Dom Helder Câmara e as Conferências na Domus Mariae


Cidade do Vaticano (RV) -  No nosso Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II - vamos tratar na edição de hoje da relação entre Dom Helder Câmara e as Conferências na Domus Maria.

A Domus Maria, como vimos nos programas anteriores,  era um espaço privilegiado localizado na Via Aurelia, ao lado do Colégio Pio Brasileiro, e que durante o Concílio Vaticano II tranformou-se no "quartel-general", por assim dizer, do Episcopado brasileiro. Uma das atividades da Domus Maria, organizada de modo informal e ocasional na primeira sessão, e de modo sistemático a partir da segunda sessão, em 1963, eram as que ficaram conhecidas como as "Conferências da Domus Maria".

Tudo começou durante a primeira sessão, quando Dom Helder Câmara convidou alguns peritos e padres conciliares para falar aos bispos brasileiros, geralmente sobre os temas em debate na sala conciliar. Num total de 80, as conferências reuniram nomes como o suiço Hans Küng, os Cardeais Giacomo Lercaro, Augustin Bea, Ernesto Ruffini, Leo Suenens,  Karl Rahner, Dom Aloísio Lorscheider e Dom Clemente Isnard e o Irmão Roger Schutz, da comunidade de Taizé, entre outros.

Jornalistas

As Conferências chamaram a atenção da imprensa, incomodaram alguns dicastérios vaticanos, mas sofreram também controvérsias internas. Os conferencistas estavam alinhados com a maioria conciliar, o que desagradava à Cúria Romana e alguns bispos brasileiros. A CNBB fez apenas um convite oficial para proferir conferência, justamente ao Cardeal Ruffini, personalidade em vista da minoria conciliar, juntamente com Ottaviani, Siri e Browne: "Elementos que não veem a CNBB com bons olhos já foram fazer fuxico com o Sr. Cardeal Câmara, como se os bispos brasileiros não fossem livres, sem liberdade de ouvir quem quer que seja. Aliás, a iniciativa das conferências é inteiramente particular e nada tem a ver com a CNBB. O único que ela convidou a falar foi o Exmo. Cardeal Ruffini...", revela um estudo de Fouilloux.

Dentre os teólogos franceses que se pronunciaram na Domus Mariae, Dom Helder Câmara manifestou particular estima por Henri de Lubac, como se deduz de seus comentários, quando de sua conferência em 1o de dezembro de 1963:

"Jantou em nossa mesa o profeta De Lubac. Conheço poucos homens tão serenos, tão profundos e que dêem, como ele, a impressão de fruta madura... Não lê uma palavra de alemão e quase não sabe inglês. Não tem secretária: bate à máquina os próprios trabalhos e faz pessoalmente a revisão dos artigos... (quase cedi a ele uma datilógrafa e cheguei a perguntar se ele conhecia Hildette...). Quando perguntei o que estava escrevendo (está para sair o IV volume sobre exegese da Idade Média), comentou que já começa a cantar o Nunc Dimittis. A alegria que ele sente vendo o Concílio! Não sabe como não morreu de alegria ao ouvir, na basílica, o capítulo sobre a Liberdade Religiosa..... Entre as surpresas maiores do Vaticano II, coloca a descoberta da América Latina....Foi íntimo de Teillard de Chardin. Comentando o físico, o apologista e o místico fez-nos ver e ouvir seu grande amigo (...). Sala transbordante. A redondeza acorreu: padres e seminaristas do seminário Pio Brasileiro, do Pio latino, do Colégio Espanhol, dos Irmãos da Doutrina Cristã. Na mesa, perguntara a De Lubac se, no concílio, a cada passo escuta ecos de Chardin......Quando acabou a conferência, teve uma hemorragia nasal que me afligiu....Mas a turma não poupa: avança-avança de seminaristas e padres, e até bispos, para obter autógrafos...".

Fonte: “Padres Conciliares Brasileiros no Concílio Vaticano II. Participação e Prosopografia. 1959-1965”. Pe. Oscar José Beozzo

 








All the contents on this site are copyrighted ©.