2014-10-07 18:05:42

Arcebispo Tomasi: desarmar autoproclamado Estado islâmico e impedir genocídio com ajuda dos muçulmanos


Cidade do Vaticano (RV) - A Igreja não pode ficar em silêncio diante da violência e das perseguições desencadeadas no Oriente Médio contra as populações inermes, assim como a comunidade internacional não deve "ficar neutral entre os agredidos e o agressor".

Essas foram palavras do Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, na missa celebrada na manhã de sábado passado, na Capela Paulina, junto aos núncios apostólicos nos países médio-orientais, após o encontro no Vaticano com os superiores da Cúria Romana.

A Rádio Vaticano ouviu o observador permanente da Santa Sé no escritório da ONU em Genebra, na Suíça, Dom Silvano Maria Tomasi, que traça um balanço do encontro:

Dom Silvano Maria Tomasi:- "O encontro em si é um sinal de solidariedade da Igreja com as comunidades cristãs e com todas as vítimas da violência em andamento no Oriente Médio. O Papa Francisco, que abriu os trabalhos, quis ressaltar com a sua presença a continuidade com seus gestos precedentes: a visita à Terra Santa, o encontro com os presidentes da Palestina e de Israel, aquele contínuo chamado em suas mensagens à necessidade da paz em todo o Oriente Médio, especialmente na Síria e no Iraque. De fato, o encontro foi ocasião para uma análise mais aprofundada da situação, a busca de propostas éticas, operacionais, mas no contexto de uma visão mais completa que parte do valor da pessoa humana prescindido de qualquer orientação e convicção."

RV: Qual é o caminho preferencial para fazer ouvir a voz da Igreja em favor do direito à vida e à liberdade religiosa?

Dom Silvano Maria Tomasi:- "Em primeiro lugar, o objetivo, claramente, é frear a violência de modo que no Oriente Médio se chegue a uma situação que permita o desenvolvimento, o crescimento econômico e humano. Também esses países podem dar uma contribuição construtiva para a comunidade internacional. A desestabilização em curso de países inteiros, a "produção", diria quase, de milhões de refugiados e de deslocados, apresentam novas interrogações à comunidade internacional e à consciência de todos. Em primeiro lugar, torna-se urgente enfrentar o chamado Estado islâmico, que é, de certo modo, a causa imediata de delitos enormes horríveis, da venda de mulheres ao mercado, à decapitação de pessoas, à violação sistemática dos direitos humanos mais fundamentais e de crimes contra a humanidade. A situação é tal que suscita a exigência, não somente a grupos particulares como as comunidades cristãs, mas a toda a sociedade, que se busque uma resposta. O caminho para encontrar soluções é muito complexo, porque as modalidades de uma possível intervenção se embatem na complexidade da situação política: existem mercenários, conflitos regionais de competição pelo domínio da região, interesses globais de grandes potências internacionais que têm interesses imediatos no Oriente Médio."

RV: Existem iniciativas concretas que possam sensibilizar governos e opinião pública, garantir paz e segurança, colocando quem agride em condições de não mais agredir?

Dom Silvano Maria Tomasi:- "Em primeiro lugar, diria que o primeiro passo é coordenar-se por uma eficiência real para levar ajudas humanitárias a estas comunidades que foram erradicadas de suas casas, de suas propriedades. O inverno se aproxima, por isso não podem ficar sob tendas ou lonas de plástico: para sobreviver precisam de proteção de casas e de manter vivo o princípio fundamental de direito ao retorno. Retorno não somente a suas casas, a suas propriedades, mas também a viver com uma certa segurança em seus vilarejos e nas cidades das quais foram expulsos. Por isso, o segundo passo concreto é o de entender como prevenir a possibilidade de um genocídio destas pessoas e o de tornar realística a possibilidade de retorno. Mas, para fazer isso, é preciso eliminar ou desmantelar o controle deste grupo fundamentalista e terrorista. E aí se coloca o problema do uso da força. O Santo Padre diz que devemos caminhar na direção de desarmar o injusto agressor. Para fazer isso não é necessária uma guerra, mas se podem utilizar, particularmente, sanções, tirar o apoio político a esses grupos fundamentalistas, não comercializar e comprar o petróleo que gera dinheiro graça ao qual podem comprar armas e, sobretudo, bloquear o tráfico e o envio de armas a essas pessoas. Evidentemente, o uso da força deve ser tal de modo a poder obter um resultado positivo e não fazer um dano maior do que o que se quer corrigir. Aí temos que proceder todos com muita prudência e muita atenção, de modo a não dar a impressão que seja uma guerra em defesa de interesses particulares. Por isso, penso que seja importante que participem na ação os países de maioria muçulmana da região, mostrando que essa é uma ocasião importante para esclarecer do ponto de vista da tradição islâmica que a violência não é justificada pela religião, mas que se trata de abusos, de ações fundamentalistas pela busca sobretudo de poder.

RV: Muitos jovens muçulmanos espalhados pelo mundo estão expressando, através das redes sociais, seu verdadeiro dissenso ao que está acontecendo no Oriente Médio. Como o senhor interpreta essa tomada de posição?

Dom Silvano Maria Tomasi:- "Parece-me que chegamos a um momento crucial para o próprio Islã. A crise pode ser uma ocasião para mostrar sua verdadeira face que não é uma face de violência, mas de vontade de ser um recurso para as populações que creem nesta religião." (RL)







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