Porto Alegre (RV) - A palavra ‘comunidade’ diz que nós, os comunitários, os
que se consideram participantes da comunidade, temos algo em comum. A pergunta que
logo nos fazemos é: o que temos em comum, nós que vivemos e nos sentimos engajados
numa determinada comunidade? Temos em comum uma tradição, com direitos e deveres,
compromissos e orientações; temos em comum o Batismo que nos introduz no caminho da
salvação (cf. Cl 1,21-23).
A comunidade dos batizados é chamada a viver o compromisso
assumido, isto é, a renúncia ao mal e o cultivo da fé no Deus Uno e Trino; e como
peregrinos de uma mesma tarefa, onde “não há mais judeu ou grego, escravo ou livre,
homem ou mulher, pois todos (...) são um só, em Cristo Jesus (Gl 3, 28), cada um se
empenha por cultivar os próprios carismas, tendo em vista o bem de todos (cf. Ef 4,7-16).
Assim, a participação na vida da comunidade dos batizados se torna exercício da vida
de Jesus Cristo, pois pelo batismo fomos revestidos de Cristo (Gl 3,27).
O
que constitui a comunidade é o Batismo. O que une a comunidade é o empenho, a busca,
a determinação, o querer fazer nossos os sentimentos de Cristo Jesus, de quem fomos
revestidos. Assim, ter simpatia por esse ou aquele movimento, participar desse ou
daquele grupo, sentir-se mais ou menos identificado com essa ou aquela teologia ou
espiritualidade, ter ou não ter estudos, estar investido deste ou daquele ministério,
o engajar-se mais ou menos na vida cotidiana da comunidade não é necessariamente expressão
de uma compreensão vigorosa do ‘batismo que nos lavou, do espírito que nos deu nova
vida e o sangue que nos redimiu’. O que verdadeiramente importa é o testemunho do
compromisso que provém da fé assumida no Batismo, que cada pessoa dá naquele lugar,
situação ou realidade onde se encontra. Esse empenho não é atual ou antigo, nem ultrapassado
ou moderno, conservador ou progressista: Ele é sempre novo, pois sempre é desejo e
determinação de renascer em “Espírito e Verdade”.
A dimensão comunitária da
fé cristã, ao longo da história, se expressou de diferentes modos. Hoje, lugar privilegiado
de expressão da fé cristã são as Paróquias. Elas continuam sendo lugar significativo
onde o cristianismo se torna visível. Ali os batizados se encontram na celebração
dos mistérios da salvação, exercitam-se na caridade e anunciam o que creem.
A
Paróquia, com seus limites geográficos, faz parte de um todo maior; ela está unida
às outras Paróquias, formando, assim, uma rede, uma comunhão de Paróquias, que, unidas,
constituem a Diocese.
Portanto, a comunidade cristã se caracteriza pela comunhão
de batizados que formam uma Paróquia. “Nela todas as diversidades humanas estão representadas
e inseridas na universalidade da Igreja”. Desse modo se expressa o valor da Paróquia
que, por sua vez, em comunhão com as outras Paróquias de uma determinada região ou
rito, constituem uma Igreja Particular ou Diocese.
Nenhuma comunidade cristã,
nenhuma Paróquia é uma ilha! Também não é um ‘gueto’ ou espaço de ‘privilegiados’.
Ela é lugar de vida, espaço onde pessoas marcadas por virtudes e fragilidades buscam
viver a fé, testemunhar o batismo, praticar o bem e a justiça, em comunhão com as
demais comunidades e/ou Paróquias.
Dom Jaime Spengler Arcebispo
Metropolitano de Porto Alegre