2015-02-09 11:48:00

Papa - urgente debruçar-se sobre questão culturas femininas


Concluiu-se sábado 7, com uma audiência do Papa, a Assembleia plenária anual do Conselho Pontifício para a Cultura. O tema escolhido para os 4 dias de reflexão foi “ As culturas femininas: entre igualdade e diferença”.  O intento é procurar compreender o que significa culturas femininas hoje e, paulatinamente, encontrar as vias para um equilíbrio no que toca às igualdades e diferenças entre o homem e a mulher na sociedade e na Igreja.

Conforme explicou o Cardeal Ravasi, Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, mais do que culturas femininas, trata-se de compreender  o “olhar” das mulheres sobre o mundo, pois que não há diferenças substanciais entre o homem e a mulher em termos antropológicos, mas sim atitudes diferentes.

Por sua vez uma das peritas convidadas, diria em conferência de imprensa precedente aos trabalhos, que se trata de compreender que espaço tem hoje a mulher na Igreja; que tipo de mulher é necessário à Igreja de hoje; as mulheres fogem da Igreja, como já se diz em relação a algumas sociedades, como em Itália, por ex.?

Para o debate em Assembleia foi previamente elaborado, por membros do Dicastério e um grupo de mulheres ocidentais, um documento, uma espécie de instrumento de trabalho articulado em quatro pontos: igualdade e diferença, generatività, corporeidade e relação da mulher com a religião.

Temáticas, aliás, enfrentadas também pelo Papa Francisco no discurso que dirigiu aos participantes na Assembleia…O Santo Padre começou por dizer que é um tema que lhe está muito a peito…

“O assunto que foi escolhido me está muito a peito e já em diversas ocasiões tive maneira de o tocar e de convidar a aprofundá-lo. Trata-se de estudar critérios e modalidades novas a fim de que as mulheres não se sintam hóspedes, mas plenamente partícipes dos vários âmbitos da vida social e eclesial.  A Igreja é mulher. É a Igreja, não o Igreja! Este é um desafio que já não se pode adiar. Digo-o aos Pastores da comunidade cristã, aqui em representação da Igreja universal, mas também às leigas e aos leigos  empenhados de várias formas na cultura, na educação, na economia, na política, no mundo do trabalho, nas famílias, nas instituições religiosas”.

O Santo Padre disse depois que as temáticas escolhidas para o debate lhe permitiam indicar um itinerário, algumas linhas de orientação para desenvolver este empenho em todo o mundo, no seio de todas as culturas, em diálogo com as várias religiões. E no que toca à primeira temática “entre igualdade e diferença: à procura de um equilíbrio” disse:

“Este aspecto não deve ser enfrentado ideologicamente, porque a “lente” da ideologia impede de ver bem a realidade. A Igualdade e a diferença das mulheres - como de resto dos homens – percebem-se melhor numa perspectiva do com, de relação, mais do que com o do contra. Há muito que deixamos para trás, pelos menos nas sociedades ocidentais, o modelo da subordinação social da mulher ao homem, um modelo secular que, no entanto, não desapareceu completamente no que toca aos seus efeitos negativos. Ultrapassamos também o segundo modelo, o da pura e simples paridade, aplicada mecanicamente, e da igualdade absoluta. Configurou-se assim um novo paradigma, o da reciprocidade na equivalência e na diferença. A relação homem-mulher deveria, portanto, reconhecer que ambos são necessários na medida em que possuem, sim, uma idêntica natureza, mas com modalidades próprias. Uma é necessário ao outro, e vice-versa, a fim de que se realize verdadeiramente a plenitude da pessoa.”

Quanto ao segundo tema, o da “generatividade”, entendido como código simbólico, o Papa disse:

“Ela alarga o olhar intenso a todas as mães, e alarga o horizonte à transmissão e à tutela da vida, não limitada à esfera biológica que poderíamos sintetizar em volta de quatro verbos: desejar, dar à luz, cuidar e deixar ir”

Neste âmbito o Papa recordou o contributo de tantas mulheres em diversos campos: educação, transmissão da fé, mas também actividades no sector económico e cultura, dizendo que as mulheres sabem encarnar o rosto tenro de Deus, a sua misericórdia que se traduz em disponibilidade para com o outro. Neste sentido descreveu a dimensão feminina como o “ventre acolhedor que regenera a vida”

No que toca ao “corpo feminino entre cultura e biologia”, o Papa afirmou que isto leva a pensar na “beleza e harmonia do corpo que Deus deu à mulher, mas também às dolorosas feridas que lhe são infligidas, por vezes com tremenda violência, só porque são mulheres. 

“Símbolo da vida, o corpo feminino é, infelizmente, não raro, agredido e deturpado também por aqueles que deveriam ser o seu custódio e companheiros de vida”

E aqui o Papa referiu-se às “diversas formas de escravidão, de mercantilização, de mutilação do corpo das mulheres” que – disse -  nos comprometem a trabalhar para derrotar esta forma de degradação que o reduz a um puro objecto de venda nos vários mercados”.

E chamou atenção sobretudo em relação às mulheres pobres…

“Desejo chamar à atenção, neste contexto, para a dolorosa situação de tantas mulheres pobres, obrigadas a viver em condições de perigo, de exploração, relegadas às margens das sociedades e vítimas de uma cultura do descartável.”

Finalmente, no capítulo “mulheres e religiões: fuga ou procura de participação na vida da Igreja?” , o Papa disse que os crentes são aqui interpelados de modo particular. E acrescentou:

“Estou convicto da urgência de oferecer espaços à mulher na vida da Igreja e de acolher, tendo em conta as específicas e mudadas sensibilidades culturais e sociais. É desejável, portanto, uma presença feminina mais ramificada e incisiva nas comunidades, de modo que possamos ver muitas mulheres envolvidas nas responsabilidades pastorais, no acompanhamento de pessoas, famílias e grupos, assim como na reflexão teológica.”

Por fim, o Papa Francisco recordou “o papel insubstituível da mulher na família e encorajou a presença eficaz das mulheres na esfera pública, no mundo do trabalho e nos locais onde são adoptadas as decisões mais importantes, sem transcurar a sua especial presença na família e nem deixá-las sós a carregar esse peso.

“Todas as instituições, inclusive a comunidade eclesial, são chamadas a garantir a liberdade de escolha para as mulheres, para que tenham a possibilidade de assumir responsabilidades sociais e eclesiais, num modo harmónico com a vida familiar.”

E o Papa rematou com estas palavras:

“Caros amigos e caras amigas, encorajo-vos a levar avante este empenho, que confio à intercessão da Beata Virgem Maria, exemplo concreto e sublime de mulher e mãe. Peço-vos por favor que rezem por mim e de coração vos abençoo








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