Não pôr termo a "Mare Nostrum" - solicita Amnistia Internacional à Itália
A secção italiana da organização de defesa dos direitos humanos, Amnesty Internacional,
escreveu nesta quinta-feira, 16, ao Primeiro Ministro italiano, Matteo Renzi, e ao
Ministro do Interior, Angelino Alfano, exprimindo perplexidade perante a ideia de
substituir a operação “Mare Nostrum” de salvamento de migrantes no Mar Mediterrâneo
central, com a operação “Triton”, gerida pela Agencia Frontex.
Na opinião
de Gianni Ruffini, Director Geral de Amnistia Iternational/Itália, não há dúvida de
que a Operação “Triton” responderá só em parte às reais e actuais exigências de procura
e socorro no mar a fim de salvar vidas humanas.
Citando afirmações do Director
Executivo de Frontex, segundo o sucesso da operação “Triton” dependerá dos recursos
humanos e financeiros da parte dos Estados membros da União Europeia, o responsável
de Amnistia internacional/Itália recordou que a missão primária de “Frontex” é o controlo
das fronteiras.
Gianni Rufini sublinha ainda nas duas cartas a Renzi e Alfano,
respectivamente, que depois do trágico naufrágio que a 3 de Outubro de 2013 causou
a morte de quase 400 migrantes africanos no Mediterrâneo, a Itália já salvou, graças
à operação “Maré Nostrum”, cerca de 140 mil pessoas. Mesmo assim umas três mil morreram
este ano no Mediterrâneo, o que – segundo ele – demonstra a necessidade de ampliar
“Maré Nostrum” e não de a reduzir.
Mais ainda: “Maré Nostrum” custa cerca
de 9 milhões de Euros por mês e cobre tanto as águas europeias como as internacionais,
enquanto que “Triton”, conforme as informações até hoje disponíveis, limita-se às
zonas adjacentes às águas territoriais italianas. Além disso, a sua focalização principal
é, como já se disse, o controlo das fronteiras.
Amnistia Internacional considera
que qualquer operação de procura e socorro no Mar Mediterrâneo deve ter como prioridade
absoluta a de proteger as vidas humanas daqueles que se encontram em perigo no mar
e assegurar-lhes o acesso à protecção internacional.
Além disso, afirma, enquanto
a União Europeia não se empenhar em dar vida a uma operação igual ou mesmo superior
às acções de “Maré Nostrum”, essa organização de defesa dos direitos humanos, pede
à Itália para continuar com as suas operações de procura e socorro para salvar as
vidas humanas”.
Tendo em conta que este ano chegaram à Itália cerca de 165
mil migrantes através do Mediterrâneo central, metade dos quais provenientes da Síria
e Eritreia, refugiados, portanto, é claro – faz notar Ruffini, que as pessoas continuarão
a seguir essa via perigosa à procura de melhores condições de vida.
Amnistia
Internacional solicita, portanto, o Governo italiano “a não pôr termo à operação “Maré
Nostrum”, mas a fazer com que, isso sim, actue ao lado da operação “Triton” naquelas
partes do mar não contempladas por “Triton”, a fim de garantir o socorro e a salvação
no mar ao maior número possível de pessoas em fuga de situações de conflito” – conclui
a carta.
Esta temática toda estará no centro de um colóquio a ter lugar nesta
sexta-feira 17 de Outubro, de manhã, por iniciativa de Amnistia Internacional em colaboração
com o Departamento de Informação do Parlamento Europeu em Itália. O tema será “Direitos
dos Migrantes e Refugiados na Europa”. Será das 9.15 às 13.30 na Sala das Bandeira
do referido Departamento do Parlamento Europeu” (DA)