Tempo de Paz


Rio de Janeiro (RV) - O canto dos anjos na noite de Natal ainda ecoa em nossos ouvidos: “paz na terra aos homens por Ele amados”! Estamos no ano da Paz, proclamado pela nossa Conferência Episcopal. Isso nos questiona – e muito – sobre muitas atitudes a que somos chamados a tomar neste tempo de tantas violências e divisões. Pode parecer que estamos desanimados por ver tantas situações degradantes, em todos os aspectos, e o mundo com tantas injustiças e maldades.

Estamos na oitava do Natal! Tempo de repercutir o espírito natalino e encontrar caminhos para que o mistério da Encarnação não seja apenas uma lembrança de um fato passado, mas seja atualizado em nossa vida e em nossa sociedade hoje. Gostaria de manifestar a minha preocupação com a violência que vem nos assustando e deixando marcas em jovens e crianças. Com isso, desejo motivar o sentido do Natal, que é a paz e não a violência, até porque o Natal é a festa do príncipe da paz, que é Jesus.

 “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um salvador, que é o Cristo Senhor (Lc 2,10)”. Estas reconfortantes palavras do Anjo constituem a grande mensagem do Natal. Consoladoras e animadoras palavras que, hoje, também devem ecoar em nossos corações. Fomos agraciados com mais um Natal, festa solene do calendário litúrgico-cristão, em que celebramos o grande mistério da encarnação do Divino salvador. As profecias se realizaram! Deus cumpriu sua promessa, enviando o seu amado Filho. Quando chegou a plenitude dos tempos, fixada pelo desígnio insondável do Pai, o filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliar a humanidade com o seu Criador. O profeta Isaias nos apresenta Jesus como o “Emanuel”, isto é, o “Deus-conosco”. Alguém que vem para fazer parte da nossa história e jornada da vida.

O natal de Jesus é, portanto, a plena inserção de Deus no contexto vivencial humano. A encarnação de Jesus é um profundo gesto de solidariedade com os homens. Por isso, o Natal  é ocasião para compreendermos o valor do amor solidário pelos irmãos. Ao contemplarmos o presépio, vemos o exemplo do amor gratuito e universal.

O verdadeiro amor, revelado pelo menino Deus, tem dois aspectos: gratuidade e universalidade. Gratuidade: Um filho nos foi dado de graça pelo amoroso Deus! Precisamos, também, aprender essa lição. Buscar, desejar e fazer o bem, sem querer ou esperar nada do outro. É o sentido da gratuidade da vida! Naturalmente que esta atitude contraria a lógica do mercado consumista e mercantilista do “toma lá, dá cá”! Universalidade, que significa: Jesus veio para todos os povos da Terra. Estes povos e suas culturas foram representados pelos Reis Magos. Assim, o Natal nos comunica a mística da vida fraterna e solidária com as pessoas e culturas, imitando o mistério da encarnação de Jesus.

Ele nasceu para todos e a dimensão da salvação é universal. Portanto, Natal é a grande festa da fraternidade universal. É comemorado em todo o mundo, até mesmo onde a população cristã é minoria.  No mundo inteiro esta data se reveste de certa ternura e magia, despertando nas pessoas sentimentos cristãos muitas vezes adormecidos, como: alegria, amizade, confraternização, gestos de bondade e reconciliação com o próximo.  Estes sentimentos são frutos maravilhosos do Natal, que enobrecem nossos corações e dignificam a vida. A árvore de Natal, símbolo da vida, deve ser enfeitada de bons frutos para recebermos Aquele que é a verdadeira vida: Jesus, salvador!

Não nos esqueçamos de que os bons e verdadeiros amigos são, também, presentes que recebemos de Deus. São presentes que se fazem “presença” o ano inteiro. Os verdadeiros amigos não os compramos em pacotes! Não há dinheiro que os possam pagá-los! Os brindes natalinos que trocamos são desdobramentos da incontida alegria, por causa da presença do grande amigo: a adorável pessoa de Jesus Cristo, presente na cotidianidade da nossa vida. Portanto, exultemos de alegria, pois nasceu o Salvador do mundo, verdadeira paz e alegria para todos! Abramos as portas do coração para sermos transformados e iluminados pela luz de Deus.

Mesmo celebrando o grande acontecimento do nascimento do Rei dos Reis, do Senhor dos Senhores, do Messias Salvador a quem somos chamados a escutar, seguir, anunciar, ainda assim Natal é uma grande festa. É a festa da paz, da convivência familiar, da gratuidade e de dar e receber presentes. É um momento que pode servir para fazer ou refazer a paz na família. É costume lembrar os sem família, sem teto e sem lar. É tempo de presentes para as crianças. As histórias de Natal movem à compaixão, à ternura, ao perdão, à acolhida. Que ninguém passe sozinho o Natal! Que ninguém passe fome no Natal! E tudo isso pode acontecer, e é bom que aconteça. Mas o mistério da encarnação nos faz perceber que a entrada do Verbo de Deus na humanidade nos faz sempre mais irmãos uns dos outros. Por isso, Natal não é só hoje, Natal é todo dia! Isso nos lembra que há gente com fome todo dia. Mais de oitocentos milhões no mundo. Ainda há gente sem casa ou morando em áreas de risco o ano todo, não só no Natal ou no tempo das enchentes e deslizamentos. As crianças da nossa família, e todas as outras, precisam de cuidado e carinho sempre, a cada minuto.      Estas preocupações sociais decorrentes da celebração do Natal devem traduzir-se em relacionamentos fraternos, de perdão e caridade a cada dia. E, para isso, necessitamos que cada um faça sua parte. Somos chamados a ser presença transformadora no mundo, construtores da paz! Eis o desafio de celebrarmos o Natal todo ano e abrirmos um novo ano civil daqui a alguns dias. Uma nova oportunidade nos é dada para que cumpramos bem a nossa missão fraterna. Eis o momento propício, ele se abre diante de nós! Não deixemos passar em vão e sejamos criativos para encontrar os melhores caminhos para contagiar o mundo com o belo, bom e com o bem. Salve 2015! Que nos encontre vivendo concretamente o Ano da Paz!

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 








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