2014-09-19 11:59:52

Caridade e partilha


Rio de Janeiro (RV) - Vivemos em nossa Arquidiocese o “Ano da Caridade”. Neste tempo, dentro daquilo que programou o Plano de Pastoral, somos chamados a nos organizar melhor em nossos trabalhos de “caridade social”.

O Papa Francisco lançou no Dia dos Direitos Humanos do ano passado uma campanha mundial: “Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas”, organizada pela Caritas Mundial. Ele mesmo, em seu pronunciamento, lembrou: “Por isso, queridos irmãos e queridas irmãs, convido-os a abrir um espaço em seus corações para esta urgência, respeitando o direito dado por Deus a todos de ter acesso a uma alimentação adequada. Compartilhemos o que temos, em caridade cristã, com os que são obrigados a enfrentar muitos obstáculos para satisfazer uma necessidade tão primária; e, ao mesmo tempo, promovamos uma autêntica cooperação com os pobres para que, através dos frutos do seu e do nosso trabalho, possamos viver uma vida digna. Convido todas as instituições do mundo, toda a Igreja e cada um de nós, como uma única família humana, a dar voz a todas as pessoas que passam fome silenciosamente, a fim de que esta voz se torne um grito que possa sacudir o mundo”!

Como legado social da JMJ ocorrida no ano passado, foi criada a “rede” para encaminhamentos dos dependentes químicos. Também quisemos celebrar o primeiro aniversário da JMJ com uma grande campanha de alimentos para o Haiti. As notícias de que lá nos chegam é que a fome ou a nutrição seria a “grande doença” principalmente das crianças. Daí o nosso gesto concreto em arrecadar alimentos para serem distribuídos no Haiti.

Sabemos que o trabalho social é consequência da evangelização, do amor ao próximo. Nós saberemos se estamos realmente evangelizando ao sentirmos a resposta às necessidades de missão, catequese e trabalhos sociais por parte de nosso povo. Nesse sentido, neste ano da caridade, pudemos ver os grandes passos que estão sendo dados.

Meditando sobre os Evangelhos, impressiona-nos a mensagem de Cristo fundada totalmente no amor aos irmãos, na caridade. Jesus nos apresenta o Pai como o doador de tudo, que nos ama a ponto de dar o Filho à morte para a salvação dos homens. Em várias respostas aos fariseus e aos legistas, Jesus reafirmou o primeiro mandamento do amor a Deus, mas, logo a seguir, completa o amor ao próximo, que lhe são semelhantes. Ilustra-o na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37).

As cartas do apostólo João insistem no mesmo aspecto catequético e, com clareza apostólica, afirma que aquele que diz amar a Deus e não amar a seus irmãos é um mentiroso. E continua afirmando, que é muito fácil proclamar que amamos a Deus, a quem não vemos, mas se desprezamos os irmãos que estão a nosso lado, onde estão a caridade, onde estão o amor? (1Jo.4,20).

São Paulo, na sua Carta aos Coríntios (Coríntios 13), proclama e exalta a caridade. Somos levados a interpretar esse hino como o amor ao Pai Celeste. Mas, o apostólo fala da excelência do amor entre os irmãos. Ainda que eu falasse todas as línguas dos anjos, ou tivesse toda a ciência, sem a caridade seria um bronze que soa e cujo som se perde nas quebradas dos montes. Logo a seguir nos ensina em que consiste a caridade: na paciência, na humildade, no fazer o bem, na longanimidade, na partilha da dor e da alegria com os irmãos, no perdão tão difícil. E conclui pela perenidade do amor e da caridade. Tudo cessa quando vier a perfeição, exceto a caridade, pela qual seremos medidos.

No dia do Juízo, quando o Filho do Homem, na Sua glória, vier nos julgar, escreve o evangelista Mateus, Ele nos questionará sobre o nosso coração: se ele se abriu ou fechou sobre os pequeninos que moravam em nossas casas, no nosso bairro, na nossa comunidade. Uma antiga música nos recorda: “como posso ser feliz, se ao pobre, meu irmão, eu fechei o coração, meu amor eu recusei!” Já nesta vida mortal, podemos sentir as delícias dessa vida fraterna, como rezamos nos salmo: “quão bom e quão é alegre a vida comum entre os irmãos”. Não é fácil o exercício dessa caridade; o empecilho do pecado que herdamos de Adão leva-nos a outro tipo de vida. Conhecedor da natureza humana, Jesus, no Sermão da Montanha, nos dá regras práticas de sua vivência.

E como se não bastasse a Sua Palavra, deu-nos o Seu exemplo: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei, e entregou-se por amor a nós na cruz.

Partindo dessa rápida reflexão, quisemos fazer uma breve meditação do sentido e da importância da caridade na vida comunitária e pessoal.

Quando o Evangelho permeia nossas vidas, até mesmo as atitudes de partilha passam a ter outro peso e conotação. A arrecadação de alimentos para a Campanha de Alimentos para o Haiti superou todas as expectativas! Louvado seja Deus! O povo carioca demonstrou a sua abertura ao outro, a preocupação com o irmão. Tivemos oportunidade de ver isso acontecer quando do acolhimento de jovens na JMJ. Agora, também na doação de alimentos. Estamos ultimando a preparação e embalagem do que foi arrecadado para enviar ao destino, para que sejam distribuídos pela comunidade católica missionária franciscana que está no Haiti.

Mas, quero também aproveitar para agradecer o empenho de todos na arrecadação desses alimentos para ajudar os nossos irmãos haitianos. Quisemos partilhar o pouco que temos com os nossos irmãos do Haiti que se encontram numa situação de miséria material e humana. A nossa Campanha de Arrecadação aconteceu do dia 26 de julho até o dia 14 de setembro, com doações de mantimentos e doação em dinheiro em conta bancária da Caritas Arquidiocesana. Conseguimos alcançar e superar o nossa meta! Isso demonstra que existe no coração do nosso povo a abertura para o outro! Como isso foi isso possível, o será também na continua busca de acolher e ajudar o próximo na pessoa do irmão que está ao nosso lado.

Portanto, os meus agradecimentos aos bispos auxiliares, aos vigários episcopais, aos freis franciscanos na Providência de Deus, aos padres, às entidades, aos consagrados, aos diáconos e todo o amado e querido povo de Deus que se empenhou para que pudéssemos realizar esta Campanha. Esse gesto Demonstrou como é importante esse “sair de si” para olhar para o outro necessitado e partilhar. A resposta generosa nos comoveu a todos e nos fez agradecer ao Senhor pelos sinais que vemos acontecer em nossa cidade.

A todos os meus votos de “paz e bem”, e que a bênção de Deus recaia sobre cada um de vocês. Convoco-os para nunca se cansarem de repetir o gesto de um grande carioca que está caminhando para os altares, nosso querido D. Luciano Mendes de Almeida, que nos ensinou o gesto concreto que todos viveram: “em que posso ajudar?”, ou seja, o que eu posso fazer para te ajudar? Repitamos essa pergunta muitas vezes em nosso dia a dia. Para que em tudo seja Deus glorificado!

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ








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