A Paz: tema das pregações de Advento

Cidade do Vaticano (RV) – A paz será o tema central das pregações de Advento que o Padre Raniero Cantalamessa fará ao Papa Francisco e à Cúria Romana a partir desta sexta-feira (05/12), na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. Nas três sextas-feiras que precedem o Natal, as meditações do Pregador da Casa Pontifícia ajudarão a refletir sobre a paz como dom de Deus em Jesus Cristo, como tarefa pela qual trabalhar e como fruto do Espírito. O sacerdote capuchinho denominou este ciclo de pregações como “Paz na terra aos homens que Deus ama”:

Padre Cantalamessa: “Expliquemos o título: é o anúncio dos pastores na Noite de Natal e como resulta também do anúncio natalício, a paz é antes de tudo algo que desce do Céu, é um dom de Deus, é o fio do alto que rege toda a trama da paz humana, sem a qual as pazes humanas são sempre frágeis. Certamente, porém, este dom de Deus torna-se também dever e tarefa a ser trabalhada. E, de fato, na segunda pregação penso justamente em falar da paz como dever”.

RV: O senhor abordará também o tema da paz como fruto do Espírito...

Padre Cantalamessa: “...aquela que todos desejamos, pois quando falamos de paz, quando a gente fala de paz, se pensa na paz do coração, na paz da família, a esta paz que – segundo a Bíblia – é uma virtude, é fruto também do esforço pessoal, é um dom de Deus porém acolhido e desenvolvido também através da liberdade da resposta humana. E é esta paz que depois se torna condição de vida, também, e de santidade, pois todos os santos falaram desta paz interior do coração que vem da ação da vontade de Deus. O nosso poeta, Dante Alighieri, fez um verso sobre isto que diz tudo: “É o seu desejo a nossa paz”, isto é, a paz do coração depende da adesão à vontade de Deus”.

RV: Quais os textos que o senhor convida a meditar para este Advento?

Padre Cantalamessa: “Os textos principais que eu utilizo são sempre os da Escritura, que é riquíssima em referências à paz: graça e paz é um binômio quase indissociável na Bíblia. A riqueza desta palavra na Bíblia é realmente inexaurível. E depois, nos textos da Bíblia, especialmente na segunda pregação, me foram muito, muito úteis os textos do Papa Francisco na “Evangelii Gaudium”. Sinto ter que obrigá-lo a ouvir aquilo que ele já sabe muito bem, que ele mesmo escreveu, mas acredito que faça bem a nós ouvir algumas palavras desta Carta”.

RV: Como se constroi concretamente a paz? Quais são os ingredientes para a paz?

Padre Cantalamessa: “Isto é repetido seguidamente, sobre isto escreveu São João Paulo II. Também o Papa Francisco fala sobre isto: o diálogo. O diálogo a um certo nível, sobretudo político. Mas o diálogo é a única alternativa às armas. Portanto, para nós cristãos, junto ao diálogo, existe também a oração, e de fato a Igreja reza continuamente. Em cada Missa se reza pela paz, aquela invocação antes da Comunhão: da pacem, Domine – concede a paz aos nossos dias. Assim, eu diria, o diálogo, a oração, a compreensão, também o conhecer, pois frequentemente o conhecer aos outros transforma os inimigos em amigos. Os que se acreditam inimigos, quando depois conhecem bem a fragilidade, os limites, o contexto em que uma pessoa age, muito frequentemente isto facilita a paz”.

RV: E qual é a contribuição que os indivíduos podem dar?

Padre Cantalamessa: “Eu digo, normalmente, que como milhares de gotas de água suja nunca farão um mar limpo, assim, milhares de corações sem paz nunca farão uma humanidade de paz. Portanto, como dizia a mensagem para o Dia Mundial da Paz de João Paulo II, “a paz nasce do coração”. Assim, cultivar a paz a nível pessoal, mas não ser perturbados, não ser ansiosos. E após, difundir esta paz ao redor, na comunidade, no ambiente em que se trabalha. Esta é uma contribuição pessoal à paz”.

RV: Com quais palavras poderíamos viver este Advento?

Padre Cantalamessa: “A palavra melhor é aquela que Jesus nos deixou: “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz. Não a dou como o mundo a dá, eu a dou a vós”.  Na noite de Páscoa era quase respirável, palpável a paz dada por Jesus”. (JE)