Beatificação do Papa Montini: criação do Sínodo foi grande mérito seu, diz presidente
do Instituto Paulo VI
Cidade do Vaticano (RV) - Faltando poucos dias para a Beatificação de Paulo
VI – domingo, 19 de outubro –, multiplicam-se as iniciativas sobre a figura e o Pontificado
do Papa Giovanni Battista Montini. Nesse sentido, a Convocação local da Renovação
Carismática da região italiana da Lombardia, cujo encontro se realizará no próximo
domingo, em Montichiari, província de Brescia – terra natal do Papa Montini –, será
dedicada ao futuro Beato. Convidado para o evento, o presidente do Instituto Paulo
VI, Pe. Angelo Maffeis, foi entrevistado pela Rádio Vaticano. Ele detém-se, em particular,
sobre Paulo VI, o Concílio Vaticano II e a particular sintonia com o Papa Francisco:
Pe.
Angelo Maffeis:- "Paulo VI herdou o Concílio Vaticano II que o seu predecessor,
João XXIII, havia convocado. Creio que, à distância de 50 anos, se perceba de modo
particularmente nítido a complementaridade destas duas personalidades: João XXIII
que iniciou o Concílio e Paulo VI que o conduziu ao término. Paulo VI guiou a assembleia
conciliar na redação dos documentos, buscou criar as condições para que os padres
conciliares se expressassem com absoluta liberdade, mas, ao mesmo tempo, chegassem
a concordar, a alcançar uma unanimidade – ao menos moral – sobre os documentos que
eram redigidos. Paulo VI interpretou este Concílio como um exame de consciência que
devia afinar a consciência da Igreja, da própria identidade, da própria missão e renovar,
consequentemente, o modo de propor a mensagem evangélica, as estruturas e os modos
de agir da Igreja."
RV: O Papa Montini sempre foi reconhecido como um
homem de grande inteligência, de grande cultura. Ao invés, talvez seja menos reconhecida
a dimensão da sua espiritualidade, que certamente não é menos importante...
Pe.
Angelo Maffeis:- "Sim, porque creio que Montini pertença àquela categoria de pessoas
que não revelam imediatamente sua interioridade; há uma espécie de pudor em manifestar
aquilo que está no íntimo e no coração. Creio que esta dimensão de Montini tenha se
mostrado, sobretudo, após sua morte mediante a publicação de alguns escritos pessoais
seus, que também o Instituto Paulo VI de Brescia publicou nestes últimos anos. Aí
se vê um Montini mais pessoal, mais íntimo; e se colhe, parece-me, inclusive com clareza,
a raiz espiritual que animou sua ação pastoral, seu esforço em compreender o tempo
em que viveu e as escolhas que fez."
RV: Como se sabe, a Exortação apostólica
Evangelii Nuntiandi é considerada pelo Papa Francisco o documento magisterial mais
importante sobre a pastoral escrito até então. Quais outros elementos de contiguidade,
de particular sintonia, o senhor encontra entre o Papa Francisco e o Papa Paulo VI?
Pe.
Angelo Maffeis:- "Creio que a cerimônia de Beatificação de Paulo VI unida à conclusão
da assembléia extraordinária do Sínodo dos Bispos seja uma feliz coincidência. O Sínodo
dos Bispos é uma instituição que Paulo VI quis como continuação daquela solidariedade,
daquele intercâmbio, daquele cotejamento no seio do corpo episcopal que no Vaticano
II encontrara uma sua expressão muito alta, e que devia poder encontrar caminhos para
expressar-se também na vida ordinária da Igreja. Na linha da reflexão sobre a missão
da Igreja que Paulo VI desenvolveu, um elemento de continuidade que o Papa Francisco
recorda com este Pontificado é, certamente, representado pela Exortação apostólica
Evangelii Gaudium, que a meu ver une esta consciência do grande tesouro que a Igreja
recebeu – e que deve proclamar com absoluta fidelidade – ao dom que lhe foi concedido,
e ao mesmo tempo essa sensibilidade diante da situação atual, da cultura, da realidade
social em que a Igreja se encontra realizando a sua missão." (RL)