2014-10-07 15:54:04

D. Leonardo Steiner: "Família é pertença, abertura, serviço. É doar amor"


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Cidade do Vaticano (RV) - Os laços afetivos se formam desde o início da vida do indivíduo; se constroem ao longo dos anos; se formam. Rupturas podem causar deficiências nesta construção, principalmente nos casos de separação dos pais e destruição da estrutura familiar, tão necessária à criação dos vínculos afetivos saudáveis.

Crianças e adolescentes sofrem consequências graves quando sua formação carece de um bom embasamento ou quando a formação é negligenciada pelos pais, estejam unidos, como separados. A divisão dos pais infere um desfazimento da estrutura familiar, o que pode acarretar graves problemas para a criança, principalmente se mal administrado.

O segredo, portanto, parece estar na harmonia, no amor do casal. Mas se por um lado, teorizar é fácil, o que dizer da prática? O que mantém uma família unida, ao longo do tempo? Apresentamos esta difícil questão a Dom Leonardo Steiner, Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que visitou recentemente a RV.

Para responder à sua pergunta, gostaria de lembrar a minha própria família: nós somos 16 filhos; ainda somos 12, numa diversidade muito grande entre nós. Minha mãe casou muito nova, aos 17 anos; meu pai era 6 anos mais velho do que ela. Nós éramos da roça. Éramos agricultores, papai trabalhava na Associação da pequena comunidade. O que nós sempre sentimos, e ainda sentimos hoje ainda, pois continuamos a nos reunir todos os anos, (somos 108 pessoas) é a percepção de uma pertença. Nossos pais conseguiram nos transmitir uma sensação de pertença... nós nos pertencíamos. Esta pertença vinha pela oração, pela educação, pelo afeto mútuo; vinha, por exemplo do fato que nós mais novos sabíamos que os mais velhos estavam estudando fora de casa só porque nós, menores, continuávamos em casa, a trabalhar. Creio que este espírito de pertença nos mantém unidos até hoje. Nossos pais já são falecidos, mas nós sentimos entre nós uma pertença. Creio que nós, tios, com nossos sobrinhos, sobrinhos-netos, e daqui a um pouco, com nossos sobrinhos-bisnetos, temos a sensação de nos pertencermos e de nos pertencermos também como fé: nós temos um elo que é maior do que o nosso elo de sangue. O elo de sangue é afetuoso, é respeitoso, mas para além do carinho, há uma ligação maior entre nós. Nós somos 2 padres e minha irmã religiosa já é falecida e sinto que quando nos reunimos, sempre vem a pergunta: a que horas vai ser a missa? É o momento da oração”.

“Então, o que mantém uma família unida é o Evangelho. Quando existe a tentativa de vivê-lo, quando existe o momento da oração, as diferenças se tornam um pouco mais harmônicas. Diria quase – seria um erro dizê-lo - que se tornam mais suportáveis, fica mais suave carregar, porque as diferenças são necessárias; são elas que nos maturam, nos abrem os olhos. As diferenças é que nos fazem caminhar na vida: entre marido e mulher, pai e mãe, os filhos entre si.... Então, o que mantém uma família unida é a percepção da pertença, mas uma pertença que brote da fé do Evangelho”.

“Talvez uma das grandes dificuldades que evidenciamos no texto nós enviamos como contribuição ao Sínodo sobre a Família é ajudar os nossos jovens, em nossas comunidades, a fazer a experiência do Evangelho: a experiência da doação, a experiência do amor, a experiência da entrega. Só existe família onde nós nos doamos, nos entregamos. O amor não é para si, é sempre para o outro. O amor não é egoísmo, o amor é serviço. Isso nos mantém, nos une. Creio que é importante refletir sobre isto porque hoje temos uma sensação de isolamento do indivíduo, que por vezes chega ao individualismo. Família não é individualismo: é participação, é doação, é recepção, é abertura, é partilha, é serviço. Isso nos ajuda a manter esta sensação tão bonita de nos pertencermos. Viajei a tantos lugares, morei em muitos outros, mas sempre tenho a sensação de que existe uma pertença. Isso também o Concílio já dizia: nós somos Família, a Igreja é família. Nós pertencemos à comunhão dos santos”.


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(CM)







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