Em Lábrea, no Amazonas, com o Card. Cláudio Hummes


Cidade do Vaticano (RV) – O Presidente da Comissão Episcopal da Amazônia, da CNBB, Cardeal Cláudio Hummes, continua nos guiando em suas viagens pela Amazônia Legal. Neste espaço, ele nos acompanha à Prelazia de Lábrea, no sul do estado do Amazonas. 

Lá eu encontrei os antigos missionários a quem foi confiada esta Prelazia, os Agostinianos espanhóis. Foi algo muito emocionante. Em primeiro lugar, eles estão muito isolados e muito pobres, tanto a Igreja como os poucos missionários. Há muito pouca gente numa área grandíssima. Ali, Dom Jesus é o Bispo-Prelado. Este homem está lá há 30 anos, chegou como missionário jovem. Vai se aposentar aos poucos, e já disse que quer continuar lá. A paróquia mais vizinha da sede está a 12 horas de viagem de barco. Fomos lá, em Canutama. Esta pequena cidade é muito bonitinha, bem feita, com ruas pavimentadas por um tipo de massa feita lá. Nós chegamos lá num dia de chuva. Viajamos durante a noite toda com o barco, chegamos de lá de manhã com muita chuva. O bispo disse “Olha, eles tinham preparado uma grande recepção prá você mas hoje não vai dar em nada. Chegamos lá, havia um mundo de gente no portozinho, fazendo festa no meio de uma chuva torrencial. Todo mundo molhado, esperando a nós. O próprio bispo ficou muito emocionado e disse que nunca esperava que o povo viesse com tanto carinho ali. Então, é tudo muito distante”. 

“A paróquia mais distante são cinco dias, sem as noites, de barco, para chegar. E este bispo, Dom Jesus, disse que vai para esta paróquia, a mais longe, naquela floresta... E eu acho isso absolutamente extraordinário. Admiro muito estes homens; são gente que não devemos esquecer, temos que venerar e apoiar de toda forma”.

“Há 2 ou 3 missionários novos, também agostinianos. Eles ali têm grandes obras, quer dizer, obras sociais consideradas grandes para aquela região. Ali também visitamos uma aldeia de índios e mais uma vez pude constatar como eles são tão abandonados pelo poder público, por tudo... e têm necessidade de assistência religiosa, que os missionários não conseguem dar, por falta de gente. Ali vimos como a situação da falta de missionários e missionárias é precária. Estas comunidades, sobretudo de indígenas, são índios cujos pais e avós foram convertidos. Eles são católicos há muito tempo, mas correm o risco de perder aos poucos a fé. Encontrei lá um senhor índio, que devia ter uns 65 anos, que me disse: “Eu gosto de ler a Bíblia, eu creio em Deus, mas hoje não sou mais de nenhuma Igreja porque hoje parece que tudo é igual. Eu era casado na Igreja, mas hoje não existe mais matrimônio.. me juntei com outra, tive outros filhos. Os jovens também se juntam...”. Segundo ele, o matrimônio não existe, e ouvi esta expressão de muitos jovens também”.

“Isto fere a gente, porque sabemos que são netos de convertidos, enfim.... Então há uma grande necessidade de um esforço muito especial para continuarmos esta evangelização que herdamos dos antepassados, dos missionários. Somos responsáveis por isso. Lá os missionários fazem o que podem. Somos nós que não fazemos o suficiente para que eles continuem...”. 

Ouça o Card. Hummes, clicando acima.

(CM)

 








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