Editorial: Demasiado tempo de guerras


Cidade do Vaticano (RV) – Foi e está sendo uma semana muito intensa para o Papa Francisco. Depois da visita relâmpago ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa em Estrasburgo, na França, na última terça-feira, o Papa Francisco desde ontem, sexta-feira, está em terra turcas, na sua 6ª Viagem Apostólica Internacional.

A importância dessas viagens não está só no fato do Papa ir a um ou a outro lugar, mas sim na real mensagem que leva e nas sementes que espalha, na perspectiva que deem bons frutos.

O Papa encontra-se neste país de maioria muçulmana para participar da Solenidade do Apóstolo Santo André, irmão de Pedro e Padroeiro da Igreja ortodoxa de Constantinopla, liderada pelo Patriarca Ecumênico Bartolomeu I. Desde o Pontificado de Paulo VI, tornou-se costume o Papa de Roma encontrar-se com o Chefe da Igreja ortodoxa de Constantinopla.

Mas voltando ao início da semana e à visita a Estrasburgo do Papa Francisco, devemos considerar que a mesma passa para a história não só pelo seu significado – o Sucessor de Pedro vai ao coração político da Europa – mas também pela sua mensagem que provocou aplausos, emoções mas acima de tudo esperanças.

No Parlamento Europeu, reunido para uma sessão especial Francisco tocou vários temas, quase que uma síntese das qualidades e defeitos de uma Europa que busca ainda um sentido para continuar sendo um ponto de referência para a humanidade.

Ainda é forte o eco das suas palavras. Forte e incisivo o aceno que fez às injustiças e perseguições que todos os dias em várias partes do mundo atingem as minorias religiosas, em particular a cristã, e que se realizam sob o silêncio vergonhoso e cúmplice de tantos. Uma situação diante da qual – acrescentou Papa Francisco conversando com os jornalistas no voo de retorno a Roma – não se pode, todavia, excluir o diálogo, que, neste momento, parece impossível.

O Papa em meio a tantos problemas que a humanidade enfrenta coloca o dedo mais uma vez na tecla da proteção das minorias e centraliza em sem discurso amplo de questões, a preservação da liberdade religiosa: neste tema está implícita a tutela da diversidade das orientações religiosas e culturais, em um contexto político que seja mais respeitoso do pluralismo. Este certamente é um tema que diz respeito ao mundo inteiro, seja ele árabe, islâmico ou ocidental cristão.

O silêncio que o Papa condena é certamente uma forma de cumplicidade. Francisco levantou a sua voz em todas as ocasiões em que a liberdade religiosa foi violada. Um tema que toca todas as religiões como um componente fundamental das sociedades e não como algo que se possa dispor como bem quer por razões ligadas a situações de conflito ou por conveniências de momento.

Agora o Sucessor de Pedro encontra-se na Turquia e no seu primeiro discurso em terra turcas, no Palácio Presidencial, em Ancara, depois de visitar o Mausoléu de Ataturk, pai da pátria turca, recordou os grandes problemas desta região do planeta, problemas que não encontram solução nas mesas importantes de decisão. A Turquia acolhe um grande número de refugiados e está diretamente afetada pelos efeitos da dramática situação em suas fronteiras. Para o Pontífice, o Oriente Médio é há demasiado tempo teatro de guerras fratricidas, “que parecem nascer uma da outra, como se a única resposta possível à guerra e à violência tivesse de ser sempre uma nova guerra e mais violência”. “Quanto tempo deverá sofrer ainda o Oriente Médio por causa da falta de paz?”, questionou.

Junto com o drama dos conflitos a preocupação com a Síria e o Iraque, onde a violência terrorista não dá sinais de diminuir. O Pontífice reiterou mais uma vez que considera lícito deter o injusto agressor – “sempre no respeito pelo direito internacional” –, lembrando, porém, que não se pode confiar a resolução do problema somente à resposta militar. Uma contribuição à paz pode vir do diálogo inter-religioso e intercultural, a fim de banir toda a forma de fundamentalismo e de terrorismo. “Ao fanatismo e ao fundamentalismo, às fobias irracionais que incentivam incompreensões e discriminações, é preciso contrapor a solidariedade de todos os fiéis” para inverter a tendência que hoje se vive nos países do Oriente Médio.

O Papa Francisco chama assim a atenção para que, onde exista possibilidade para se resolver um conflito e evitar a violência, seja percorrida esta estrada. O que os governos, a política, a comunidade internacional devem fazer é criar as condições, que possam permitir um mínimo de discurso, uma abertura ao diálogo para pôr fim aos erros que estamos vendo e sofrendo. (Silvonei José)








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