Patriarca Caldeu fala do Consistório sobre o Oriente Médio, dia 20
Bagdá (RV) – Que a verdade sobre a tragédia que vivem os cristãos no Oriente
Médio seja ouvida, e juntos, se possa compreender aquilo que cada um pode fazer em
seu país para ajudá-los. Isto foi o que afirmou, em síntese, o Patriarca de Babilônia
dos Caldeus, Sua Beatitude Louis I Raphael Sako, sobre o próximo Consistório a ser
realizado em 20 de outubro, no Vaticano. Além de tratar de algumas canonizações, já
previstas, o encontro será também ocasião para debater a grave crise no Oriente Médio.
O Patriarca foi entrevistado em Bagdá pela Oasis:
Dom Sako: “Para
nós é uma grande oportunidade: um sinal da responsabilidade que a Igreja reconhece
ter, responsabilidade de conhecimento e de ação na ajuda a quem sofre. Existe quem
diz que esta guerra durará três anos. Alguns falam em dez. O fato é que agora chega
o inverno e é necessário ajudar os jovens a irem à escola, apoiar as famílias dos
refugiados que ficaram sem casa, sem aquecimento. São 120 mil os refugiados iraquianos.
120 mil pessoas que estão pagando o preço de uma violência sem nenhuma justificativa,
perpetrada em nome de Deus em palavras, pois na verdade, é por interesses econômicos”.
P:
O seu pedido de intervenção no verão passado surtiu algum efeito. Os Estados Unidos
e os aliados estão bombardeando o auto-proclamado Estado Islâmico. Como o senhor vê
estas ações?
Dom Sako: “O único caminho de saída é o diálogo, o acordo
entre quem exerce o poder, entre vários grupos. É certo que as bombas que vem do céu
freiam um pouco o EI, mas também agravam a situação do país porque destroem casas
e infra-estruturas, matam civis inocentes. Seria necessária uma intervenção por terra,
que nasça de uma colaboração com o governo local, com os curdos. Somente uma coalizão
deste tipo pode libertar os povoados dos jihadistas. Além disto, é necessário uma
estratégia a longo prazo que destrua a ideologia doentia que guia as ações dos violentos.
Este é um perigo em todo o mundo, não só no Oriente Médio. Talvez mais para o Ocidente,
que não conhece a linguagem e as modalidades das ações islâmicas. O Estado Islâmico
mata tudo aquilo que pensa não se alinhar com a sua idéia de Islã. É fora do tempo”.
P:
Mas os Cardeais, o que podem fazer após escutá-los?
Dom Sako: “Já
uma tomada de consciência por parte de todos os Cardeais sobre a realidade da tragédia
em andamento seria um bom objetivo. Mas tem mais: os Cardeais e todos os participantes
poderão, por sua vez, divulgar apelos e exercer uma certa pressão sobre seus governos,
para que ajam para ajudar e libertar os cristãos”.
P: Muitos cristãos
fogem para o exterior. Seria possível estancar esta hemorragia?
Dom Sako:
“Certo, a fuga para o exterior é uma solução, parcial, mas é uma solução. Para
o Ocidente é também fácil acolher cem ou mil refugiados. O ponto é como ajudar aqueles
que querem permanecer em sua pátria. Todos falam de democracia, de reformas, de mudanças.
Mas antes de tudo, é necessária uma educação nova, que desenraize desde os primeiros
brotos, a mentalidade do jihadista. Somente assim, com uma nova educação levada em
frente pelas famílias muçulmanas sobre as novas gerações, se pode pensar em um futuro
para os cristãos aqui. E também em um futuro seguro para vocês no Ocidente. Talvez
seja aí que os jihadistas sejam mais perigosos. Porque a islamização radical é o objetivo
deles e vocês no Ocidente não os conhecem, não sabem o que pretendem dizer quando
falam. É necessária uma nova educação das jovens gerações, que nasce de um constante
reconhecimento recíproco, fator indispensável”. (JE)