"Mortes no Mediterraneo são intoleráveis", diz Dom Tomasi


Genebra (RV) – As mortes no Mediterrâneo são “intoleráveis”. Palavras do Observador Permanente da Santa Sé no Escritório da ONU em Genebra, Arcebispo Silvano Maria Tomasi, ao ser interpelado após as últimas tragédias verificadas com imigrantes no Canal da Sicília. A Europa deve investir mais para salvar vidas humanas – defende – mas também colocar em prática maior criatividade em pensar como enfrentar o fenômeno migratório, que tende a continuar. E mais, os líderes europeus devem sentir a responsabilidade também daquilo que acontece nas periferias do mundo. Sobre estas questões, Dom Tomasi falou aos microfones da Rádio Vaticano:

“As tragédias no mar se repetem em ritmo regular. Vemos que existe um problema de fundo, que nasce não somente da injustiça e das violências que levam estas pessoas a emigrar, mas também da incapacidade por parte da comunidade internacional em assumir estas situações com coragem, buscando soluções que sejam respeitosas pela dignidade das pessoas e pela vida humana. É necessário empenhar-se em uma ação necessária: entre o valor da vida e a economia de programas reduzidos a monitoramento ou de assistência no mar, devemos dar prioridade absoluta à salvação de vidas humanas. Depois, vem a questão de salvaguardar as fronteiras dos prórpios países. Para mim, parece ser muito ineficiente a iniciativa “Triton”, que a União Europeia desejou para substituir o programa “Mare nostrum”, que a Itália havia levado em frente com grande eficácia e na direção do direito da ética com o qual deveríamos analisar estes problemas. Será necessário implementar corredores humanitários, para que não haja o risco de cair nas mãos dos traficantes, o que acaba levando a tragédias que conhecemos. Não só, mas também usar, no interesse da própria Europa, a presença destas pessoas que chegam, dando a elas a possibilidade de uma educação, de uma formação profissional de modo que depois não se acumulem todos na Itália ou na Grécia, mas que possam ir àqueles países onde existe necessidade de mão-de-obra. Certamente, não são soluções simples, requerem investimentos econômicos, requerem fantasia política. Mas diante do repetir-se destas tragédias no mar não se pode ficar indiferentes”.

RV: Portanto, Dom Tomasi, o senhor fala da necessidade de se disponibilizar mais recursos para a emergência, para o socorro, mas também que é necessário pensar globalmente sobre este fenômeno migratório, que está destinado a continuar...

“Os fluxos migratórios da África e do Oriente Médio continuarão. Portanto, é necessário se programar não para a emergência, mas para o longo período, por meio de medidas que sejam eficazes e legais. A responsabilidade da comunidade internacional é a de mostrar uma solidariedade eficaz, que possa garantir a prevenção destas viagens que levem sempre mais a perda de vidas humanas de uma forma realmente intolerável”.

RV: Eis, portanto, uma palavra importante: prevenção. Porque muitos dizem que não é possível permitir que todos venham para a Europa....

“Certamente. Resolver o problema pela raiz quer dizer também dialogar com os países de origem. Porém, se pensarmos à situação política, por exemplo, da Líbia, que é uma situação de desordem extrema, torna-se para eles uma tentação muito normal arriscar até mesmo a vida para sair desta situação de dificuldade. A comunidade internacional, por meio da Organização Internacional para as Migrações, do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, procura dar respostas concretas, procurando estar presente nos pontos de partida para fazer de modo que seja evitada a exploração destas pessoas por parte dos traficantes. Porém, estamos ainda em um momento de recursos limitados, mas sobretudo, talvez, falta aquela vontade política que sente como uma responsabilidade não somente os benefícios imediatos de preservação do bem-estar que temos, mas também uma solidariedade que se estenda às periferias desta humanidade desesperada, que busca um caminho novo para recomeçar do início”. (JE)

 








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