2014-09-25 17:20:05

Card. Koch: Prossegue diálogo católico-ortodoxo, apesar das dificuldades


RealAudioMP3 Cidade do Vaticano (RV) – “A verdadeira alegria da fé aprendemos daqueles que sofrem, dos pobres”. Palavras do Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch, na conclusão da Plenária da Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, realizada em Amã, Jordânia, de 15 a 23 de setembro. Em destaque nos trabalhos, a análise do esboço do documento intitulado “Sinodalidade e Primado”, redigida pelo Comitê de Coordenação da Comissão em Paris, em 2012. A Rádio Vaticano perguntou ao Cardeal Koch, qual o progresso mais importante ocorrido deste encontro:

Card. Koch: “O progresso mais importante – na minha opinião – é que todos os participantes estão dispostos e desejosos de continuar o diálogo, mesmo que não seja exatamente fácil. Nesta ocasião, não foi possível apresentar à opinião pública um documento. De fato, o documento de preparação que havia sido proposto para a discussão e redigido pelo Comitê de coordenação de Paris, foi rejeitado, sobretudo pelos ortodoxos. Assim, decidimos preparar um novo documento sobre os pontos mais importantes referentes ao tema principal que era a “Sinodalidade e o Primado no primeiro milênio”. Este documento foi considerado como ‘não-amadurecido’. A este ponto, estabelecemos que no próximo ano se realizará um novo Comitê de coordenação para aprofundar e melhorar o texto e para chamar, depois, a uma nova Assembléia Plenária, de modo a poder completar o texto”.

RV: Onde e quando o senhor deseja que a nova Plenária possa ser realizada?

Card. Koch: “O próximo Comitê de Coordenação, como eu dizia, terá lugar no próximo ano; 2016 será um ano difícil para os ortodoxos, pois está prevista a realização do Sínodo Pan-Ortodoxo e as Igrejas Ortodoxas estão muito empenhadas. Penso, portanto, que a próxima Assembléia Plenária não poderá ser realizada antes de 2017”.

RV: O senhor espera que no Sínodo Pan-Ortodoxo de 2016 esteja na sua ordem do dia também a questão das relações ecumênicas com o mundo católico, e que assim se possa dar qualquer passo em frente?

Card. Koch: “Eu espero fortemente que este Sínodo Pan-ortodoxo se realize. De fato, a Assembleia Plenária nos mostrou as muitas diferenças existentes entre as próprias Igrejas Ortodoxas. Talvez existam mais diferenças entre os ortodoxos, do que entre ortodoxos e católicos. E se durante o Sínodo Pan-ortodoxo as Igrejas Ortodoxas conseguirem encontrar uma maior unidade entre elas, isto será de grande ajuda também para a continuação do nosso diálogo”.

RV: Por tradição, a Igreja Ortodoxa russa teve grandes dificuldades em aceitar os princípios enunciados no Documento de Ravena, sobre o qual se baseia esta discussão. Isto representa ainda um problema importante para o senhor nesta discussão?

Card. Koch: “O problema maior que a Igreja russo-ortodoxa vê no Documento de Ravena, é o parágrafo no qual se fala do plano universal em vista da relação entre sinodalidade e primado. Aceitam um primado a nível geral, mas não no sentido teológico. E isto se torna um desafio difícil para nós católicos; devemos encontrar um maior consenso. Mas posso dizer, honestamente, que nesta assembléia, a colaboração com a delegação russo-ortodoxa foi boa. O Metropolita Hilarion declarou-se disposto a colaborar no Comitê de redação para a elaboração do novo texto, ou seja, uma colaboração realmente boa. E depois, naturalmente, o que sempre transparece dele é a grande crítica dirigida à Igreja Greco-católica na Ucrânia, e neste contexto ele sempre reiterou muito claramente que o uniatismo – isto é, as Igrejas uniatas -, representam uma ferida no Corpo de Cristo. E aqui, infelizmente, me permito de contradizê-lo e de responder-lhe que a verdadeira ferida é a divisão da Igreja entre Leste e Oeste e que o uniatismo é uma conseqüência desta ferida, e que se queremos resolver o problema do uniatismo devemos encontrar a unidade: somente assim poderemos resolver este problema”.

RV: O encontro realizou-se em Amã, na Jordânia, onde se encontram centenas de milhares de refugiados católicos e ortodoxos, fugidos dos conflitos no Iraque e na Síria. Este testemunho comum, esta perseguição comum, este ecumenismo do martírio – como às vezes é chamado – poderá fazer a diferença no sentido de ajudar as Igrejas a encontrarem uma visão comum?

Card. Koch: “No início eu estava um pouco preocupado, pois fomos justamente nesta região desenvolver o nosso diálogo. Esperava que daríamos um sinal melhor da unidade entre ortodoxos e católicos, justamente nesta difícil situação. Após, porém, também me comovi com o encontro com o Príncipe da Jordânia, que quis fazer uma visita à Assembléia Plenária, por cuja realização havia trabalhado muito, e que falou: “Justamente quando existem as crises é que não se deve colocar fim ao diálogo, pelo contrário, se deve continuá-lo”. E acredito que este tenha sido um bom sinal. Naturalmente, todos estávamos muito preocupados pela situação do Oriente Médio; rezamos tanto pelos irmãos e irmãs perseguidos. Ficamos também muito tocados pela grande disponibilidade que o Rei da Jordânia demonstra em relação aos refugiados: acredito que atualmente existam na Jordânia cerca de 1 milhão de refugiados, sobretudo vindos do Iraque, e todos são acolhidos. Tivemos a ocasião – uma pequena delegação, em particular os dois presidentes da Comissão – de ir a um campo de refugiados e foi muito comovente o encontro com estas pessoas, perceber o medo deles... E o que mais me tocou foi a alegria que emanava para a fé deles e isto me fez entender mais uma vez que a verdadeira alegria da fé, a aprendemos daqueles que sofrem, dos pobres”. (JE)











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