Arcebispo de Aleppo: somente o perdão trará a paz de volta


Cidade do Vaticano (RV) - O dúplice atentado que atingiu o centro de Bagdá nesta sexta-feira deixou ao menos 44 mortos e 70 feridos. É o que informa a agência de notícias local “al Sumaria”, segundo a qual entre as vítimas estariam vários agentes de polícia e militares do exército.

Enquanto isso, na Síria – segundo refere o Observatório sírio – 350 vilarejos aos arredores de Kobane, cidade de maioria curda, encontram-se ainda nas mãos do Estado islâmico.

Sobre a situação atual na Síria a Rádio Vaticano ouviu o arcebispo de Aleppo dos Armênios Católicos, Dom Boutros Marayati. Eis o que disse:

Dom Boutros Marayati:- “A situação está piorando, porque as condições de vida são muito dramáticas, caminharam cada vez mais para trás... Durante o dia temos uma hora de eletricidade e de luz e uma hora para termos um pouco de água. Por vezes não temos nem eletricidade nem água... O alimento é escasso e neste inverno tão rígido falta até combustível, não se tem nada para aquecer-se: você vê as crianças, o povo, os idosos que estão sempre ali, enrolados em cobertores... antes não era assim. O governo lança barris na parte ocupada pelos jihadistas, e estes, por sua vez, lançam foguetes e morteiros na parte controlada pelo governo. Nesta parte estamos nós, estão os bairros cristãos e recebemos esses morteiros. Na última vez, tenho aqui comigo as fotos, foi atingida a minha catedral, bem como outras igrejas... Por isso, não podemos dizer que a situação se acalmou. Pelo contrário, tornou-se ainda mais dramática. E o povo começa a fugir e há um êxodo ainda maior do que antes: antes ainda esperavam uma solução, mas veem que nada muda.”

RV: Trata-se de uma situação de grande caos, causada por vários grupos de rebeldes...

Dom Boutros Marayati:- “Isso é verdade. Não há um grupo de rebeldes, mas são vários grupos e isso não nos ajuda a chegar a um diálogo, porque para haver um diálogo é necessário ter alguém com quem falar... Creio que agora também os rebeldes, aos poucos, estejam se organizado para ter um porta-voz, para ter alguém que possa falar em nome deles. Mas – como dizia –, realmente, são muitos, variados grupos e não sabemos quem sequestrou quem, em qual região os bispos se encontram, em qual lado, sob o controle de quem... E esse é mais um drama que não ajuda a retomar este processo de paz.”

RV: Diante desta situação que se arrasta há anos, o povo cansado com tudo isso tem certamente um grande desejo, uma grande vontade de normalidade...

Dom Boutros Marayati:- “Em geral, esse é o nosso sonho, esse é o nosso desejo. É algo que cremos com todo o coração, mas sentimos que a nossa voz clama no deserto: ninguém pode ajudar-nos e não se dá um passo, porque há os grandes governos, os grandes poderes que estão ali fazendo o jogo. Portanto, deveria haver um entendimento entre eles, entre os grandes poderes para se chegar a algum lugar. Se não houver acordo entre os grandes poderes – entre a ONU e os grandes países – continuaremos na mesma situação, sem dar nenhum passo adiante.”

RV: Qual tem sido o papel da Igreja neste momento? De que modo a Igreja tem ajudado aqueles que sofrem?

Dom Boutros Marayati:- “A Igreja tornou-se um lugar para ajudar o povo, para a solidariedade. A Igreja tornou-se uma grande ‘Caritas’... Não precisam somente de lições de moral, de orações, mas precisam de tudo! Toda igreja e todo arcebispado abriu um centro de acolhimento e de ajuda, sem nenhuma discriminação: há muçulmanos, ortodoxos e protestantes... estamos abertos a todos para ajudar este povo neste momento. Não mais vêm até anos somente para as coisas pastorais ou religiosas ou canônicas, o arcebispado tornou-se um centro de acolhimento e de ajuda.” (RL)








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