Editorial: Lições de vida


Cidade do Vaticano (RV) – Não mudaremos se não mudarmos a educação e para fazer isso é preciso construir pontes: essa é uma das afirmações que o Papa Francisco fez na tarde da última quinta-feira na Sala do Sínodo no Vaticano, em videoconferência com jovens portadores de deficiências coligados de várias partes do mundo, para o encerramento do IV Congresso Mundial “Scholas Occurrentes. Essa é uma rede internacional de escolas, que nasceu na Argentina por desejo do então Arcebispo de Buenos Aires Jorge Mario Bergoglio; hoje conta 400 mil institutos, espalhados nos 5 continentes. Em comum, o esporte a ciência e a tecnologia.

Tivemos a impressão vendo o que ocorreu na Sala do Sínodo, de ter visto Bergoglio retornar ao seu passado recente de Pastor da capital argentina, e de vê-lo mergulhar naquelas situações que tanto ele ama, e que enche seu coração de alegria: o contato com as pessoas, com as crianças, “com os últimos”.

Francisco usou as novas tecnologias para entrar nas realidades dessa rede de educação em vários países, entre os quais o Brasil. Ele que é “analfabeto digital”, como ele mesmo disse, respondendo a uma menina que perguntava de seu computador. Mas isso não foi e não é barreira para o “homem que veio do fim do mundo” entrar neste mundo onde os jovens se fazem cada vez mais presentes. As novas tecnologias são grandes instrumentos para realizar grandes coisas, e foi isso o que o Papa fez.

Francisco então pediu aos jovens e adolescentes coligados - muitos da Argentina, Espanha, Estados Unidos, Moçambique, Brasil e Índia – que não se amedrontem diante das dificuldades, porque “somos capazes de superar tudo. Precisamos somente de tempo para procurar e encontrar o caminho”. A frase foi uma resposta a uma pergunta feita por um menino do Alasca (EUA) que queria saber como o Papa se comportava diante de problemas. “Não se irrite, fique tranquilo e então descubra o modo de superá-los. Mas nunca, nunca sinta medo”.

Nesse coral de vozes estava também um adolescente brasileiro, Pedro, de 12 anos; ele não tem uma das mãos e gosta de jogar futebol como goleiro. Ele falou ao Papa que também, como Francisco é fã de futebol. “Gosto de jogar no gol”, disse. “É a posição que mais me diverte. E o Papa “aproveitou a bola da vez” e perguntou: “E o que você sente quando toma um gol?”. “Sinto-me feliz por estar com meus amigos praticando um esporte”. O pontífice então disse ao brasileiro que ele está “dando uma lição”. “Não importa ganhar, mas jogar e estar com os amigos”.

O Papa saiu do mundo do Vaticano e através da grande avenida da internet girou o globo em poucos segundos para falar com jovens que portam no seu corpo deficiências, mas não por isso são menos jovens ou se sentem inferiores; eles são como “um tesouro” para a sociedade. O próprio Francisco na sua reflexão definiu o contorno desses tesouros afirmando que eles ajudam a compreender que a vida é um tesouro bonito.

E o sentido primeiro é a partilha com o outro, uma partilha que se multiplica. “Todos temos um cofre, uma caixa onde guardamos um tesouro”. O convite do Papa é para que ninguém esconda o tesouro que possui.

Entre os vários temas abordados por Francisco está um que seguidamente notamos em seus discursos: construir pontes para não viver sozinho. Na conversa com adolescentes de 12 e 13 anos com problemas motores, de comunicação ou com síndrome de Down, Francisco disse que os jovens precisam sempre se comunicar. “Quando não comunicamos, ficamos sozinhos com as nossas limitações, e isso nos faz mal”, alertou. Convidou então todos a procurarem na sua história a "beleza" que funda cada país, na arte, na música, na cultura, para ajudar as crianças a construir um novo futuro.

As mãos abertas em direção da tela do computador que saúdam, os rostos que exprimem alegria e gratidão ao Papa, e Francisco que acena, sorri e abençoa, é a fotografia cheia de força que ficará indelével impressa na memória e no coração daqueles que participaram deste evento singular. As barreiras da distância, do tempo foram ultrapassadas e jovens portadores de deficiências estiveram, ali, idealmente, ao lado o Sucessor de Pedro, conversando, como se conversa com um pai, um avô, um irmão. Com alguém que está ali por causa deles, fazendo-os se sentirem importantes, e que na verdade o são. Contaram suas histórias difíceis, de uma vida com certas limitações, mas não por isso, derrotados, e jamais “desanimados”.

Essas são lições de vida, que através do encontro com o Papa nos trazem experiências que nos ajudam a entender qual é realmente o sentido da nossa existência. Cada um tem um tesouro dentro, devemos tirá-lo fora e fazer crescê-lo, compartilhando com o próximo. Obrigado Francisco e jovens do mundo inteiro por mais esta lição de vida. (Silvonei José)








All the contents on this site are copyrighted ©.