Sínodo sobre a família apóia-se em dois pilares: "acompanhamento" e "acolhimento"
Cidade do Vaticano (RV) - A família deve ser acolhida e acompanhada em todas
as suas dificuldades, mas é preciso propor histórias positivas de vida familiar: esse
foi um dos aspectos evidenciados na coletiva da manhã desta quinta-feira, na Sala
de Imprensa da Santa Sé, sobre o andamento dos trabalhos do Sínodo dedicado aos desafios
pastorais da família no contexto da evangelização.
Trata-se de um caminho que
prossegue no signo da "transparência" e da "participação". Com essas palavras, o porta-voz
vaticano, Pe. Federico Lombardi, apresentou a decisão da Assembleia sinodal de publicar
os relatórios dos 10 "Círculos menores", que, em síntese, refletem o ponto de vista
dos vários grupos linguísticos em que os Padres sinodais se subdividiram nesta segunda
e última semana de trabalhos sinodais, os quais foram lidos durante a manhã desta
quinta-feira.
A referida decisão dos Padres sinodais, explicou o diretor da
Sala de Imprensa da Santa Sé, coloca-se em coerência com a escolha de publicar o "Relatório
após discussão" e, igualmente a este – indicou –, também os relatórios dos Círculos
menores devem ser considerados "documentos de trabalho", nada de definitivo, mas somente
uma contribuição no âmbito do caminho do Sínodo.
Além disso, nesta quinta-feira
foram apresentadas as propostas de revisão para o "Relatório após discussão", que
deverão ser elaboradas para ultimar o documento final do Sínodo, cuja aprovação deverá
ter lugar no sábado à tarde.
Ademais, informou o sacerdote jesuíta, após a
observação sobre a falta de expoentes africanos na Comissão encarregada de redigir
o documento final, o Papa Francisco decidiu acrescentar a este pequeno organismo o
Cardeal Napier e Dom Hart, representando assim o continente africano e a Nova Zelândia.
Antes
de passar a palavra ao arcebispo de Viena, Cardeal Christoph Schönborn, e ao casal
Miano, empenhados nos trabalhos sinodais, Pe. Lombardi fez um esclarecimento à mídia
em nome do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Gerhard Ludwig Müller:
"Pediu-me
para dizer que o que foi referido, que ele teria dito, que o relatório era indigno,
vergonhoso e completamente errôneo, não corresponde à verdade, não é o seu modo de
expressar-se e, portanto, afirma não tê-lo dito e pediu-me para dizer-lhes isso, vez
que tal afirmação a ele atribuída estava se difundido amplamente."
O Cardeal
Schönborn evidenciou o enorme interesse suscitado pelo Sínodo em andamento, explicando-o,
substancialmente, com as multifacetárias situações que o tema família traz em seu
âmago. O arcebispo de Viena ressaltou o dote de ser da família, no passado como no
presente, uma "rede de sobrevivência":
"Penso que, para além das muitas
questões morais, devemos ver o papel positivo, fundamentalmente positivo da família.
Penso que o Papa nos tenha convidado a ver o tema da família não para lançar o olhar
para tudo aquilo que não funciona na família (...) mas para mostrar, sobretudo, a
sua beleza e necessidade vital. Por isso convidou-nos a um olhar atento para a realidade."
Por
sua vez, Franco Miano ressaltou a necessidade, mais do que nunca, de apresentar histórias
positivas da vida familiar, para dizer que "existem muitas famílias que, mesmo na
dificuldade da vida", "buscam viver o Evangelho".
E fazer isso, acrescentou,
não significa julgar as outras situações, pelo contrário: "o esforço do Sínodo é um
esforço de acompanhamento, de um saber unir proximidade e cuidado diante de situações
difíceis com a necessidade de mostrar a beleza do ser família, do ser família hoje".
Giuseppina
Miano deteve-se sobre o "realismo" mostrado pelos Padres sinodais ao tratar das questões
prementes da família contemporânea, em outras palavras, uma "vontade" manifesta, observou,
de "partir da escuta da vida, e não de uma enunciação teórica de alguns princípios".
Entre
as questões levantadas na coletiva de imprensa ao Cardeal Schönborn, uma delas solicitou-lhe
ulterior esclarecimento sobre "tensões" na Sala sinodal, reflexo da dificuldade de
conciliar doutrina e acolhimento.
Com simpatia, o purpurado explicou tomando,
justamente, um exemplo da vida familiar:
"Se alguns padres do Sínodo dizem:
'Atenção, porque não podemos esquecer a doutrina'; por outro lado, há também a necessidade
de acompanhamento de tantas situações, diante das quais o Papa fala de hospital de
campanha. Muitas vezes acontece na família de a mãe dizer: 'É muito perigoso'; e o
pai dizer: 'Não, não tenha medo'. Estamos numa grande família. Assim uns dizem: 'Atenção!
Têm razão, é perigoso!'; e outros dizem: 'Não, não tenham medo!'"
Nas respostas
às questões apresentadas pelos jornalistas dois termos apareceram em particular. O
edifício do Sínodo escolheu apoiar-se em dois pilares: "acompanhamento" e "acolhimento".
Por
exemplo, no caso das uniões de fato, bem como para todas as questões de sofrimento
que dizem respeito ao universo familiar. Sobre as uniões homossexuais o Cardeal Schönborn
reiterou um princípio claro para a fé cristã: "primeiro deve-se olhar para as pessoas,
antes de olhar para sua orientação sexual".
"Isso não significa – precisou
– que o respeito seja para todo e qualquer comportamento humano. Não se deve olhar
diretamente para o quarto das famílias. Primeiro olhamos para a sala de estar." (RL)