Pe. Spadaro: católicos são ponte de paz entre cingaleses e tâmeis


Colombo (RV) - O Papa Francisco quis visitar o Sri Lanka para confirmar os católicos na fé, mas também para relançar o papel deles numa sociedade em busca da paz: é o que afirma o diretor da revista jesuíta “La Civiltà Cattolica”, Pe. Antonio Spadaro, que faz parte da comitiva papal. A entrevista é do colega Silvonei José:

Pe. Antonio Spadaro:- “Certamente confirmar os católicos na fé, mas também confirmar o desejo dos católicos de ser ponte nesta sociedade, ponte de reconciliação. O cristianismo é interessante neste país, porque são cristãos tanto os cingaleses quanto os tâmeis. Existem, portanto, entre os cristãos, as duas etnias, que muitas vezes estiveram em conflito entre si: a cingalesa budista, substancialmente, e a tâmil hinduísta. Houve fenômenos de violência muito fortes, como também uma intensificação do nacionalismo por parte dos cingaleses. A Igreja é uma ponte natural e o Papa quer confirmar a Igreja como ponte natural, elemento de reconciliação no seio desta sociedade.”

RV: Podemos dizer que o Papa é muito amado e que no Sri Lanka não somente os católicos e os cristãos em geral, mas também os budistas veem n’ele a simplicidade e a humildade...

Pe. Antonio Spadaro:- “O que posso dizer, após ter caminhado por aqui nestes dois dias, é que há propriamente uma relação de simpatia, definiria assim. Há uma simpatia a priori em relação a este Papa que, por assim dizer, é paradoxalmente confirmada também pela hostilidade de pequenos grupos nacionalistas, sobretudo, porque veem nesta visita do Papa um perigo, isto é, o perigo da reconciliação, que eles não querem. Então todo o povo que quer a paz, que quer viver bem, que sente que este povo, inclusive após as recentes eleições, deve trilhar num caminho de reconciliação, este povo vê a presença do Papa com simpatia. Portanto, evidentemente, o que prevalece nesta sociedade é o desejo de unidade.”

RV: Os votos do Santo Padre é de que estes dias de sua visita sejam dias de amizade, de cooperação, de unidade...

Pe. Antonio Spadaro- “Sim, o grande valor que o Papa Francisco vive não é tanto a diplomacia, embora seja muito bravo também nisso, mas é a amizade. Segundo Francisco, as relações nascem se há uma autenticidade de relação. Então vemos que o coração do Papa bate diante das pessoas, não tanto diante dos problemas e das tensões. Ele tem consciência dos problemas e das tensões, mas sabe que elas poderão ser superadas somente se houver uma amizade real entre as pessoas e os povos, inclusive de credo diferente.”

RV: Em seu primeiro discurso o Papa citou também o horror da guerra civil...

Pe. Antonio Spadaro:- “Na realidade, diria que esta viagem foi precedida do discurso ao Corpo Diplomático, que foi um discurso extraordinário, de grande amplidão, no qual observou que no mapa mundi existem lugares de tensão onde se vivem situações até mesmo de horror e de conflito. Esta terra viveu isso, de certo modo ainda está vivendo e, por isso mesmo, o desejo que emerge deste povo é um desejo renovado de reconciliação, onde – como disse neste seu primeiro discurso, assim que chegou ao aeroporto – as diferenças são importantes: não são uma ameaça, mas são – se reconciliadas – uma riqueza, uma fonte de enriquecimento.”

RV: Quanto aos frutos desta viagem, quais são seus votos?

Pe. Antonio Spadaro:- “Que esta sociedade composta por cingaleses – em 70%, por hindus – em 12%, por muçulmanos – em 9%, e por cristãos – em 7% - possa ser uma sociedade unida, sobretudo porque é uma sociedade jovem.” (RL)








All the contents on this site are copyrighted ©.