Dom Menichelli: não trair a verdade, exercer a misericórdia


Cidade do Vaticano (RV) - Entre os novos 20 cardeais que serão criados este sábado pelo Papa Francisco encontra-se o arcebispo de Ancona – região italiana das Marcas –, Dom Edoardo Menichelli. Entrevistado pela Rádio Vaticano, o futuro purpurado nos diz com quais sentimentos está para viver este evento:

Dom Edoardo Menichelli:- “Com sentimentos contrastantes: por um lado, alegria, contentamento, surpresa; por outro lado, porém, uma grande interrogação, ou seja, por que isso? Sem ênfase de nenhum tipo, a pergunta mais simples é: o que Deus quer de mim? Porque creio que no espírito eclesial que devemos viver, todo batizado – portanto, também um bispo, um cardeal – deve pensar que a cada chamado há uma resposta e há uma responsabilidade. Porém, isso, naturalmente, coloca sentimentos contrastantes no coração, que são a incapacidade de um lado, a boa vontade de outro, o desejo do Santo Padre...”

RV: O Papa chamou a atenção dos futuros cardeais para o perigo  do mundanismo, que – disse – é mais perigoso do que o álcool em jejum: para o senhor, bem como para os outros futuros cardeais, este é um período de festejos, de congratulações. Há esse risco?

Dom Edoardo Menichelli:- “No humano há sempre este risco. Sempre tive comigo uma ideia que me disse um dos muitos bispos que me seguiram na vida diocesana: Dom Frattegiani. Um dia, tomando-me pelo braço, me disse: “Recorda-te, Edoardo, que jamais existe domingo sem sexta-feira”. Então, creio que se deva colocar juntos – para além de expressões como esta, que é muito significativa – a fraqueza, o pecado, a vaidade e, de outro lado, o desejo de não cair nestas ciladas que fazem parte do humano, mas que não correspondem minimamente à figura do discípulo de Cristo.”

RV: O senhor participou do Sínodo extraordinário dedicado à família. Em outubro próximo se terá a etapa conclusiva, o Sínodo ordinário. O verdadeiro desafio é entre doutrina e misericórdia?

Dom Edoardo Menichelli:- “Creio que sim. Não sei se participarei do próximo Sínodo, porém, o desafio está aí: não trair a verdade, exercer a misericórdia. Tudo isso é possível se cada um de nós se dá conta e crê que verdade e misericórdia têm a mesma fonte, que é Jesus Cristo. Então, não creio que Jesus Cristo nos tenha oferecido algo que se anula. Entregou-nos algo – aliás, entregou-nos Ele mesmo – que, colocado junto, traz a salvação. Então, no tempo moderno, devemos oferecer a Palavra de Deus – eis então a verdade –, mas dentro de um percurso do humano, que necessita do perdão, da misericórdia, da ternura, da consolação. Este é o grande desafio e a grande fadiga. Aproveito: porém, ajudem-nos, também vocês, a fazer isso. No início da pergunta você me disse: é um desafio? Há quem vê uma espécie de alteridade: não é uma alteridade, devemos construí-la juntos. Devemos construí-la numa experiência que cada um de nós faz pessoalmente. Cada um de nós se espelha diante da Palavra de Deus e depois diz: mas... errei, peço perdão. Isso é o que devemos fazer. Para cada um de nós, pela nossa consciência, mas também em nossas relações pastorais.”

RV: O que o senhor sente pensando no fato que na lista dos novos 20 cardeais há somente 3 italianos? Significa sentir-se realmente, também como purpurados, inseridos numa Igreja que reflete a sua universalidade?

Dom Edoardo Menichelli:- “Com certeza! Talvez estivéssemos acostumados a sermos em número excedente... Na realidade, creio que a Igreja deva respeitar esta figura universal, em que uma Igreja que vive em Ancona é igual a uma Igreja que vive em Mianmar ou em qualquer outro lugar: devemos fazer e realizar isso, sempre.” (RL)








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