondo, o único gratuito na RDC, fundado e dirigido por um missionário claretiano, P. Ugo. Ter agora um Cardeal, é um convite ulterior a abrirmos os nossos horizontes.

O Cardeal Gomes Furtado é o primeiro Cardeal de cabo-verdiano. É uma festa para Cabo Verde e também para a Paróquia de San Timóteo que lhe foi dedicada. O discípulo de São Paulo, o apóstolo das gentes que abriu a Igreja ao mundo inteiro.

O Papa Francisco nos convida a levar a todos a alegria do Evangelho; os cabo-verdianos são um povo alegre. Agora que estamos mais próximos, nos ajudarão a reforçar a alegria da fé e a transmiti-la aos outros. Este domingo a comunidade cabo-verdiana estará connosco para festejar este importante evento. Só temos de agradecer o Senhor por todos estes dons e obrigado a todos vós”

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Surpresa, maravilha, orgulho, perplexidade, honra, gratidão, alegria… são as palavras que mais soltam da boca dos paroquianos de San Timóteo e do próprio pároco quando falam da atribuição do título cardinalício à paróquia na pessoa de D. Arlindo Furtado:

 “Para mim e para os meus colaboradores é essencialmente uma grande honra, uma grande honra, mas sobretudo, neste caso, descobrir que por detrás deste Cardeal está a Diocese mais antiga da África, foi uma coisa que duplicou esta honra. E depois quase que geminados, parte dessa Igreja, para mim foi abrir uma porta para o mundo. Espero aliás, e estou seguro de que ele traga um novo elã, uma abertura perante a Igreja universal. Já tivemos a sorte de ter diversos colaborados da África, mas creio que ter um cardeal titular, um cardeal da Igreja de Roma, cardeal eleitor, colaborador do Santo Padre e ainda por cima um cardeal chefe duma Igreja da periferia (o Papa insta-nos tanto a abrir às periferias) e ao mesmo tempo cardeal de uma das Igrejas mais antigas do Continente africano – acho que é uma graça enorme e que nos levará a aumentar o nosso elã missionário a nível universal, uma potencialidade grande” .

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Duas periferias que se encontram, uma que está a desenvolver-se também na fé, como o mundo africano, e a outra um mundo talvez um pouco velho na fé e que precisa duma injecção desse mundo para se sentir mais perto da universalidade da Igreja, através de um Cardeal que vem da África.

Esta foi a conclusão a que, segundo o jornalista Ângelo Paoluzi – chegaram depois de alguma reflexão no Conselho Paroquial. Ter um Cardeal, diz, é uma grande satisfação, mas também uma grande responsabilidade, porque, diga-se a verdade – refere  - “Casal Palocco tem uma paróquia viva, mas é uma minoria que procura ser um ponto de referência mesmo do ponto de vista sócio-antropológico do bairro.”

Será, portanto, um encontro do dar e do receber de todos os pontos de vista…

“Certo, um dar e um receber e esperamos que também o ter estimule as nossas capacidades reactivas, culturais e intelectuais. Estamos, por exemplo a descobrir agora que há uma Teologia africana que está a enriquecer a cultura da Igreja. Nos empenhamos, portanto, a pôr em acto todas as nossas capacidades culturais de aprendizagem para saber ter em conta a riqueza universal desta Igreja que nos manda providencialmente o Senhor para nos recordar que somos uma única espécie, a raça humana”.

Promessas de um crescimento conjunto, na união espiritual, material, universal como é o índole a Igreja católica. Promessas e premissas para ultrapassar todas as perplexidades e viver a emoção deste momento com olhos no futuro, esperando ter o Cardeal muitas mais vezes connosco, o que nos honra e nos dá alegria…. remata Anna Albertini, dizendo que estão titubeantes, porque não lhes foi bem explicado o papel do Cardeal na Paróquia, mas a ideia, a emoção de ter um duplo emblema (do Papa e do Cardeal) na fachada da Igreja está a envolver um pouco a todos….

A tomada de posse de D. Arlindo Furtado na paróquia romana de San Timóteo que lhe foi intitulada enquanto Cardeal da Igreja universal. Será domingo, às 10 horas. Uma hora mais tarde será a vez de D. Júlio Langa, na paróquia de San Grabriel dell’Adolorata. Do clima de preparação nessa paróquia falaremos amanhã. 








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