2014-09-27 11:59:32

Cardeal Ravasi: na vida do cristão presente e eternidade se encontram


Cidade do Vaticano (RV) - Promovida pelo Pontifício Conselho para a Cultura, foi aberta na noite desta sexta-feira em Bolonha, norte da Itália, a iniciativa "Pátio dos Gentios", edição esta dedicada ao tema do tempo. O evento foi inaugurado com um diálogo entre o presidente do dicastério vaticano, Cardeal Gianfranco Ravasi, e o famoso cantor e compositor italiano, Gino Paoli. Mas o que é o tempo segundo a concepção cristã? Foi o que a Rádio Vaticano perguntou ao presidente do referido dicastério dedicado à cultura. Eis o que disse:

Cardeal Gianfranco Ravasi:- "A concepção cristã, diferentemente de certas outras concepções religiosas – pensemos nas concepções indianas que não conhecem a categoria tempo e conhecem somente a categoria da eternidade –, concebe uma espécie de entrelaçamento entre o tempo e a eternidade. Deus não está relegado nos céus de sua transcendência somente: entra na história. É por isso que a eternidade já está em pequena medida dentro do presente; é por isso que a vida de graça, como se costuma dizer com a linguagem católica, é na prática começar já a viver a vida da plenitude. Efetivamente, se declara: o Verbo se fez carne. O Verbo estava em Deus, que era Deus, se fez carne, isto é, história, humanidade, fragilidade. Mas as duas coisas estão juntas. Deus não é remoto e abstrato, o fiel para chegar até Deus não deve decolar da realidade rumo aos céus míticos e de certas místicas; deve, ao invés, viver dentro do presente – eis o empenho moral, o empenho existencial – porque aí Deus se revela. A fidelidade ao hoje se torna fundamental. Por isso no Evangelho segundo São João se dá muito relevo à hora, a hora de Jesus é o momento em que o tempo e o eterno se entrelaçam. Para nós, de certo modo, é assim: cada momento nosso tem em si uma aparição talvez de Deus, que não devemos deixar morrer, apagar. A grande doença, sobretudo de nossa sociedade, a sociedade atual, é a indiferença, a superficialidade."

RV: O tempo da oração pode ser considerado um tempo vivido na eternidade?

Cardeal Gianfranco Ravasi:- "Isso é muito verdadeiro: é o tempo da Liturgia. De fato, se olharmos bem, o sacerdote, quando celebra a Eucaristia e chega ao momento da chamada Consagração, fala no presente e fala em primeira pessoa, porque justamente se trata de um evento que se dá uma vez para sempre e que, porém, continua, porque é eterno. Portanto, pode irradiar o tempo inteiro."

RV: Este domingo o Papa encontrará os anciãos. Como o senhor vê esse encontro?

Cardeal Gianfranco Ravasi:- "A velhice é comumente considerada, do ponto de vista da Bíblia, sobretudo como o tempo da sabedoria. Infelizmente, porém, muitas vezes se dá que ou de um lado são somente um peso para a sociedade, ou, de outro, eles mesmos querem viver jovialmente, de modo quase ingênuo, porque provavelmente não têm mais um tesouro a comunicar e a sociedade atual, que é muito frenética, não lhes dá muito crédito."

RV: Pensando no Papa Francisco, muitos entre os que não professam nenhum credo apreciam aquilo que definem um "Pontífice de ruptura com o passado". O senhor poderia nos ajudar a entender, à luz da reflexão sobre o tempo, em que sentido a Igreja deve adaptar-se ao tempo histórico em que vive, embora permanecendo filha da tradição?

Cardeal Gianfranco Ravasi:- "A Igreja caminha sempre dentro da sua aventura histórica numa crista: de um lado tem princípios que são permanentes e esses princípios naturalmente permanecem, devem permanecer, são muito menos do que alguns pensam, porque a tentação de reconduzir tudo a princípio é mais simples, é esquemática; de outro lado, porém, não podemos nos esquecer que os princípios são para os homens, ou seja, para as pessoas, para a vicissitude humana e, como tais, por isso, levam também, encarnando-se, o peso da contingência, ou seja, o peso da cotidianidade e da história. Por esse motivo é preciso que a Igreja ininterruptamente veja que eles fenecem, por vezes perdem força, mas necessariamente devem ser lâmpada, luz que ilumina o caminho da história: portanto, com mudanças, variações, com uma atenção para as questões, as interrogações que a humanidade faz ininterruptamente ao longo dos séculos." (RL)







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