Moçambique: Dados parciais apontam vitória da Frelimo (60 %) sobre a Renamo (30 %)
e o MDM (10 %)
O líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Afonso Dhlakama, disse que vai
contestar as eleições gerais de quarta-feira, que considera “injustas” e marcadas
por fraudes, mas promete que “não haverá mais guerra”. “Posso garantir que não haverá
mais guerra em Moçambique”, disse à Reuters, citada nesta sábado 18 pela edição on
line do jornal “Público”, que faz notar que a declaração é particularmente importante
devido ao passado recente do país, onde há apenas mês e meio foi assinado um acordo
para acabar com 17 meses de guerra não declarada. A sucessão de ataques ameaçava fazer
regressar o país à situação de conflito generalizado que, entre 1976 e 1992, custou
a vida a um milhão de vidas.
A contagem parcial de votos aponta para a manutenção
no poder da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), com maioria absoluta – ainda
que menos expressiva do que na anterior legislatura – e para a eleição, à primeira
volta, do seu candidato presidencial, Filipe Nyusi.
Dhlakama, a quem o escrutínio
provisório atribui o segundo lugar nas presidenciais, disse que “as pessoas precisam
entender que as eleições não foram livres, justas e transparentes”. O líder do principal
partido da oposição, antiga guerrilha, acrescentou que a Renamo recorrerá à lei eleitoral
para contestar o processo.
Na quinta-feira, queixando-se de irregularidades,
o porta-voz do partido, António Muchanga, anunciou que o partido não aceita o resultado
das eleições e reivindicou a vitória. “Pelos dados recolhidos no terreno podemos afirmar
categoricamente que vencemos as eleições, mas atenção, para a Renamo não é uma questão
de vencer, é sim uma questão de justeza e transparência" disse.
O MDM (Movimento
Democrático de Moçambique), terceiro principal partido, também denunciou irregularidades
que incluiriam desaparecimento de cadernos eleitorais, “enchimento” de urnas com boletins
previamente preenchidos, duplas votações ou intimidação de eleitores. “Nenhum cidadão
consciente do mundo poderá afirmar que as eleições moçambicanas foram livres e justas
ou ignorar os inúmeros relatos de irregularidades e práticas de fraude ”, disse o
líder e candidato presidencial Daviz Simango.
Mas as missões internacionais
de observadores têm opinião diferente e consideram que as eleições foram credíveis,
apesar de vários incidentes – incluindo um que provocou a morte de um jovem de 15
anos, na Ilha de Moçambique.
“Temos um universo de 17 mil mesas de votos. É
preciso saber em quantas mesas de votos é que houve distúrbios, ou uma situação que
pudesse perturbar o livre exercício dos direitos dos cidadãos”, disse, citado pela
Lusa, o chefe da missão da CPLP-Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Pedro Pires,
antigo Presidente de Cabo Verde. “Do nosso ponto de vista, o número de casos é extremamente
reduzido. E se nós compararmos o número de casos com o número de mesas de votos, havemos
de chegar à conclusão que é inexpressivo”, acrescentou.
A União Africana considerou
o escrutínio “globalmente pacífico e livre” e a missão da SADC- Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral também concluiu que as eleições foram “geralmente
pacíficas, transparentes, livres, honestas e credíveis”. A chefe da missão desta organização,
a ministra sul-africana dos Negócios Estrangeiros, Maite Nkoana-Mashabane, apelou
aos partidos para “utilizarem todos os procedimentos legais” para contestarem o que
consideram ter corrido mal.
Logo na quinta-feira, a responsável dos observadores
da União Europeia, Judith Sargentini, disse que a consulta correu globalmente bem.
“Notámos algumas irregularidades, mas diria que, no conjunto, até ao momento do encerramento
[das urnas], correu bem.” Confortado pelas declarações, o porta-voz da Frelimo,
Damião José, declarou que os observadores internacionais “estarão em condições de
dizer se o que a Renamo diz é verdade ou não”.
Dados divulgados esta sexta-feira
pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral indicam que quando estavam contados
os boletins de um terço das mais de 17 mil mesas de voto, Nyusi tinha 61,67 %, seguido
de Dhlakama, 30.89 %, e Daviz Simango,7.44 %. Projecções divulgadas na quinta-feira
pelo Observatório Eleitoral, que reúne entidades da sociedade civil, indicam que Nyusi
será eleito com 60,5%. Os seus adversários teriam, respectivamente, 32% e 7,5%. Nas
legislativas, a estimativa é de 58% para a Frelimo, 29,5% para a Renamo e 10,4% para
o MDM, de Simango.