Tribunal de Haia: Kenyatta na sala mas processo imediatamente adiado
Muita expectativa no Tribunal de Haia, onde chegará à Aula na quarta-feira o Presidente
do Quênia Uhuru Kenyatta, acusado de crimes contra a humanidade, o segundo Chefe de
Estado em exercício depois do presidente sudanês al-Bashir a ser investigado, o primeiro
a comparecer perante o Tribunal Penal Internacional, acusado de ser o instigador dos
conflitos étnicos que, depois das eleições de 2007, provocaram naquele país africano
a morte de pelo menos 1.200 pessoas e 600 mil deslocados. A Rádio Vaticano entrevistou
Enrico Casale, da Revista Popoli, um especialista em questões africanas. Um processo
que vai morrer ao nascer: se a parte acusadora já pediu adiamento do processo por
tempo indefinido por insuficiência de provas, e a defesa pediu o arquivamento. Por
detrás desta vontade de frustrar a obra do Tribunal, estaria a pressão da União Africano.
Até que ponto é verdadeira esta hipótese? É verdadeira. No
sentido de quea UniãoAfricanase opôscomvigor,
esta presenteacusação peloTribunal
Penal Internacional: e até mesmo apresentou apelo ao Conselho
de Segurançadas Nações Unidas, para que
o processo seja adiado. Nisto jogam diversos
factores: o principal deles eu diria que na UniãoAfricana estão presentes muitos Países que não são democracias,
mas sim regimes autoritários.Éclaro queos presidentesdestes
paísesnão têm interesseque
hajaumajustiça internacional,
que pode processá-los porquaisquercrimescometidos contra as
suas populações. A União Africano lamenta - com ou sem razão
- que o Tribunal de Haia seria instrumentalizado pela França e pelos Estados Unidos.
E é também verdade que todos os 36 processos por crimes de guerra e contra a humanidade
vêem africanos como imputados … Sim, porqueemÁfrica -nos últimos 15 anos,
eu diria -cometeramcrimesde uma violênciasem precedentes.Basta pensar no que aconteceu emDarfur: não é por acasoque
opresidente do Sudão,Omaral-Bashir foi chamado para responder por
estes crimese até mesmofoi
emitidocontra eleum mandadode captura. Mas depois pensemos nosmassacresque ocorreramna
Líbia; àsduras repressõesque tiveram lugar, por exemplo, no Egito;
no que aconteceu noZimbabweou na Somália, Mali … Se não podemos certamente
censurar que o Tribunal de Haia julgue criminosos de guerra e contra a humanidade
em África, temos contudo de esperar que ele o faça em todas as regiões do mundo! Claro!
O princípioé que hajaum
Tribunal Penal Internacional que julgue não pela força,
masna forçado direitoestescrimesinimagináveis,
penso também naquilo que aconteceuem Ruanda,no Burundi,na década de 90...sãocrimesque não encontraram justiça, se não apenas parcial. Portanto,
ofacto de haver um Tribunalsupranacional,
internacional e capaz de julgarestescrimes, para
chamar às suas responsabilidades os políticos e militaresque os cometeram, é um princípiocorrectoe não deveriaser
aplicado apenas àÁfrica, mas tambémaos
outroscontinentes, incluindo a Europa,
ondenas últimas décadastem
havidocrises terríveis: penso na ex-Jugoslávia;
mas penso também na recente crise na Ucrânia.