Entrevista ao Cardeal Parolin sobre viagem do Papa ao Sri Lanka e às Filipinas


Cidade do Vaticano (RV) - Os pontos fortes da missão da Igreja no continente asiático são dois: “as atividades caritativas no campo da saúde e da educação”; e o diálogo entre as religiões que “é fundamental para a paz hoje no mundo e que, portanto, se torna um dever de todas as religiões”.

É o que afirma o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, em entrevista realizada pelo Centro Televisivo Vaticano (CTV) em colaboração com o jornal “L’Osservatore Romano” na vigília da viagem do Santo Padre ao Sri Lanka e às Filipinas, a realizar-se de 12 a 19 deste mês.

CTV: O Papa Francisco retorna à Ásia passados cinco meses da visita à Coreia do Sul, onde indicou no diálogo inter-religioso a primeira missão da Igreja no Continente. O senhor acredita que também nestes dois países tão diferentes entre si o Papa insistirá sobre este ponto?

Cardeal Pietro Parolin:- “A missão da Igreja nas Filipinas e no Sri Lanka é a mesma da Igreja no mundo inteiro: anunciar o Evangelho, proclamar a boa nova de Jesus que é fonte de vida e de esperança para todos os homens. Considerando, naturalmente, o contexto no qual ela vive e atua. Um contexto caracterizado por uma multiplicidade, quase de um mosaico de sociedades, de culturas e de religiões. O continente asiático é o berço das grandes religiões do mundo. Ademais, considerando o fato de a Igreja ser uma pequena minoria, um pequeno rebanho em meio a esta realidade tão vasta. E então também a missão deverá modular-se segundo estas características. Os pontos de força desta missão parecem-me ser dois: de um lado o aspecto das atividades caritativas e humanitárias no campo da saúde e da educação que gozam do grande apreço de toda a população e dos governos de vários países; e, de outro lado, o aspecto do diálogo inter-religioso: promover e consolidar sempre mais o encontro, o respeito e a aceitação recíproca, considerando também aquilo que o Papa diz na Evangelii gaudium, que o diálogo inter-religioso é fundamental para a paz hoje no mundo e que, portanto, torna-se um dever de todas as religiões. Este será um ponto nodal, focal da atenção do Papa durante a viagem.”

CTV: No Sri Lanka, infelizmente, as diferenças étnicas e religiosas continuam sendo motivo de tensão, tanto que no país se desenvolveu, inclusive, um fundamentalismo budista. Neste cenário complexo, qual é a missão, a tarefa dos cristãos?

Cardeal Pietro Parolin:- “Parece-me que se existe um lugar onde se deve falar de uma função de ponte, este lugar é justamente o Sri Lanka. E é propriamente na Igreja no Sri Lanka. Inclusive porque, nesta sua tarefa, a Igreja é facilitada pelo fato de acolher membros, fiéis de ambas as etnias principais, tâmil e cingalesa, e, portanto, a Igreja conhece um pouco aquilo que existe no coração de cada um e conhece também as expectativas; consequentemente, pode desempenhar essa missão, essa função de reconciliação, de diálogo e de colaboração. Porém, gostaria de ressaltar também o fato de o Sri Lanka tradicionalmente ter vivido um grande desenvolvimento desta harmonia religiosa entre as várias religiões, ter sempre se caracterizado por este encontro, este diálogo. Infelizmente, ultimamente, surgiram grupos extremistas que em certa medida manipulam a opinião pública e criam tensão utilizando a religião para fins que não são claros. Fazemos votos de que esta tradição que existe de diálogo inter-religioso e de colaboração possa prevalecer sobre estas novas tentativas de desestabilizar a situação e, ao mesmo tempo, auspiciamos também que as autoridades possam intervir justamente para preservar estes valores fundamentais da população.”

CTV: O Papa visitará também o Santuário de Madhu na região prevalentemente tâmil. Qual itinerário o caminho de reconciliação deve seguir após tantos anos de guerra que provocaram tantas vítimas?

Cardeal Pietro Parolin:- “Diria que, de certo modo, Madhu é o símbolo desta ‘Igreja-ponte’ da qual falava, propriamente porque é um centro de oração e é também um centro de encontro. O Santuário de Madhu é conhecido, apreciado e frequentado também por membros de outras religiões, não somente pelos católicos. Recordamos também os episódios relacionados à guerra civil, quando o Papa Bento XVI pediu à então Presidente da República que fizesse de tudo para preservar a incolumidade daquele Santuário justamente por causa desta sua característica: encontrava-se na linha de batalha entre os dois grupos que se combatiam, e na época se tornara um centro de presença de muitos deslocados de ambas as partes. Creio que o Papa Francisco, como fez em 8 de fevereiro, quando encontrou a comunidade cingalesa no Vaticano, recordará estes episódios dolorosos, as muitas lágrimas, dizia ele, que foram derramadas por causa da violência e da crueldade do conflito. Não para reabrir as feridas, mas para lançar um olhar rumo ao futuro. Este compromisso de reconciliação deve caracterizar todos os componentes da sociedade do Sri Lanka. Um compromisso de reconciliação que passa pelo reconhecimento da verdade. Creio que as etapas são estas: uma atenção para com a justiça e uma colaboração de todos para o bem comum.”

CTV: As Filipinas são o maior país da Ásia de maioria católica. Como se pode valorizar a presença desta Igreja jovem e dinâmica no continente asiático?

Cardeal Pietro Parolin:- “Filipinos que nestes dias retornaram de seu país disseram-me ontem à noite que nestas semanas tem havido uma intensa oração uníssona em preparação para a visita do Papa. São promessas muito positivas. Creio que a valorização passa pelo reconhecimento que a Igreja nas Filipinas tem de seu papel, tanto no contexto asiático e do Sudeste asiático, quanto no contexto mundial. O Papa quer com esta viagem, em continuidade com a que fez à Coreia do Sul, concentrar a atenção da Igreja sobre esta realidade; e ao mesmo tempo também inserir-se naquele caminho de nove anos que está nos levando rumo à celebração do quinto centenário da chegada do Evangelho às Filipinas, em 1521. E este ano é o Ano dedicado aos pobres. Então a centralidade deriva do número: ou seja, as Filipinas são um dos países do Sudeste asiático onde a maioria da população é católica. Digo um, porque na região há também Timor Leste, onde 90% da população é católica: não devemos esquecer isso. Também geograficamente as Filipinas, de certo modo, têm sido o centro: basta lembrar quantos encontros importantes se realizaram, a partir da visita do Beato Paulo VI em 1970, que depois deu origem à constituição da Federação da Conferências episcopais asiáticas. Creio que outro ponto importante seja a centralidade das Filipinas, por exemplo, para os estudos de muitos jovens que de vários países asiáticos limítrofes vão àquele país aprofundar a sua formação, que se dá nas diferentes universidades católicas. Por fim, há também a irradiação dos filipinos no mundo: sabemos que eles estão presentes em muitos países da Ásia, como também da América e da Europa. Portanto, são muitas as potencialidades de evangelização por parte das Filipinas, o importante é que a Igreja neste país acolha esta mensagem e este impulso dado pelo Papa Francisco para ser uma Igreja em saída: uma Igreja que sente a missão de evangelização e de anúncio do Evangelho.” (RL)








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