Santo Padre à FAO: "Não às especulações em nome do deus lucro"
Cidade do Vaticano (RV) – Para vencer a fome no mundo não basta a assistência,
mas é necessário mudar as políticas de desenvolvimento e as regras de mercado. Foi
o que afirmou o Papa Francisco na mensagem enviada ao Diretor Geral da FAO, o brasileiro
José Graziano da Silva, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, celebrado nesta
quinta-feira, 16 de outubro.
“Não às especulações nos preços em nome do deus
lucro”. O Papa Francisco fez seu, o grito de milhares de pessoas que sofrem com a
falta cotidiana de comida, não obstante a enorme quantidade de alimentos desperdiçados.
É “um dos paradoxos mais dramáticos do nosso tempo – escreve – ao qual assistimos
com impotência, mas frequentemente também com indiferença, ‘incapazes de experimentar
compaixão diante do grito de dor dos outros [...] como se tudo fosse uma responsabilidade
estranha a nós, que não nos compete’ (Evangelii Gaudium, 54)”.
“Para derrotar
a fome – afirma – não basta superar as carências de quem é mais desfavorecido ou assistir
com ajudas e doações aqueles que vivem em situações de emergência. É necessário, isto
sim, mudar o paradigma das políticas de ajuda e de desenvolvimento, modificar as regras
internacionais em matéria de produção e comércio dos produtos agrícolas, garantindo
aos países onde a agricultura representa a base da economia e da sobrevivência, uma
autodeterminação do próprio mercado agrícola”.
“Até quando – pergunta o Pontífice
- se continuará a defender sistemas de produção e de consumo que excluem a maior parte
da população mundial, também das migalhas que caem das mesas dos ricos? É chegado
o tempo – sublinha – de pensar e decidir partindo de cada pessoa e comunidade e não
do andamento dos mercados. Por conseqüência, deveria mudar também o modo de entender
o trabalho, os objetivos e a atividade econômica, a produção alimentar e a proteção
do ambiente. Esta talvez seja a única possibilidade para se construir um autêntico
futuro de paz, hoje ameaçado também pela insegurança alimentar”.
“Não obstante
os progressos que estão se realizando em muitos países – recorda o Papa – os dados
recentes continuam a apresentar uma situação inquietante, à qual contribuiu a diminuição
geral da ajuda pública ao desenvolvimento”. Para o Pontífice “é necessário reconhecer
sempre mais o papel da família rural e desenvolver todas as suas potencialidades”.
É, de fato, “capaz de responder à demanda de alimentos sem destruir os recursos da
criação”. Além disto, graças “à ligação de amor, de solidariedade e de generosidade
que existe entre os seus membros”, a família rural “favorece o diálogo entre as diversas
gerações e senta as bases para uma verdadeira integração social, além de representar
aquela desejada sinergia entre o trabalho agrícola e a sustentabilidade: quem, mais
do que a família rural, está preocupado em preservar a natureza para as gerações que
virão? E quem mais do que ela tem a peito a coesão entre as pessoas e os grupos sociais?”.
“As normativas e as iniciativas em favor da família, a nível local, nacional e internacional
– observa – estão muito longe das suas reais exigências e esta é uma lacuna a ser
preenchida”.
“Nunca como neste momento – escreve o Papa Francisco – o mundo
tem necessidade de unidade entre as pessoas e entre as Nações para superar as divisões
existentes e os conflitos em andamento, e sobretudo para procurar vias concretas de
saída de uma crise que é global, mas cujo peso recai sobretudo sobre os pobres”. “A
Igreja Católica, enquanto prossegue a sua atividade caritativa nos diversos continentes
- conclui o Papa – permanece disponível para oferecer, iluminar e acompanhar, quer
a elaboração das políticas quer a sua atuação concreta, consciente de que a fé se
torna visível colocando em prática o projeto de Deus para a família humana e para
o modo por meio do qual aquela profunda e real fraternidade , que não é exclusividade
dos cristãos, mas inclui todos os povos”. (JE)