Cidade do Vaticano (RV) – A reforma da Cúria Romana não estará pronta no próximo ano, conforme se especulava. Está sendo feita em pequenos passos. Em uma entrevista de 50 minutos, realizada na última quinta feira na Casa Santa Maria, no Vaticano, Francisco tocou este e vários outros temas, falando com o jornal argentino “La Nación”.
O Papa admitiu que há resistências às mudanças que quer introduzir: “As resistências
evidenciam-se agora, mas para mim é muito bom sinal que as divulguem, que não as digam
às escondidas quando alguém não está de acordo. Para Bergoglio, “isso parece normal,
porque seria anormal não existirem pontos divergentes”. Francisco disse que “Deus
nisso é bom com ele e lhe dá uma saudável dose de inconsciência”, com a qual vai fazendo
o que tem de fazer, apesar de “a reforma espiritual ser a que mais o preocupa”.
Respondendo perguntas sobre o Sínodo dos Bispos sobre a Família, em outubro passado,
afirmou ter “sentido uma busca fraterna para saber como lidar com problemas familiares
pastorais”.
“O Sínodo foi um processo, continuou o Papa, e as opiniões levantadas pelos padres
sinodais eram pessoais; tudo foi coletado. Falamos sobre como uma família que tem
um filho ou uma filha homossexual deve educar, como se pode ajudar esta família a
levar adiante uma situação inédita. Assim, falamos dos homossexuais em relação às
suas famílias porque é uma realidade que a todo momento encontramos nos confessionários:
um pai e uma mãe que têm um filho ou filha assim. A mim já aconteceu diversas vezes
em Buenos Aires. E bem, é preciso ver como ajudar estes pais a acompanharem seu filho
ou filha”.
A questão dos divorciados e da comunhão não ficou de fora na conversa. Para Francisco,
pessoas divorciadas e aquelas que se casaram novamente devem ser reintegradas à Igreja
— enquanto atualmente parecem ser tratadas como excomungados. “Eles não podem ser padrinhos de uma criança batizada e não
são contemplados nas nossas missas. Há cerca de sete coisas que eles não podem fazer.
É como se tivessem sido excomungados! Precisamos abrir um pouco mais as portas”, afirmou
o Papa.
Segundo Francisco, esses fiéis podem dar o testemunho de reconhecimento de um erro,
resistência ao pecado e confiança na fé. Por outro lado, contestou que “políticos
corruptos não sofrem quaisquer penitências dentro da Igreja, podendo participar de
batismos e outras oportunidades a que divorciados, por exemplo, não têm direito”.
A jornalista que teve o privilégio de entrevistar Francisco o acompanha há tempos,
desde que foi nomeado Cardeal, em 2001. Foi uma dos cinquenta jornalistas que o saudaram
pessoalmente em sua primeira coletiva para a imprensa mundial, em 16 de março de 2013. Elisabetta
Piqué solicitou o Papa a falar do fenômeno conhecido como o “efeito Francisco”, que
não exime muitos católicos de abandonarem a religião.
O Papa rebateu que “há vários fatores envolvidos nisso, de fora da Igreja, como por
exemplo a teologia da prosperidade que inspirou muitas propostas religiosas que atraem
as pessoas; e assim, muita gente fica no meio do caminho. Além disso, a falta de aproximação
e o clericalismo assustam os fiéis. A proximidade é o chamado do católico hoje, a
sair e sermos mais próximos das pessoas, de seus problemas, de suas realidades. O
clericalismo retardou o amadurecimento dos leigos na América Latina. Os leigos são
mais maduros na América Latina precisamente na expressão da piedade popular”.
Prosseguindo neste tema, o Pontífice disse não gostar da imagem de “fuga dos fiéis”
porque é ligada ao proselitismo; e que prefere usar a imagem do hospital de campo:
existe muita gente ferida que está esperando que iremos curar. “E há de sair para
curar as feridas”.
Prestes a completar 78 anos, no próximo dia 17, o Papa também falou sobre sua saúde,
após declarações (no voo de volta da Coreia do Sul, em agosto passado) de que esperava
“ir para a casa do Pai em três anos”.
“Tenho minhas dores e meus sofrimentos da idade, mas estou nas mãos de Deus e até
agora tenho tidoo um ritmo de trabalho mais ou menos bom”, garantiu o Papa, adiantando
que em 2015 gostaria de realizar visitas à América Latina e à África.
(CM)
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