Editorial: Audácia da paz


Cidade do Vaticano (RV) – Tivemos uma semana diferente aqui no Vaticano com a ausência física do Papa Francisco que de domingo a sexta-feira, participou, junto com seus colaboradores da Cúria Roma, dos Exercícios Espirituais pregados pelo sacerdote Bruno Secondin, baseados na leitura pastoral do Profeta Elias. Sim, foi uma semana diferente porque não tivemos os discursos do Papa, os encontros, as suas mensagens e homilias proferidas na Capela da Casa Santa Marta. Alguém poderia dizer, uma semana sem trabalhos para vocês. Mas não foi o que ocorreu. A ausência física do Santo Padre fez com que nos dedicássemos ainda mais ao mundo que nos circunda, procurando nas palavras de Francisco, as sendas para indicar propostas e soluções para os dramas que afligem o mundo. O Papa esteve ausente fisicamente, mas o seu coração, pensamento e oração estavam com todos aqueles que, em todas as partes do mundo, necessitam de apoio, de ajuda, de consolo.

Pensei em olhar para alguns textos e momentos compartilhados pelo Santo Padre no que diz respeito exatamente ao drama da humanidade hoje, cada vez mais vítima do circulo vicioso da violência e da guerra. Vi que o pontificado de Francisco é permeado de apelos e súplicas pela paz, que indicam estradas e posições a serem tomadas. Vivemos na atualidade episódios terríveis que cancelam até mesmo a palavra “humanidade”, diante de atos de barbárie contra o próximo. O sangue escorre e banha a terra, são os mártires do novo milênio.

Muitos poderiam até dizer que tudo o que o Papa disse, fez e faz, pouco ajudou ou ajuda a mudar a situação mundial. Mas, ao contrário, afirmo que as palavras e gestos de Francisco, não só ajudaram como ajudam aqueles que padecem a violência, as injustiças, as perseguições em todos os quadrantes do planeta. Muitos indícios confirmam que os apelos e os brados do Papa Francisco em prol da paz, do diálogo, do respeito pelo irmão, exercem influência não só entre os católicos, mas também entre líderes de outras confissões religiosas, em particular os ortodoxos, hebreus e muçulmanos.

O olhar e o coração de Francisco abraçaram e abraçam toda a terra pedindo paz para todos os povos. O Papa não se cansa de repetir que o “Amor é mais forte, o Amor dá vida, o Amor faz florescer a esperança no deserto”. Francisco pediu, que unidos, vençamos a chaga da guerra, agravada pelos conflitos que tentam apresentar a religião, Deus, como foco de tensão.

Francisco dirigiu o seu olhar para a realidade de numerosas pessoas, sacerdotes e leigos, que foram sequestradas em diferentes partes do mundo, para os migrantes, que deixaram as suas terras para lugares onde possam esperar um futuro melhor, viver a própria vida com dignidade e, não raro, professar livremente a sua fé.

Pediu o fim de toda guerra, de toda hostilidade grande ou pequena, antiga ou recente. Em particular, pela Síria, Iraque, Ucrânia, Líbia para que quantos sofrem as consequências desses conflitos possam receber a ajuda humanitária necessária e as partes em causa cessem de usar a força para semear morte, e tenham a audácia de negociar a paz, há tanto tempo esperada.

Desde o início de seu Pontificado o Papa Francisco vem chamando a atenção dos cristãos, das pessoas de boa vontade, dos Governos e da Comunidade Internacional para o drama de milhões de seres humanos que padecem os horrores da perseguição simplesmente porque são estrangeiros, são de etnia diferente, ou são cristãos.

“Paz”…palavra pronunciada constantemente por Francisco, a fim de que cessem definitivamente todas as violências. Quanto sangue já foi derramado, e quantos sofrimentos deverão ainda ser infligidos para que os povos encontrem uma solução e o caminho da paz.

A Igreja Católica sente-se chamada a dar o testemunho humilde, mas concreto e eficaz, da caridade apresentado por Cristo. Onde uma pessoa sofre ali Cristo está presente. Não podemos nos recuar perante situações de dor, disse inúmeras vezes Francisco. Os conflitos, as guerras que continuam a semear morte deixem espaço ao encontro, e à reconciliação que traz a vida. Nunca devemos perder a esperança.

Os esforços do Papa Francisco pela paz e o bem da humanidade devem ser ouvidos e apoiados por todos, sem distinção de religião ou credo. Este é o único caminho para a paz.

Vivemos o período da Quaresma, e é um momento propício para recordarmos não somente das vítimas das guerras e conflitos, mas também daqueles que passam fome, necessidades, pedindo um espírito de “solidariedade fraterna”. A humanidade tem necessidade de justiça, de reconciliação, de paz. A Quaresma é um tempo propício para isso, um caminho de conversão. (Silvonei José)

 

 

 








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