Enzo Bianchi: a humanidade ferida precisa da miseridórdia


Cidade do Vaticano (RV) - “Redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus com a qual somos chamados a dar consolação a todo homem e mulher do nosso tempo”: esse é o sentido do Ano Santo da Misericórdia segundo o Papa Francisco que, surpreendendo a todos, anunciou sexta-feira passada a convocação de um Jubileu extraordinário.

Acolhido com muita alegria, o anúncio tem tido ampla repercussão, suscitando muitos comentários sobre este novo Jubileu cujo início terá lugar em 8 de dezembro próximo – festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora – com a abertura solene da Porta Santa da Basílica de São Pedro.

A Rádio Vaticano entrevistou o prior da Comunidade monástica de Bose, Enzo Bianchi, que nos diz qual foi a sua reação:

Enzo Bianchi:- “Foi uma reação não somente positiva, mas, diria, repleta de alegria e com sentimento de agradecimento ao Papa Francisco, porque desde o início de seu Pontificado fez entender a toda a Igreja que queria uma estação de misericórdia. O Papa João XXIII já havia insistido: “É preciso usar a medicina da misericórdia, e não o recurso às armas do rigor”. São palavras suas na alocução de início do Concílio. O Papa Francisco retomou esta herança. Conhece bem a situação do mundo: a humanidade está muito ferida, a humanidade não tem grandes horizontes de esperança, a humanidade precisa que alguém se curve como o samaritano sobre as chagas e, sobretudo, use de misericórdia, embora sempre, claro, dizendo que o mal existe, sempre indicando-o como mal, como pecado, mas fazendo sempre a distinção entre o mal que existe e quem o comete, que pode sempre ter um caminho de redenção e pode sempre pedir perdão ao Senhor.”

RV: O Papa falou sobretudo aos confessores, dizendo que eles devem ser misericordiosos…

Enzo Bianchi:- “Certamente, a misericórdia – como diz a Escritura – precisa de homens e mulheres que além de terem a experiência da misericórdia de Deus na própria vida, saibam depois anunciá-la todos os homens. E os confessores são certamente os primeiros. Ser ministro da confissão é uma coisa árdua, porque se trata realmente de colocar-se de joelhos ao lado do pecador para pedir a Deus a sua absolvição. É preciso partilhar os sofrimentos do pecador, a sua saudade de Deus, entender o seu desejo de mudar de vida. Portanto, é preciso olhar para o pecador mais com os olhos de Deus, não olhar para ele com os nossos olhos que somente o condenariam.”

RV: O Papa fala também de uma Igreja que precisa de misericórdia, porque é pecadora, e que neste Jubileu poderá encontrar a alegria do perdão…

Enzo Bianchi:- “A Igreja precisa de reforma – o Papa Francisco continua dizendo isso –, a Igreja deve ser sempre reformada pelo Senhor. Vive no mundo, é composta de homens e mulheres, pecadores e pecadoras. Portanto, há realmente neste ano a possibilidade para a Igreja de empenhar-se nesta conversão, de alcançar a misericórdia de Deus, de invocá-la, reconhecendo suas culpas, seus limites e mostrando também uma grande solidariedade com os homens. Não temos barreiras com a humanidade pecadora, somos irmãos. Simplesmente somos chamados a colocar o olhar de Deus sobre os pecados, em relação àqueles que talvez não conseguem fazê-lo, porque não conhecem a Deus ou não conseguem assumir este olhar.” (RL)








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