O martírio dos cristãos e o desconsolo do Papa na Semana Santa



Cidade do Vaticano (RV) – A perseguição dos cristãos em nosso século tem preocupado o Papa Francisco ao ponto que este tema não foi omitido em nenhum momento da Semana Santa que acabamos de viver. O Papa que tem a misericórdia como linha mestra de seu magistério está indignado com a indiferença da comunidade internacional em relação ao sofrimento de quem é discriminado por sua fé. 

Mas se a crença de cada um é uma questão privada, por que perseguir quem simplesmente ‘acredita diferente’? O que o leva um jovem a matar seu coetâneo se for cristão e deixá-lo viver, poupando-o de um tiro na nuca, se for muçulmano? 

O que aconteceu na Universidade de Garissa, no Quênia, uma chacina que deixou 154 mortos, foi matéria de reflexão nesta Semana em que os cristãos celebram a Ressurreição do Senhor. 

O caminho do Cristianismo é mesclado com a história de mártires: desde os primeiros séculos até os dias de hoje; quantos ‘Dom Romeros’ derramaram o próprio sangue defendendo os mais frágeis, antes de tudo, em nome de Deus? 

Na cerimônia da Paixão, Sexta-feira Santa, o Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, recordou que o calvário vivido por Jesus Cristo é o mesmo de muitos cristãos de hoje, “sós, torturados, a mercê de militares que se abandonam a todo tipo de crueldade física e psicológica, que se divertem vendo o outro sofrer”. 

Antecipando as palavras de Francisco ditas alguns dias depois, o capuchinho denunciou a “inquietadora indiferença das instituições mundiais e da opinião pública frente a tudo isso” e advertiu para o risco de “sermos todos, instituições e pessoas do mundo ocidental, como Pilatos, que lava as mãos”. 

No século XX, “século dos mártires”, milhares de igrejas, conventos e seminários foram destruídos por regimes totalitários e o número de cristãos presos, torturados e mortos por confessarem a fé em Cristo superou o de toda a história. E hoje acontece o mesmo no Paquistão, na Nigéria, na Síria, no Iraque, país onde o Cristianismo nasceu.  

Antes da invasão dos Estados Unidos e a queda do regime de Saddam Hussein, o número de cristãos no Iraque era de 3 milhões; hoje, são no máximo 400 mil. Mais de 90% da comunidade está deixando suas terras por causa da perseguição de grupos radicais islâmicos.

Ainda na Semana Santa, antes da bênção Urbi et Orbi do Domingo de Páscoa, o Papa pediu ao Senhor que “alivie o sofrimento de tantos irmãos perseguidos que sofrem injustamente as consequências de guerras e conflitos”. O Pontífice, no entanto, não se limitou a rezar pelos cristãos; enviou o Cardeal italiano Fernando Filoni ao Iraque, para levar pessoalmente a sua proximidade aos refugiados. 

Hoje, o inimigo principal se chama Estado Islâmico, grupo jihadista que afugenta os cristãos de suas casas, obrigando-os a deixar o país. A alternativa para quem não tem família ou amigos em países vizinhos é sobreviver em campos para refugiados no Curdistão: hóspedes, precários, sem casa nem trabalho.

A preocupação do Papa se traduziu também em iniciativa diplomática: em meados de março, a Santa Sé apresentou uma moção na Assembleia do Conselho de Direitos Humanos na ONU, “Defender os Direitos Humanos dos cristãos e outras comunidades no Oriente Médio”. 

O gesto que todos esperam e que é possível, mesmo que muito remoto, seria a visita do próprio Papa aos refugiados no Curdistão iraquiano, que ao Cardeal Filoni insistem em perguntar: “Quando Francisco virá aqui?”. 

(CM)

 








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