Dom Romero: ex-secretário fala sobre o martírio


Roma (RV) – “Plasmar dia por dia a própria vida com o Evangelho é o segredo de todos os mártires”. Dom Oscar Arnulfo Romero fez isso: palavra de Mons. Jesus Delgado, Secretário pessoal do então arcebispo de San Salvador, assassinado enquanto celebrava a Eucaristia em 24 de março de 1980. É um dos trechos de destaque de um amplo artigo do último número da revista “Credere” dedicada a Dom Romero, poucos dias após a notícia do reconhecimento oficial do martírio do bispo que, com toda probabilidade, irá acelerar o caminho da causa de beatificação, da qual Mons. Delgado, vigário da Arquidiocese de San Salvador, é co-promotor.

Que Dom Romero foi morto “in odium fidei” já tinha sido afirmado por João Paulo II em 2003, encontrando em Roma – durante uma visita “ad Limina” – os bispos salvadorenhos. Na entrevista que Delgado deu a “Credere” aparecem outros particulares interessantes, começando por alguns aspectos muito humanos do prelado: “Uma noite – informou o então secretário – Dom Romero me confiou ter medo da Guarda Nacional e que tinha dificuldade em aceitar uma morte violenta, como Jesus no Jardim das Oliveiras. Disse: ‘Tenho muito medo, mas a Palavra de Deus é mais forte’”.

Ainda, Mons. Delgado afirma ter ouvido Dom Romero afirmar: “E mim tocou a sorte de ser pastor reconhecendo cadáveres”. A consciência da difícil situação do País, no entanto, dava a Romero uma força particular. “Quando, no domingo, a homilia chegava pelo rádio a todo o País – sublinha Delgado – sua voz se transformava, quase gritava com amor, como um profeta”.

No entanto, insiste o ex-secretário, o arcebispo era uma pessoa normal: “Gostava de contar piadas, comer a comida das pessoas comuns, em especial as popusas, tortas salgadas de fubá recheadas”. Dom Romero – continua “Credere” – gostava de ir ao circo e ao cinema, que estava fora de El Salvador. Caso contrário se contentava com alguns momentos de Tv em sua casa.

Do artigo aparece outro particular que ilumina o delicado período político e eclesial em que DomRomero foi protagonista. Lembra Delgado: “Padre Rutilio e o reitor da Universidade do Centro América (Uca), Ignácio Ellacuria, ambos jesuítas, foram protagonistas de uma intensa discussão: o reitor afirmava que era preciso investir na evangelização dos ricos, a futura classe dirigente, enquanto Padre Rutilio convidava a procurar os pobres para que evangelizassem a si mesmos”. O assassinato de Padre Rutilio, que estava ao lado dos camponeses pobres, “marcou profundamente Romero, que – contou tempos depois – olhando-o morto, pensou: ‘Se o mataram por causa de seu trabalho, então eu devo seguir o mesmo caminho’”.

O testemunho de Mons. Delgado termina com um apelo de particular intensidade. Consciente do risco que a figura de Dom Romero seja transformada em ícone, o ex-secretário convida os fiéis a recolher a mensagem profunda do martírio do arcebispo e a vivê-la na normalidade da vida: “Não é suficiente emoldurar sua foto num quadro, é preciso viver sua mensagem todo dia, resistir ao mal é um exercício cotidiano”. (SP- Gaudium Press)








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