Bispos brasileiros no Concílio: As Conferências na Domus Mariae


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso Espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar, na edição de hoje, das Conferências na Domus Mariae.

Nos programas anteriores, já havíamos falado da relação entre o Episcopado brasileiro e a Domus Maria, um espaço privilegiado, localizado ao lado do Colégio Pio Brasileiro, em Roma. No programa de hoje, vamos continuar a percorrer este capítulo da história do Concílio Vaticano II, auxiliados pela tese do Padre José Oscar Beozzo, Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II, onde, de forma cuidadosa e articulada, ele nos trás detalhes dos bastidores do evento Conciliar.

Durante a primeira sessão do Concílio, Dom Helder Câmara convidou alguns peritos e padres conciliares, para falar aos bispos brasileiros, geralmente sobre os temas debatidos na Aula Conciliar. No total foram 11 conferências: três do Prof. Hans Küng, nascido na Suiça mas professor na Universidade de Tübingen, na Alemanha; quatro pelos Cardeais  Giacomo Lercaro, Arcebispo de Bolonha, Augustin Bea, Presidente do Secretariado pela Unidade dos Cristãos, Ernesto Ruffini, Arcebispo de Palermo e Leo Suenens, Arcebispo de Malines- Bruxelles; duas por Bispos brasileiros: Dom Clemente Isnard e Dom Aloísio Lorscheider e duas por franceses: Jacques Martimort, do Centre de Pastoral Lithurgique de Paris, e Roger Schutz com Max Thurian, monges da Comunidade de Taizé e observadores protestantes no Concílio.

No início do Concílio, Dom Helder Câmara conheceu os dois monges franceses, tendo contato assim com o universo evangélico como era vivido em Taizé. Sobre esta descoberta e a relação de amizade estabelecida, ele conta:

“Hoje estive com Roger e Max, protestantes da Comunidade religiosa de Taizé (lembram-se do disco na casa de Carlinda, na noite de despedida?). Duas simpatias. Roger, muito moço, é o mestre; Max, o discípulo. Roger, que é suiço, no fim da guerra, veio estabelecer-se no sul de Paris, na Diocese de Autun. Ocupou antigo templo católico abandonado e começou a receber (na linha espiritual de um Peyriguère ou de um Foucauld), os refugiados de todas as raças e de todos os credos. Terminada a guerra, foi à Suiça e voltou com Max. Hojse, são 52 jovens monges protestantes, 8 são pastores. Crêem na presença real de Jesus Cristo, celebram a Santa Missa. Confessam-se e os pastores dão a absolvição individual (como nós). Rezam o breviário. Querem permanecer na família protestante, preparando a união. Estão encantados com o Concílio. Se Deus quiser, na sexta-feira da outra semana, farão uma palestra para os Bispos da América Latina. Depois jantarei com eles (sempre se Deus quiser)”.

As “Conferências na Domus Mariae” acabaram tornando-se célebres nos ambientes conciliares, ganharam repercussão, chamaram a atenção da imprensa e incomodaram alguns dicastérios. Eram destinadas aos bispos brasileiros, mas abertas aos bispos e pessoas interessadas e proibidas aos seminaristas pelo cardeal Giuseppe Pizzardo, da Congregação dos Seminários.

Os conferencistas da Domus Mariae, estavam alinhados com a maioria conciliar, o que desagradava a Cúria Romana e parte do Episcopado brasileiro. Foram 80 conferências no total, 25 na segunda e na terceira sessão e 30 na quarta sessão. A última, com o tema “O Balanço do Concílio”, foi proferida pelo Cardeal Suenens em 6 de dezembro de 1965.

(Fonte:  Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II.  1959 – 1965. Pe. José Oscar Beozzo)

 








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