Líderes cristãos sobre o conflito na Síria: "Basta!"


Damasco (RV) - “Basta com a destruição e a desolação. Basta ser um laboratório para armas de uma guerra devastadora”. É o grito lançado pelo Conselho dos Chefes das confissões cristãs de Aleppo, Síria, e divulgado enquanto a cidade vive momentos dramáticos com bombardeios e confrontos entre milicianos e o exército sírio.

Corpos retirados de escombros, sangue misturado à poeira da devastação. O cenário que os líderes das confissões de Aleppo descrevem é de destruição, dor e raiva.  Os habitantes, daquela que era considerado “o pulmão econômico” do país, “sofrem uma dor intensa”, acompanhado pela “angústia” e “mal-estar”. À comunidade internacional é pedido que feche “as portas da venda de armas” para salvar aquela que já é definida como uma “cidade mártir”. A escalada do conflito envolve também os bairros cristãos, com vítimas fatais e feridos graves. Quem fala da situação vivida na cidade é o Núncio Apostólico em Damasco, Arcebispo Mario Zenari:

Escalada de violência

“Infelizmente, neste período após a Páscoa, houve algumas áreas, alguns bairros, que foram atingidos por um tipo especial de míssil, que não conhecíamos até então, muito fortes. Foram danificadas algumas catedrais, como a maronita, como a melquita, como a armênia, que já haviam sido danificadas precedentemente. Depois, existe uma zona, uma estrada habitada por cristãos em modo particular, onde existem estas igrejas e que se chama Sulaymaniya, que também foi atingida. Não se sabe o porquê. É certo, existem confrontos muito fortes e cruéis entre as partes em luta, que se acentuaram nestes últimos dias. As pessoas estão em pânico, em particular os cristãos que viram estas bombas cair sobre casas e igrejas. Esta manhã ouvi a notícia – que talvez seria necessário conferir melhor – de que cerca de 700 famílias cristãs partiram nos últimos dias e deixaram Aleppo. O que faz mal é este pânico que começa a espalhar-se entre as pessoas e também entre os cristãos. Quem pode, procura escapar”.

RV: O Conselho dos líderes das confissões cristãs de Aleppo lançou um grito de alarme: basta!, lê-se no comunicado, com a destruição e a desolação, pare a venda de armas...

“Sim, é claro. As pessoas perceberam que estão sendo usados alguns tipos de armas que antes não se via circulando. Isto prolongará a agonia no país: a chegada de novas armas e, alguns dizem, mas não se sabe se é verdade, a chegada também de combatentes. É uma situação muito, muito delicada, em particular em Aleppo, mas também em outras zonas da Síria. Este tempo pascal foi maculado pelos bombardeios, pelos mortos e as pessoas estavam tentando viver a alegria pascal, mas com o pânico sempre à porta”.

RV: Por que existe agora esta escalada de violência contra os cristãos, mas também contra escolas, contra organizações humanitárias?

“É difícil saber, mas aquilo que um pouco todos perguntam é, ‘O que está acontecendo?”, “Para onde está andando a Síria?”. Se olharmos para os quatro anos de conflito, nos damos conta de que todos erraram, as previsões estavam erradas e também isto aumenta o medo e o pânico. Não se vê para onde se está indo. Infelizmente, do pouco que se consegue intuir, não se vai na direção de uma solução a médio prazo deste sanguinário conflito, mas existem sinais de um acirramento do  conflito”.

RV: Justamente os líderes cristãos de Aleppo falam de dezenas de mártires de todas as religiões e confissões, de feridos e mutilados, de homens e mulheres, de idosos e crianças...

“Este conflito cria um sofrimento transversal, todos estão incluídos. A Síria começou há quatro anos o caminho da Via Sacra e todos estão percorrendo este caminho. É difícil dizer quem mais carrega o peso e quem o leva de  menos. Se olharmos para as 220 mil vítimas, existem dentro todos: de recém nascidos a crianças, aos adultos, aos idosos, aos crentes de todas as fés. Tudo, portanto, faz entender que infelizmente não chegamos à última Estação, à XIV, o prelúdio da Ressurreição, mas estamos ainda na metade do caminho, não se sabe”.

RV: A notícia da morte de um agente Caritas, mas também de dois jovens cristãos é destes dias. Um pensamento para eles, mas também para toda a Síria:

“Sim. Também eu recebi as notícias, que circulam também na internet. Infelizmente, às vezes, isto se baseia em cifras: se fala de 220 mil vítimas, mas por trás destas cifras existe uma criança, um jovem, uma jovem, uma mãe. Estas notícias deveriam abrir uma brecha no coração, sobretudo de quem tem em mãos a sorte deste conflito e da comunidade internacional, para dizer: “basta!”” (JE)

 








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