Direto de Colombo: a fé do povo e a devoção mariana do Papa


Colombo (RV) – Esta quarta-feira, (14/01), marca o segundo dia do Papa Francisco em terras do Sri Lanka. Após a grande acolhida de ontem com milhares de pessoas que se acotovelaram ao longo as estradas e ruas para ver e saudar o Papa, hoje dois momentos cheios de emoção. Na parte da manhã já tivemos a canonização de José Vaz, o Apóstolo do Sri Lanka. Em um país com somente 6% da população católica e de maioria budista vimos a presença no Galle Face Green de Colombo de mais de 500 mil fiéis. Num cenário a beira-mar, - que viu chegar as ondas do tsunami de 2004 que no país causou mais de 30 mil vítimas - as bandeiras brancas e amarelas do Vaticano dançaram com a brisa que amenizou um pouco o forte calor de mais de 30 graus. A Santa Missa teve início às 8h30, hora local, justamente para amenizar as temperaturas que se vivem aqui em Colombo e que tocam os 31 graus.

Fé e devoção

Os fiéis, provenientes de toda a Colombo e de várias partes do país, inclusive da Índia e Goa, iniciaram a chegar nas primeiras horas do dia, - muitos dormiram nas ruas de acesso ao local - para por volta das 7h10 acolher o Santo Padre que, no papamóvel, passou por entre os fiéis para saudá-los e abençoá-los antes do início da Santa Missa. Nos rostos das pessoas simples pudemos notar a grande alegria de poder ver e viver esse momento com o Sucessor de Pedro. Um evento único, nos disse um sacerdote que trouxe 11 ônibus de fiéis da sua paróquia, “porque não podemos ir a Roma ver o Papa e os nossos meios de comunicação não falam muito de Francisco. Agora temos ele aqui e estamos felizes”.

A cerimônia – concelebrada por mais de mil sacerdotes - foi um abraço ideal do povo católico que é chamado a ser ponte dentro de uma sociedade que cura suas feridas e enxuga as lágrimas dos sofrimentos vividos. A homilia do Papa, proferida em inglês, como toda a missa celebrada nesta língua, foi sintetizada nas línguas, tâmil e cingalês.

Memória Histórica

Recordamos que José Vaz foi beatificado neste mesmo local pelo Papa João Paulo II 20 anos atrás precisamente no dia 21 de janeiro de 1995. O sacerdote, que nasceu em Goa em 1651 chegou como missionário durante a perseguição holandesa e ajudou a construir a Igreja neste país. No dia 17 de setembro de 2014, o Papa Francisco aprovou a canonização de José Vaz sem a necessidade de um segundo milagre. Esta é uma potestade que só o Santo Padre tem e que já usou com outros santos como São José de Anchieta. No final da missa o Papa recebeu do Arcebispo de Colombo, Cardeal Ranjith, 70 mil dólares, oferta dos fiéis ao Santo Padre. “Nós somos um país pobre, mas queremos contribuir à caridade do Papa”, disse.

Já Francisco doou à Igreja do Sri Lanka a replica em cobre do Documento emanado pelo Rei Keerthi Sri Rajasinghe de Kandy declarando que não era mais proibido aos budistas se converterem ao cristianismo. Era o ano de 1694. O documento original foi doado ao Papa Leão XIII pelo então Arcebispo de Colombo, Dom Christopher Bonjean.

Devoção Mariana

No início da tarde de hoje o Papa Francisco deixa Colombo em direção ao norte, Madhu, região predominantemente tâmil, onde se encontra o Santuário de Nossa Senhora do Rosário. As origens deste local de culto remontam ao ano de 1544 quando o Rei de Jaffna, Sankili, ordenou o massacre de 600 cristãos de Mannar, que tinham sido convertidos pelos portugueses que chegaram ao então Ceilão em 1505.

Os holandeses, que desembarcaram no Ceilão em 1656, iniciaram uma violenta perseguição dos católicos. Trinta famílias católicas procuraram refúgio de vilarejo em vilarejo levando consigo a estátua de Nossa Senhora, estabelecendo-se em 1670 em Maruthamadhu, lugar onde atualmente se encontra o Santuário.

O Santuário mariano de Madhu é desde sempre um lugar de oração respeitado e frequentado por fiéis católicos e de outras religiões. Apesar disso, a área do Santuário esteve envolvida nos conflitos entre os rebeldes tâmil e as forças do governo. Os bispos do país conseguiram fazer de Madhu uma área desmilitarizada, garantindo a segurança dos peregrinos e dos numerosos refugiados que, com o passar dos anos se refugiaram na região, para fugir da guerra. A área circunstante do Santuário acolheu milhares de pessoas que fugiam dos conflitos tornando-se um campo de refugiados reconhecido pelas partes em luta. Em abril de 2008 o Santuário foi entregue à Diocese de Mannar e reaberto ao culto em dezembro de 2010. Está prevista a presença no Santuário de 500 mil pessoas que rezarão, com o Papa, a Nossa Senhora pedindo paz e unidade para o país. Presentes também uma representação de famílias tâmil e cingalesas duramente provadas pelos conflitos entre ambas as partes. Segundo um sacerdote que trabalhou nesta região durante o conflito os fiéis mesmo diante de todo o sofrimento, jamais se sentiram órfãos de Deus. Por isso o Santuário é um símbolo da reconciliação nacional.

 

Dos estúdios da Rádio Vaticano em Colombo, Sri Lanka, Silvonei José.

 








All the contents on this site are copyrighted ©.