2014-09-27 14:39:16

Burkina-Faso tem ideias claras quanto à estratégia de alfabetização


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Em 2006 apenas 26% da população do Burkina-Faso era alfabetizada. Hoje são 54%. Um resultado obtido graças a um processo acelerado de alfabetização baseado na combinação de diversos factores, entre os quais o envolvimento da sociedade civil no processo de alfabetização geral, e de modo particular das mulheres. Facto que levou a UNESCO a atribuir à Associação nacional “Promoção da Educação Não Formal” um dos seus prémios deste ano para a alfabetização. Koumba Boly Barry foi membro desta Associação e hoje é Ministra da Educação e Alfabetização. Em recente entrevista à Rádio Vaticano ilustrou as estratégias de alfabetização no país. Saiba mais lendo em baixo e ouvindo a rubrica sobre as mulheres, clicando em cima….
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Não obstante os progressos feitos na alfabetização, 16% da população mundial não sabe ler nem escrever. Dois terços dos adultos analfabetos são mulheres. No Burkina-Faso, por exemplo, 8 mulheres em cada dez são analfabetas. É por esta razão que a Associação para a “Promoção da Educação Não Formal” deu início a cursos para melhorar as condições de vida das mulheres. Desde 1997 até hoje, cerca de 18 mil mulheres já beneficiaram desse programa. Aliás, essa Associação foi um dos vencedores da edição 2014 do prémio de alfabetização e desenvolvimento durável atribuído a 11 de Agosto passado pela UNESCO por ocasião do Dia Mundial de Alfabetização. Koumba Boly Barry, Ministra da Educação Nacional e Alfabetização no Burkina-Faso, é também membro dessa associação. O seu objectivo é ter uma taxa de alfabetização de 60%, tanto para homens como para mulheres no próximo ano.

Em entrevista à Rádio Vaticano, ela explicou que na base do maior analfabetismo entre as mulheres em África estão, certo, factores culturais, mas também o facto de o sistema educativo não estar muitas vezes organizado de forma a responder às exigências, à realidade, ao contexto das pessoas, e isto dificulta a resposta à oferta de educação. E as mulheres, de modo particular não encontram nessa oferta as condições necessárias para responderem a essa oferta educativa. Por isso – afirma – “trata-se de um desafio económico, conjuntural e cultural que faz com que essa camada da população não tenha acesso à educação.”
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Perante esta problemática, o Burkina-Faso decidiu pegar o touro pelos cornos e tomou uma série de medidas importantes para fazer face à situação: orientações do ponto de vista estratégico, politico e operacional. O caso do Burkina Faso é um caso bastante particular, porque houve uma vontade politica forte que permitiu, por exemplo, de criar um mecanismo institucional e político para se ocupar da alfabetização – explica a Ministra – frisando que foi instituído um Secretariado do Estado para Alfabetização, transformado depois em egado para a Alfabetização”.

Mas não basta ter vontade política. É preciso ter meios financeiros. Então – são ainda palavras de Koumba Boly Barry – foi criado em 2000/01 um fundo nacional para a alfabetização. Um outro elemento importante foi o envolvimento da sociedade civil nesse processo de alfabetização. Algo que, na opinião da Ministra distingue o Burkina-Faso.

É preciso reconhecer que o Burkina-Faso é um caso realmente particular neste domínio: o ter dado espaço e responsabilidade à sociedade civil para acompanhar o Governo na reflexão, planificação e actuação deste processo de aprendizagem sobre como erradicar o analfabetismo no país”.

A Ministra faz ainda notar que a sociedade civil está também implicada nesse fundo para a alfabetização que mobiliza actualmente 7 biliões de FCFA e tem a adesão de vários parceiros técnicos e financeiros, do Governo do Burkina Faso e do sector privado.

É, portanto, um mecanismo que mobilizou a sociedade do Burkina Faso no seu conjunto e que permitiu criar centros de alfabetização no país. Tudo isso permitiu ter um avanço significativo.
Em 2006, no Burkina Faso era de 26% a taxa geral de alfabetização. Hoje, segundo as estatísticas de que dispomos, estamos à volta de 54%. E isto porque houve essas medidas e sobretudo a implicação da sociedade civil que inovou, encontrando bons métodos pedagógicos, formulas alternativas que se adaptam aos diversos tipos de público alvo”.

