Padre Lombardi: a Albânia tocou profundamente o coração do Papa
Uma visita
que permitiu ao Papa Francisco descobrir de perto a história e a alma da Albânia,
ao lado de um povo que não se esquece das suas feridas mas que tomou há muito tempo
o caminho da reconciliação. O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, e director
geral da Rádio Vaticano, padre Federico Lombardi, condensa em alguns pontos a quarta
viagem apostólica, partindo do abraço comovido do Papa aos sobreviventes da perseguição
comunista, durante a celebração das vésperas. O que significou aquele encontro?
Não
me surpreendeu, de facto, este momento de profunda emoção,
porque o temado martírio,
do testemunho daféem
situaçõesextremamentedifíceis,é um temaque o Papasente
muito, etodos nós sentimoscom
ele.Já o experimentámos
também na Coreia,recentemente,apesar de ter sidoummartírio
namaioria dos casos, de tempos um
pouco maisdistantes.Na Albânia,
pelo contrário,são tempos muitopróximos etivemos encontro com testemunhasque, se não foram
mártires eles mesmos, no
sentido de perderemas próprias vidas, na
verdade, viveramo mesmo tipo deexperiência
daqueles que foram mortos naperseguição.Ora, neste dia apresença
do grandemartírio foi muito
grande, muito forte. Viu-senaquelabelíssima apresentaçãoque os albaneses
fizeram, com as grandes fotografias
dos40 mártires
cuja Causa de beatificação está em curso, que estavam penduradasao longo doBoulevard percorrido
várias vezes durante o dia eque estava
precisamente diante da sede da Missa e em frente do Palácio Presidencial.Eeste foi umimpacto
muito grande. Além disso,me
dei conta deque, também paraos
albaneses foi umimpactomuito
forte,porque eles sabem bem que tiveram
estahistória, masos
rostos concretos destas40pessoas das quais está em curso a Causa
de beatificação, muitos não os conheciamou não os tinham assim tãopresentes. Revê-los assim em frente na sua realidade concreta
fezuma grandíssima impressão
também aos próprios albaneses.Deu-lhesum sentimento depresença daquilo que
foi vivido nas décadas passadas doséculo
passado. E o Papa viveu-o em primeira pessoa, muito. E
portanto, quandose encontrou diante destas duas pessoas,
duas testemunhas que com grande simplicidade
contaram o que tinham vivido, a emoção foi grandíssima:
a sua e a nossa. Lembro-me que também
durante acomunhão, na
parte da manhã, houve um belíssimo cantocantadoem albanês, e portanto
muitosnão entendiam o queestava a dizer, mas eram as palavras daCarta aos Romanos de SãoPaulo,
que dizia: "Quem nosseparará
do amordeCristo?Será tribulação, ou a angústia,
ou a perseguição? Nada nos vai nunca
separar doamor de Cristo”. Este canto belíssimo,comtodas as figuras dos mártires
em frente, deu-me um momento deemoção fortíssima, pessoal, de certa maneira
semelhante àquilo que de maneira muito maisimportante
o Papaviveuno período da
tarde, ao encontrar e abraçarestas
duas testemunhas.Foi
natural, na sensibilidade doPapa, ter falado
em seguida de improviso, dizendo da plenitude docoração aquilo que ele estava a viver naquele momento.
E, certamente,para nós -que conhecemosum poucoo
que foi a históriarecenteda Albânia–não
se pode ir à Albâniasem sentiresta intensidadedesta presença.
O Papatambém teve palavrasmuito bonitasquando disse que
ia espiritualmente àquele muro do CemitériodeScutari, onde foram
fuzilados vários dosmártires. Pessoalmente,
tambémfiquei agradecido e impressionadoque o presidente tenha querido recordar a
vozda Rádio Vaticano, como a
voz quevinha de Roma, trazendo
as mensagens de confortodo
Papaaos albanesesperseguidos.
Enão é por nada, também no
passado aqui, o primeiro-ministroda Albânianos trouxeo
prémio, queé a Ordemde Madre
Teresa, o mais alto prémio do país, precisamente
pelo serviço prestado naquele tempo pela RádioVaticano. Eis,
pois, que omartírioe a perseguiçãosão,na história daIgreja
e navida da Igreja, momentos
dereferênciaabsolutamente
fundamentais, são aqueles em queverdadeiramenteo amor deCristo e o amor
por amor Cristoe o amor de Cristopor nós se manifestade
forma maisintensa. Não admira
pois, que tenham sido os momentos mais intensos também na experiência
do Papa durante uma viagem como esta, seria na verdade surpreendente o contrário.
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Um outro momento intenso foi o encontro do Papa com as crianças hospedadas na Casa
Betânia, uma estrutura que acolhe crianças com vários tipos de desconforto. E aqui,
o Papa, ao abraçá-los e falando aos presentes, usou um pensamento que se repete,
ou seja, que "a bondade não é uma fraqueza" ... O que o impressionou mais deste momento?
Emcada viagem do Papa, há um momento dedicado
explicitamenteao tema da caridade e do empenho da Igreja
no mundodacaridade,
da assistência, dosgestos concretos deatençãopara quem é pequeno, para quem é
pobre, para os doentes e para quantos estão em dificuldade.E,
portanto, a visita ao Centro Betânia foi
uma parte essencial deste itinerário. Gostaria dedestacarainda uma pequenareferênciaque o Papafez quase de forma
marginal, mas que não era casual neste discurso
eé a referência ao perdão:
ou seja, o amor quese manifesta nacaridade operativa étambém um amorcapaz de perdoar,e na sociedadealbanesa
-que tem muitosvalores emuitas virtudesque foramabundantemente recordados – existe, porém,
também uma tradição, por vezes, de vingançaslocais, de dificuldades dereconciliação.Mesmo os nossosmissionários, emmuitos anos,
sobretudo em regiõesmontanhosas ou difíceis
do País, trabalharam muitopara a reconciliação:
reconciliação entre as famílias, superando rancores tradicionais
que inquinam por vezes asrelações
entre as pessoas. E esta referênciado
Papapara superarqualquer
sentimento derecriminação ligada ao passado,a umacapacidade de perdãoe de reconciliação plena, é uma bela mensagem:
valia paraos albaneses, e vale -realmente-um
pouco para todos.
Durante o dia, o Papa Francisco teve
a oportunidade de exprimir-lhe algo sobre os seus sentimentos em relação àquilo que
estava a viver?
Todos o viram; todos puderam ver umdetalhe
que eugostaria de salientar: que
o Papa se movimentou ao longo do diano
jeep descoberto,através da cidade deTirana,
e portanto também os rumoresque foram feitos
antes, de preocupações, ameaças, riscos,
etc., na realidade manifestaram-se absolutamenteinfundados.O Papa movimentou-se como se movimenta habitualmente,
sem qualquer obstáculoe semqualquer distância.