Maioria dos muçulmanos são moderados, afirma sacerdote libanês


Beirute (RV) – Os ataques de radicais islâmicos em Paris, repropõe com força a questão da relação entre cultura ocidental e mundo islâmico, que aparece sempre mais dividido entre moderados e fundamentalistas. A Rádio Vaticano entrevistou o sacerdote Samir Khalil Samir, Docente de História da Cultura Árabe e Islamologia, na Universidade Saint Joseph, de Beirute:

“Existem, certamente, os muçulmanos moderados e são a maioria. E a maioria dos muçulmanos gostaria de viver em paz com todos. Mas existe um problema, porque o Islã em si mesmo é dividido em grupos opostos, e frequentemente em toda a história islâmica e também nos dias de hoje, os muçulmanos quando não estão de acordo, reagem com a guerra. De fato, o Estado Islâmico usa a violência contra os xiitas, contra outros grupos muçulmanos, sem distinção, sem piedade. Então, eu diria que aquilo que aconteceu na França não tem nada a ver com o Islã, não é o verdadeiro. Mas eu diria que estes são extremistas, isto é verdade. E grande parte, a maioria dos muçulmanos – penso – não é favorável a isto, mas não ousa criticar. Se diz frequentemente: a violência não faz parte do Islã e portanto estes muçulmanos violentos não são autênticos muçulmanos. Devo afirmar: infelizmente não é a realidade, porque no Alcorão mesmo temos versículos que dizem: “matem aonde os encontrarem, tratando-se de infiéis”, isto é, de quem não aceitou tornar-se muçulmano. Quando os muçulmanos dizem e repetem – e o fazem sempre, cada vez que tem um ataque – “isto não tem nada a ver com o Islã”, é um jogo de palavras inaceitável. Por que? Porque quem o faz, não  o faz enquanto um indivíduo qualquer, mas o faz em nome do Islã”.

RV: O Ocidente é um objetivo do fundamentalismo islâmico, mas tem também quem sustenta que é um ataque contra a civilização. Em particular, com o atentado ao “Charlie Hebdo”, vimos violada a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, de pensamento. Por que isto?  

“Até um ou dois séculos atrás, o Ocidente era visto positivamente, porque levava a tecnologia, a modernidade, etc e era crente, considerado pelos muçulmanos como cristão. Nos dias de hoje, é óbvio que o Ocidente não se considera, antes, rejeita considerar-se como cristão – mesmo a União Europeia rejeitou colocar na sua Carta até mesmo que é de origem cristã – e assim nos fatos, os muçulmanos, com razão, dizem: o Ocidente é um neo-paganismo e não tem regras de crente. E assim identificaram sempre mais o Ocidente com o inimigo: inimigo de Deus, inimigo da religião.... e isto é muito difundido entre os grupos fundamentalistas. Portanto, a luta contra o Ocidente é uma luta contra o neo-paganismo, enquanto a maioria dos muçulmanos diz: “Não, fazemos a distinção. Certos aspectos da vida moderna, como a igualdade entre homem e mulher, a distinção entre a religião e a política, são coisas boas. Ao contrário, o uso de armas é uma coisa moderna mas ruim”. Já os fundamentalistas colocam tudo no mesmo saco: Ocidente = ex-cristão = pagãos = modernidade, portanto, a modernidade é pagã, devemos lutar contra os inimigos de Deus”.

RV: Como se vence o terrorismo? Qual poderia ser a solução?

“Existe um problema de educação, de reflexão, algo que falta, no dia-a-dia, no mundo muçulmano. É necessário, o diálogo! Outro aspecto é o de ajudar os muçulmanos a fazer uma auto-crítica, a rever o seu modo de agir e de pensar. Por fim, no fundo no fundo, trata-se de repensar o texto do Alcorão. O texto não pode ser tocado, como na Bíblia. Mas a interpretação do texto é uma necessidade, isto é, situar este texto em seu contexto histórico”. (JE)

 








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