Cidade do
Vaticano - (RV) - A vida, por vezes, nos coloca em situações difíceis e dolorosas.
Temos, então, o hábito de culpar alguém e, nessa busca de encontrar um culpado, chegamos
a Deus, já que nos sentimos imunes de qualquer culpa.
Mas o que diz a Sagrada
Escritura a respeito disso? No Livro de Ezequiel, primeira leitura da liturgia
deste domingo, fala da responsabilidade individual nas vicissitudes da vida. Os membros
do povo eleito estavam acostumados a jogar a culpa no grupo ou nos antepassados e
se sentirem individualmente injustiçados por pagarem a culpa da coletividade. Até
dizem: “A conduta do Senhor não é correta”. O Profeta Ezequiel vai em defesa do Senhor
dizendo que o Senhor não quer a morte do pecador, pois Ele é vida e, muito pelo contrário,
o Senhor oferece a seu povo a oportunidade de um recomeço. Deus sempre está disposto
a ajudar aqueles que, se convertendo, reconstroem a própria vida. “Quando um ímpio
se arrepende da maldade que praticou e observa o direito e a justiça, conserva a própria
vida; não morrerá,” nos fala a leitura.
No Evangelho, vemos nos dois filhos
ali retratados, as pessoas que acolhem a Palavra de Deus, mas nada fazem depois, e
aqueles que a rejeitam inicialmente, mas que depois vão e fazem tudo de acordo com
o coração do Senhor. De que grupo fazemos parte? Fomos batizados, ou seja, através
de nossa própria língua ou da de nossos padrinhos, professamos a fé em Deus e prometemos
obedecer seus mandamentos de amor. É isso que vivemos no nosso dia a dia? Até onde
nosso egocentrismo foi batizado? Amar é sair de si, a partir de onde o egoísmo começa
a mostrar suas raízes e seus brotos. Como vemos, em nós existe o filho mais novo,
que não era de natureza acolhedora aos desejos do Pai, mas que se converteu e passou
a caminhar unido ao seu coração. Contudo, como ainda estamos nesta vida e somos a
toda hora bombardeados por apelos contrários à nossa opção fundamental e vemos que
muitas vezes caímos, observamos que em nós subsiste o filho mais velho, que disse
sim ao Pai, mas que depois faz o que o desagrada.
Concluímos vendo que a atitude
de permanente conversão, de estado contínuo de exame de consciência e disposição para
se levantar, deve estar presente em toda nossa vida. Somos responsáveis por nossos
atos, mesmo que tenhamos consciência de que somos frutos da família e da sociedade,
enfim, de nosso mundo. Temos a capacidade de romper com o passado e caminhar em direção
a Deus e aos irmãos. Se nos sentimos fracos, a graça de Deus nos fortalece. O humilde,
aquele que não conta com seus dons, mas reconhece seus pecados e sua debilidade, esse
triunfará porque abre, em sua vida, espaço para Deus, e Deus é vida, Deus é amor.