"Diálogo, único caminho para evitar a guerra", diz Cardeal Tauran


Cidade do Vaticano (RV) – “Chocados pelo odioso atentado” perpetrado em Paris, o Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran, e quatro Imames franceses em visita ao Vaticano, publicaram nesta quinta-feira uma declaração conjunta na qual condenam a tragédia  e reiteram a necessidade do diálogo entre pessoas de fés diferentes. O documento convida também os fiéis “a manifestarem a própria solidariedade humana e espiritual pelas vítimas e suas família através da amizade e da oração”.

A Rádio Vaticano perguntou ao Cardeal Tauran sobre o sentimento que experimentou ao saber do atentado em Paris:

“Obviamente, um profundo desgosto por este tipo de ação, de crime. Trata-se evidentemente de jovens completamente desviados. É terrível pensar que se possa  resolver os problemas com a violência e perpetrar estes atos de violência em nome de uma religião. Acredito que todas as liberdades estejam ameaçadas...”

RV: A visita ao Vaticano, dos quatro Imames franceses empenhados no diálogo inter-religioso, se desenvolveu neste clima. Foi assinada uma declaração comum...

“Naturalmente, estavam profundamente atordoados – como todos nós – por aquilo que aconteceu em Paris. Nestas circunstâncias, recordaram que o mundo está em perigo quando não é garantida a liberdade de expressão. Portanto, é imperativo opor-se ao ódio e a toda forma de violência voltada a destruir a vida humana, que viole a dignidade da pessoa e que mine a coexistência entre as pessoas e os povos. Nós dissemos que os responsáveis religiosos são chamados a promover, antes de tudo, uma cultura de paz e de esperança, capaz de vencer o medo, e de construir pontes entre os homens. Um aspecto que foi ressaltado na declaração é que – considerando o impacto dos meios de comunicação, como a televisão, em particular – os membros da delegação convidam os responsáveis pelos meios de comunicação social a oferecer uma informação respeitosa das religiões, dos seus adeptos e de suas práticas, para favorecer a cultura do encontro. E depois reiteramos que o diálogo inter-religioso permanece como o único caminho a ser percorrido para dissipar os preconceitos. Dois são os caminhos: o diálogo ou a guerra. Nós somos, por assim dizer, “condenados” ao diálogo”.

RV: O senhor pensa que o diálogo seja uma vontade geral, ou que – à exceção de alguns casos – se deva dialogar somente com algumas “exceções” ?

“Veja, eu acredito que como em todas as coisas, existe o bom e o ruim. A coisa particularmente importante, a prioritária, é a educação: a escola e a universidade. É necessário aprender a se conhecer reciprocamente, a compreender aquilo que o outro vive, em que acredita, quais são os seus valores, e isto supõe um longo caminho que se faz com a escola. Acredito muito no ensinamento da História na maneira mais objetiva possível, porque os problemas, os preconceitos, se escondem na ignorância”.

RV: Cardeal Tauran, o que o senhor gostaria de dizer àqueles muçulmanos que podem escutá-lo?

“Eu diria que é importante, nos sermões que são pronunciados nas mesquitas, que se incite sempre mais ao diálogo. De fato, a formação dos muçulmanos ocorre no momento das orações de sexta-feira e assim, este é o lugar e a ocasião em que se deve cultivar esta atenção ao encontro e ao diálogo. Desta forma, é necessário preparara bem os sermões...”.

Os Imames franceses, ao final da Audiência Geral de quarta-feira, encontraram o Papa Francisco que lhes desejou que prosseguissem com coragem o empenho “em favor da paz, da fraternidade e da verdade”. A Rádio Vaticano conversou com o Bispo de d’Evry-Corbeil-Essonnes, Dom Michel Dubost, Presidente do Conselho para as Relações Inter-religiosas da Conferência Episcopal Francesa:

“Foi algo maravilhoso ver o Papa pedir aos Imames franceses, em francês, “priez pour moi”, rezem por mim. Isto foi o mais importante. Segunda coisa: todo o dia de quarta-feira vivemos o drama do atentado de Paris e o vivemos junto com estes Imames, que foram atingidos como franceses, mas também como muçulmanos, acusados de fazer alguma coisa a favor da violência. Isto é horrível, porque são pessoas boas e as acusações são terríveis. Vivemos isto junto com eles, e para mim foi um momento muito importante”.

RV: Este drama, portanto, é a prova de que o diálogo inter-religioso, sobretudo entre os católicos e os muçulmanos, é cada vez mais importante...

“O diálogo é importante, Papa Francisco sempre disse isto. O diálogo entre católicos e muçulmanos é um exemplo para todos os diálogos que devem existir na sociedade”. (JE)

 








All the contents on this site are copyrighted ©.