O papel do 'Coetus Internationalis Patrum' no Concílio


Cidade do Vaticano (RV) – No Nosso Espaço Memória História – 50 anos do Concílio Vaticano II – vamos continuar a tratar das articulações existentes no evento Conciliar, falando na edição de hoje do Coetus Internationalis Patrum.

O Concílio Vaticano II reuniu na Sala Conciliar bispos do mundo inteiro, com posições diferentes  sobre os rumos que a  Igreja deveria tomar diante dos desafios que a modernidade apresentava. Nas edições anteriores, vimos como os bispos acabaram agrupando-se segundo a família religiosa, nacionalidade,  língua, continente, conferência episcopal, ou segundo a tendência mais favorável ou contra as reformas. Um destes grupos era o Coetus Internationalis Patrum, comandado pelo  Arcebispo Marcel Lefebvre e que tinha como secretário o brasileiro Dom Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina.

Através de uma carta circular assinada por Dom Sigaud, os integrantes  se apresentam como sendo um grupo de Padres Conciliares de diversas nações que se reúne semanalmente na Cúria Generalícia da Ordem de Santo Agostinho, com o objetivo de estudar, à luz da doutrina tradicional da Igreja e segundo os ensinamentos dos Sumos Pontífices, os esquemas submetidos à discussão dos Padres conciliares.

Dom Helder Câmara, em uma de suas circulares, após repassar os contatos e iniciativas do dia em favor do esquema XIII, comenta como é curioso que outro brasileiro, Dom Sigaud, “com a mesma sinceridade e o mesmo amor à Igreja, reúne bispos do mundo inteiro para combater as idéias progressistas”.

Dom Sigaud organizava as atividades do Coetus, enquanto seu fiel companheiro no episcopado, Dom Antônio de Castro Mayer, da Diocese de Campos, aplicava-se ao estudo dos esquemas e em rebater, na maioria das vezes, as propostas e argumentos da corrente majoritária no Concílio. Porta-voz do integralismo teológico-pastoral, foi responsável por trinta intervenções no Concílio.

Ambos os bispos eram muito ligados ao movimento leigo Tradição Família e Propriedade (TFP) e ao seu fundador, Dr. Plínio Correia de Oliveira. A entidade prestou apoio logístico aos dois bispos na primeira sessão e ao Coetus Internationalis Patrum, a partir de 22 de outubro de 1963.

Outros bispos brasileiros estavam próximos ao Coetus, que não conseguiu,porém, ampliar sua influência dentro do Episcopado Brasileiro.

A nível internacional, o Coetus contava com o o Bispo Dom Luigi Carli, de Segni, Itália, terra natal do Secretário do Concílio, Pericle Felici, além de contar com importantes simpatizantes.

Por um lado, o Coetus alcançou um eco bastante significativo em torno de determinadas questões, como a condenação do comunismo pelo Concílio, mas por outro, acabou isolando-se pela radicalidade de suas posições. Um exemplo disto, foi a recomendação aos padres conciliares para que rejeitassem, na sua totalidade, o esquema XIII, devido à impossibilidade de serem introduzidas modificações parciais. Os pontos principais indicados para se rejeitar em bloco o esquema, foram: a omissão da palavra ‘comunismo’ na parte em que se fala de ateísmo; a insuficiência da doutrina sobre os fins do matrimônio; a não alcançada supressão do inciso sobre a objeção de consciência e a discordância com a indiscriminada condenação da guerra total. Dos 2.373 padres presentes, 2,111 votaram placet, 251 non placet e 11 anularam o voto, resultado que mostrou o grande isolamento da corrente capitaneada pelo Coetus Internationalis Patrum.

Ao comentar a votação, Dom Helder Câmara afirmou: “Terminou na Basílica a votação do esquema XIII: ele já não existe.... Cedeu lugar, gloriosamente, à ‘Constituição Pastoral sobre a presença da Igreja no mundo’”.

Dez minutos após a votação final, chegava do Santo Padre o aviso de que desejava a promulgação da nova Constituição na sessão de encerramento do Concílio. Dom Helder exultou:

 “A alegria de ontem só não foi completa porque, além do cuidado fraterno com os amargurados, fiquei rezando o tempo todo pela ROC (considerado o Estado Maior da oposição ao espírito do Concílio Vaticano II). Vai ser demais para uma só sessão, a sessão histórica de hoje, a promulgação do decreto sobre o minstério e a vida dos sacerdotes; a promulgação da declaração sobre a liberdade religiosa; a promulgação da constituição pastoral sobre a presença da Igreja no mundo e o levantamento simultâneo das excomunhões – em Roma e em Constantinopla – por Paulo VI e o Patriarca Atenágoras".

(Fonte: Padres conciliares brasileiros no Vaticano II: Participação e Prosopografia. 1959 - 1965. Pe. José Oscar Beozzo)

 








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