Foi, portanto, a combinação do aspecto político, financeiro e operacional, mas sobretudo a mobilização social que, segundo a Ministra, permitiu chegar a esse resultado. “Este é, portanto, um exemplo do Burkina-Faso a nível do diálogo social” – remata Kouba Boly Barry.

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E ter uma mulher como Ministra da Educação e Alfabetização faz parte dessa estratégia de resposta à realidade das pessoas, tendo em conta que as mulheres são as menos alfabetizadas? E isso tem um maior impacto junto delas? – perguntou ainda a colega Christelle Pire à Ministra Kouba Boluy Barry.

É verdade que para algumas comunidades, como por exemplo, a que pertenço – a etnia peul, nómada - a escola não é uma prioridade. E, de algum modo, o facto de ver que há uma ou um membro desse grupo étnico que participou nesses processos e que hoje está numa instância de tomada de decisões, constitui, claramente para eles um modelo para o qual as mulheres, de modo particular, tendem a olhar na sua projecção e organização de vida.
Honestamente, muitas vezes, quando vamos para o meio rural e procuramos fazer sensibilização, notamos que essa imagem veiculada dá muito mais confiança às mulheres e encoraja-as a empenhar-se.
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Este ano a UNESCO pôs a tónica na “Alfabetização e Desenvolvimento Durável”. E ao anunciar os prémios, a Directora dessa Instituição, Irina Bukova, sublinhou que a alfabetização das mulheres é um dos alicerces para o desenvolvimento durável. Um conceito em que o Burkina-Faso se sente já à vontade, pois tem o exemplo do envolvimento da sociedade civil e leva em conta a equidade, isto é que dá espaço às mulheres e às meninas também – refere a Ministra, acrescentando:

“O objectivo é de ter em 2015 uma taxa de alfabetização de 60%, e esses 60% devem corresponder também a 60% para as mulheres. Mas além disso, esse conceito implica também a gratuidade da alfabetização porque sabemos que a população do Burkna-Faso, e sobretudo as mulheres são pobres. Então se queremos que tenham acesso à educação devemos assegurar-nos de que o que oferecemos seja acessível a esse público alvo. Daí a noção de gratuidade da alfabetização (…).
Mais ainda: encontramos o método pedagógico que se adapta concretamente à realidade das mulheres. Se as mulheres têm tarefas quotidianas como pilar o milho, ir procurar a lenha e se lhe disserdes que o centro de alfabetização abre-se às 7h e fecha às 17, é claro que não tereis nenhuma mulher no vosso centro de alfabetização. Há, portanto, que ter métodos de organização muito flexíveis e utilizar também os meios necessários porque se não podeis, por ex., ajudá-las a ter iluminação para alfabetização, é claro que será um público alvo perdido. E se não tiverdes em conta, o seu substrato cultural, utilizando, por ex., as línguas nacionais para lhe transmitir o saber, é evidente que não terá acesso a esse público. Para nós são todos esses elementos, que respondem a esses conceitos de alfabetização para o desenvolvimento durável, durável porque é equitativa, durável porque se constrói para todas as gerações. Não olhamos, portanto, só para os jovens e adolescentes que são excluídos do sistema educativo mas temos também em conta o espírito de “long life learning” , adultos, portanto: permitir a toda a sociedade de ter acesso à alfabetização.
Além disso, para o Burkina-Faso é toda a questão também da qualidade porque a alfabetização deve ser claramente um instrumento para o desenvolvimento, quer dizer se se dão instrumentos às pessoas é preciso assegurar–se de que esses instrumentos lhes permite organizar a própria vida futura em termos de autonomia, prever então sistemas de formação técnica específicos que permitam gerar recursos, mas sobretudo animar as pessoas através do dialogo sobre os desafios do desenvolvimento: lutar, por ex., contra a desertificação assegurar-se de que gerimos bem o desenvolvimento… Creio que se a associação foi recompensada, é precisamente porque em termos de rede de organização a nível nacional pôde inovar e responder ao contexto das mulheres, ajudando-as, a sair da pobreza e é certamente, por isso, que essa associação foi recompensada e pôde obter o prémio UNESCO”.
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Koumba Boly Barry, Ministra da Educação e Alfabetização no Burkina-Faso, um país que parece estar a levar a sério o conceito de “Educar ou Perecer”, título de um livro do falecido historiador e político do país, Joseph Kizerbo.

Foto: Ministra Koumba Boly Barry








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