Arcebispo Toso: democracia seja inclusiva como pede o Papa Francisco


Cidade do Vaticano (RV) - Inicia-se na noite desta quinta-feira em Verona – nordeste da Itália –, com uma videomensagem do Papa Francisco, a quarta edição do Festival de Doutrina, promovido pela Fundação Toniolo. A primeira mesa-redonda terá como tema "O tempo é superior ao espaço", retomado da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Entre os relatores encontra-se o secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Dom Mario Toso, entrevistado pela Rádio Vaticano:

Dom Mario Toso:- "O tema evoca um dos princípios indicados pelo Papa na Evangelii Gaudium como necessários para construir povos em paz, justiça e fraternidade. Na recompactação de um povo – algo de que hoje se tem grande urgência – é imprescindível que administradores e políticos não se fossilizem na ocupação do poder unicamente para mantê-lo em vista de vantagens pessoais, sem preocupar-se em iniciar processos de reformas e políticas a serviço do bem comum. Mas é também necessário que, diante de uma grave crise em que todos se encontram envolvidos, os vários sujeitos sociais não se limitem a olhar para os próprios males, fechando-se em si mesmos, sem levar em consideração os problemas dos outros, particularmente dos mais pobres e dos que perderam o trabalho. Pensar poder superar sozinho as dificuldades, aumentando o desinteresse por quem sofre e pelos mais fracos, bem como pelos jovens, é uma ilusão. Somente juntos se pode se salvar. Pode-se, portanto, sair da crise indo "além" da situação atual que apresenta a sociedade fragmentada e contraposta em seus setores: considerando-se parte uns dos outros, unificando as múltiplas energias de bem existentes que não aparecem, tornando-se "povo", ou seja, uma multidão moralmente convergente, que libera suas potencialidades de solidariedade e de colaboração."

RV: A seu ver, qual a contribuição específica que o Papa Francisco está dando para a Doutrina Social da Igreja, considerando inclusive seus últimos pronunciamentos, como, por exemplo, aos movimentos populares?

Dom Mario Toso:- "Trata-se de uma contribuição em continuidade com a de seus predecessores, mas que é também original. Creio que dê sua contribuição mais específica quando evidencia e ilustra a dimensão social da fé e da evangelização, o amor aos pobres, a partir do realismo da encarnação, que chama todos os fiéis e as comunidades a "sair" e à mobilização, porque Cristo está em toda pessoa que sofre e deve ser acolhido e amado concretamente. Sobre isso se será julgado. Nestes últimos tempos, o Papa Francisco, com seus discursos dirigidos a vários grupos, a médicos, a juristas, movimentos populares, membros e consultores dos dicastérios, vai completando sua mensagem a propósito de uma democracia mais elevada, mais social e participativa, inclusiva, evocando, para todos, terra, casa, trabalho, instrução, assistência médica, um sistema penal não meramente punitivo ou a serviço dos poderosos de turno, pedindo ainda, ao mesmo tempo, políticas econômicas focadas na dignidade e no bem comum, reformas dos sistemas financeiros, aplicação de uma economia mundial sadia, a superação daquelas teorias neoliberais que absolutizam a autonomia da economia e da finança em relação ao bem comum e à política."

RV: Ultimamente, o Papa Francisco tem recordado que família está em crise e submetida a pressões ideológicas. Como a Doutrina Social pode ajudar esta célula fundamental da sociedade?

Dom Mario Toso:- "Em primeiro lugar, com o seu saber sapiencial que tem como perspectiva um modelo de família para além do pós-moderno, o qual prejudica a sua identidade total, a subjetividade social, a relevância pública, esquecendo-se da sua essência de comunhão e de relação. Mas se deve também dizer que a Doutrina ou Ensinamento social por si só não basta. Precisa de pernas, por assim dizer! Espera-se que o mundo católico, fiel ao Evangelho de Cristo, com a pluralidade de seus sujeitos, tenha um ímpeto de consciência e de dignidade, para ser mais convicto e determinado no presente e na defesa da beleza e da riqueza antropológica da família, nos vários areópagos, incluídas as instituições políticas nacionais e internacionais." (RL)








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