Editorial: Ano Santo: “Bons Ares”


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa convocou um Jubileu extraordinário. O anúncio foi feito na sexta-feira (13/03), no âmbito de uma cerimônia penitencial na Basílica Vaticana. Imediatamente, a notícia correu o mundo, pois pegou todos de surpresa… ninguém sabia. Será um Ano Santo da Misericórdia.

Todos já sabem dessa notícia e certamente ouviram ou leram as reações positivas a essa decisão de Francisco. Não é novidade que desde o início do seu Pontificado, Bergoglio sempre focalizou a sua atenção, quer nas suas homilias na Casa Santa Marta, quer nos seus discursos e catequeses, sobre a misericórdia de Deus. Um tema que ele carrega consigo desde os tempos de sacerdócio e depois como bispo e cardeal em Buenos Aires. O nome da capital argentina, “Bons Ares” pode ser metaforicamente usado na convocação desse Ano Santo: trazer “bons ares para o espírito do Povo de Deus”, para a Igreja. Conhecer e valorizar ainda mais a misericórdia de Deus.

Será um Ano Santo da Misericórdia – disse o Papa – que terá início na próxima Solenidade da Imaculada Conceição, 8 de dezembro  e se concluirá no dia 20 de novembro de 2016, domingo de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo e “rosto vivo da misericórdia do Pai”. Portanto, a abertura do próximo Jubileu será no mesmo dia em que se comemora o encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 1965. Adquire por isso, um significado particular impulsionando a Igreja a continuar a obra iniciada com o Vaticano II, uma nova etapa do caminho da Igreja em sua missão de levar a toda pessoa o Evangelho da misericórdia.

Mas o que é um Ano Santo, um Jubileu? Devemos voltar no tempo para responder a essa pergunta, pois já no tempo do Antigo Testamento se usava a expressão jubileu, ou ano jubilar, que era celebrado a cada 50 anos. Neste ano especial perdoavam-se as dívidas, havia a restituição de terras, era um ano para equilibrar as desigualdades. E a Igreja de Cristo aproveitou essa ideia de um ano especial para transformá-lo em um Ano Santo, em um Jubileu. Segundo dados bibliográficos o Papa Bonifácio VIII estabeleceu, pela primeira vez na história da Igreja, o Ano Santo de 1300, que a partir de então deveria ser celebrado a cada 100 anos. O Papa Clemente VI (1342-1352) reduziu tal período para 50 anos, o Papa Urbano VI (1378-1389) para 33 anos (o tempo de vida de Cristo). Desde então, em circunstâncias especiais, nada impede que o Papa convoque um Ano Santo, mas em geral é celebrado com um intervalo de 25 anos.

Agora a convocação para o Ano Santo de Francisco é a terceira, desde o século passado, em caráter extraordinário, após os de 1933 e de 1983, convocados, respectivamente, por Pio XI e João Paulo II para celebrar os 1.900 e os 1.950 anos da Redenção. Já os Anos Santos ordinários celebrados até então, em geral a cada vinte e cinco anos, foram vinte e seis. O último foi o Jubileu do ano 2000, convocado por João Paulo II.

E o tema desse Ano Jubilar: “Sede misericordiosos como o Pai”, um versículo do Evangelho de Lucas que irá guiar o Jubileu da misericórdia, uma iniciativa que convida os fiéis do mundo inteiro a celebrar o sacramento da Reconciliação. “Um pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo”: recordando, era 17 de março de 2013 quando o Papa Francisco pronunciou essas palavras. Já em seu primeiro Angelus como Pontífice traçava assim uma das linhas-mestras do seu Magistério: a misericórdia.

Para o Papa o tema do perdão e da reconciliação é essencial: de fato, quando eleito bispo, Jorge Mario Bergoglio escolheu como lema episcopal “Miserando atque elegendo” (Olhou com misericórdia e o escolheu, ndr). Depois, como Papa, cunhou o neologismo “misericordiando”, cita a misericórdia 31 vezes na Exortação apostólica Evangelii gaudium e na Mensagem para a Quaresma 2015 exorta os fiéis a se tornarem “ilhas de misericórdia em meio ao mar da indiferença”.

Misericórdia. Mas o que é a misericórdia para Francisco. Para Bergoglio tudo começa com o perdão, perdoar: sim para encontrar a misericórdia é preciso perdoar. Este é o caminho que traz a paz aos corações e ao mundo, disse certa vez durante a santa missa celebrada na Casa Santa Marta.

“Para sermos misericordiosos, precisamos de duas atitudes. A primeira é o conhecimento de nós mesmos: saber que fizemos muitas coisas ruins: somos pecadores!”. Diante do arrependimento, “a justiça de Deus se transforma em misericórdia e perdão”. Mas é necessário ter vergonha dos pecados.

A outra atitude para sermos misericordiosos, afirmou o pontífice, “é engrandecer o coração”, porque “um coração pequeno” é “egoísta e incapaz de misericórdia”.

O coração grande, disse o Papa, “não condena, mas perdoa, esquece”, porque “Deus esqueceu os meus pecados; Deus perdoou os meus pecados. Engrandecer o coração! A misericórdia é a palavra-síntese do Evangelho.

Papa Francisco nos convoca mais uma vez, após o Ano da Vida Consagrada, que estamos vivendo neste momento, a nos tornarmos ainda mais testemunhas da misericórdia de Deus. Um caminho que se inicia com a conversão pessoal. E este tempo, o da Quaresma, é o tempo propício para isso.

Certamente toda a Igreja poderá encontrar neste Jubileu a alegria para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus, com a qual – disse Francisco -  “todos somos chamados a dar consolação a todo homem e toda mulher de nosso tempo”. (Silvonei José)








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