Aleppo: querem erradicar cristãos da Síria, diz Vigário Apostólico


Aleppo (RV) – A situação em Aleppo piorou. Na cidade se assiste “a uma crescente escalada militar”, diante de uma população civil, cristãos e muçulmanos, que “está cansada da guerra, está cansada deste atos terríveis de violência”. Todavia, poderes e interesses “regionais e internacionais” mantém vivo o conflito, enviando “armas e munições sempre mais potentes e letais”. Foi o que denunciou à Agência Asianews o Vigário Apostólico de Aleppo dos Latinos, Dom Georges Abou Khazen, para quem a cidade, que já foi motor econômico da Síria, corre o risco de ser destruída pela loucura de uma guerra que não poupa casas, igrejas, escolas e organizações humanitárias. São dezenas as vítimas cristãs nos ataques dos últimos dias e o número, confirmado pelo prelado, poderia aumentar, pois existem inúmeros corpos “presos aos escombros dos edifícios que desabaram com os bombardeios”.

Os salesianos do Oriente Médio denunciaram a morte de dois irmãos cristãos - Anwar Samaan e Misho Samaan, de 21 e 17 anos respectivamente, junto a sua mãe -, provocada por míssil que atingiu sua casa em 10 de abril. Dois dias após um ataque aéreo da aviação síria alvejou uma escola num bairro de Aleppo, em mãos dos rebeldes, matando cinco crianças, três professoras e um homem. Em resposta ao ataque, 135 institutos educacionais e mercados ficarão fechados por toda a semana. Dezenas de famílias, cada vez mais assustadas com a violência, deixaram suas casas buscando abrigo nos campos de refugiados na Turquia.

Pesados bombardeios sobre bairros cristãos

A escalada do conflito atingiu também bairros cristãos, que registram numerosas vítimas e feridos graves. “Na noite entre a sexta-feira e sábado passado, no culmine da Páscoa Ortodoxa – conta o Vigário de Aleppo – os bairros cristãos foram bombardeados com armas pesadas, mísseis nunca vistos até então, foguetes longos até três metros”. Para o prelado, é “uma coisa nova, de enorme poder destrutivo”, pois até agora “estávamos habituados a tiros e golpes de morteiro. Vimos edifícios de cinco andares ruírem, pessoas que tinham medo de sair para rua permanecerem presas nos escombros.....nunca havia visto nada do gênero”. Nos dias passados foram atingidas igrejas e escolas, fechadas para as festividades de Páscoa.

Potências estrangeiras alimentam o conflito e fornecem armas

Os bispos católicos lançaram um apelo à comunidade internacional para que intervenham para deter o conflito. No entanto – observa o Vigário de Aleppo – é justamente a comunidade internacional, são as potências em campo (Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia, França, que fornecem armas, combatentes, treinamento militar e ideológico”, que “sopram sobre o conflito e fornecem armas sempre mais pesadas e letais aos combatentes”. “Choramos ao ver o sofrimento nos olhos das pessoas – conta Dom Georges -, os muitos corpos sob os escombros das casas destruídas. Somente na parte cristã já sepultamos 12 pessoas, das quais quatro da mesma família. Mas existem ainda diversos corpos sob os escombros, além de diversos feridos graves, e tememos que o balanço possa se agravar nas próximas horas”.

Está em curso um “projeto mirado” para erradicar os cristãos da Síria

“Estamos cansados da guerra, não mandem mais armas”, é o apelo lançado pelo Vigário de Aleppo, para quem está em curso “um projeto mirado” para “erradicar os cristãos” da Síria, do Iraque e do Oriente Médio. “Bombas e mísseis – acrescenta – não são fabricados para instigar, mas para matar” e para fazer desabar o mosaico de convivência e sentimentos comuns que existia na Síria antes da Guerra, onde cristãos e muçulmanos “viviam unidos e sem tensões de natureza confessional”.

A Igreja na ajuda às populações cristã e muçulmana

Agradecendo o Papa Francisco pelos apelos em favor dos cristãos perseguidos no Oriente Médio, o Vigário Apostólico conta que em Aleppo a Igreja continua os projetos de acolhida e ajuda ás vítimas da guerra, cristãos e muçulmanos, em condições sempre mais difíceis. “No passado distribuímos comida, roupas, disse Dom Georges. Agora estamos organizando centros de acolhida nas paróquias, porque queremos encontrar um refúgio para aqueles que tiveram que abandonas suas casas, atingidas por mísseis. As portas estão abertas a cristãos e muçulmanos, como sempre ocorreu no passado. Esta é a beleza da Síria, o diálogo e a acolhida entre as pessoas de religiões diferentes, que os combatentes provenientes do exterior e embebidos de ideologia querem destruir”. (JE)

 

 








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