Editorial: A cor da fé


Aparecida (RV) – Concluíram-se ontem, sexta-feira, 24, os trabalhos da 53ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida, SP. Foram dez dias de encontros entre os mais de 300 bispos presentes na “capital da fé brasileira”. Dias vividos com muito trabalho certamente, mas também na dimensão do encontro de velhos e novos amigos. A Assembleia Geral é um momento importante para a CNBB, no que diz respeito às decisões que são tomadas, as escolhas que são feitas, a direção em que caminhar. Mas aqui também temos a “pedagogia do encontro”.

Pudemos sentir nestes dias aqui em Aparecida o coração pulsante de uma Igreja em saída, como tanto deseja o Papa Francisco. Uma Igreja que não só caminha ao lado do Povo de Deus, mas que o apoia, e o sustenta nos momentos difíceis do cotidiano, da atualidade. Sim, porque os temas e as reflexões feitas nestes dias foram certamente concentrados no aspecto eclesial e evangelizador, mas os bispos não se furtaram de analisar e propor questões sociais que dizem respeito a todos os brasileiros, não só aos católicos. Desde a questão da Reforma Política, vista como um imperativo neste momento em que navegamos como nação em mares tempestuosos, quer sobre a questão indígena, com a atuação do CIMI, Conselho Missionário Indigenista, que jamais poupou esforços através de seu Presidente, Dom Erwin Krautler, de lutar e defender aqueles que hoje não tem voz e lugar, os “verdadeiros donos” e conservadores da terra. Vimos nestes dias em Aparecida a profundidade e intensidade da oração que reuniu a família de Deus ao redor do altar do sacrifício no Santuário Nacional de Aparecida. As celebrações eucarísticas, com a participação de fiéis e romeiros deram o tom do que significa celebrar o memorial de Cristo. Cada dia em uma intenção específica; desde os 50 anos do Concílio Vaticano II, até a Família e a Vida Consagrada.

O tema central, dedicado às Diretrizes que indicam a estrada para a Ação Evangelizadora da Igreja nos próximos 4 anos, uma continuação das mesmas Diretrizes aprovadas 4 anos atrás, foram enriquecidas com textos, propostas, ações do Papa Francisco, que se encontrou em 2013, no Rio de Janeiro, durante a JMJ, com os bispos da Conferência Nacional do Brasil, como também pelos seus pronunciamentos e a sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Diretrizes que confirmam as exigências de uma Igreja evangelizadora em permanente estado de missão; de uma Igreja que é casa da iniciação à vida cristã, lugar de animação bíblica da vida e da pastoral; de uma Igreja comunidade de comunidades e a serviço da vida plena para todos.

Foco das atenções da imprensa e de toda a comunidade brasileira foram as eleições para a nova presidência e presidentes das Comissões Pastorais; foram ainda escolhidos os representantes da CNBB para o próximo Sínodo da Família que se realizará no Vaticano no mês de outubro, bem como os representantes junto ao CELAM, Conselho Episcopal Latino-americano.

Mesmo sendo uma Assembleia eletiva, a palavra que circulou e se fixou nestes dias foi: serenidade. Uma serenidade que há muito não se via em uma disputa eleitoral, ainda que seja uma eleição diferente das que conhecemos, pois todos os bispos elegíveis eram candidatos: ou seja todos podiam votar em todos e serem ao mesmo tempo votados. Ficou evidente o grau de maturidade que hoje temos no seio da nossa Conferência e a unidade e fraternidade demonstradas na escolha do novo Presidente, o Arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha, já no primeiro escrutínio; mas também de continuidade com a reeleição do Secretário Geral, Dom Leonardo Steiner, bispo auxiliar de Brasília, e de uma pitada de renovação com a escolha do Vice-presidente, o Primaz do Brasil, Arcebispo de São Salvador, Dom Murilo Krieger.

O encontro anual do episcopado brasileiro que reuniu cardeais, arcebispos, bispos, bispos auxiliares e eméritos, além dos que fazem parte das Igrejas de Rito Oriental, distribuídos em 274 circunscrições eclesiásticas deu a dimensão do sopro do Espírito Santo, pois foi ele quem inspirou e conduziu os trabalhos.

Vimos novos e velhos amigos se encontrando na “Casa da Mãe”, debatendo e rezando juntos, como no tempo das primeiras comunidades. Uma fotografia que tem a cor da fé e que nos dá a certeza do caminhar juntos em um país de grande diversidade. Repito mais uma vez o refrão que ouvimos nestes dias em Aparecida entre os bispos, “Quero uma Igreja missionária, solidária e que saiba ouvir!”. Os dias passados aqui nos dão a certeza de que o caminho é esse. Bom retorno a casa aos nossos pastores “com cheiro de ovelhas”.

Dos estúdios da Rádio Vaticano em Aparecida, SP, Silvonei José.

 

 








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