Atualidade internacional polariza coletiva do Papa em sua viagem de volta da Coreia
Cidade do Vaticano (RV) - O Boeing 777-200 da Korean Airlines que trouxe
o Papa de Seul de retorno para Roma aterrissou às 17h54 no aeroporto Ciampino. Durante
o voo o Santo Padre falou aos jornalistas sobre os momentos mais importantes desta
sua terceira viagem apostólica internacional, sobre as emoções vividas em vários encontros,
bem como sobre a atualidade internacional do Iraque ao Oriente Médio em geral.
O
pensamento voltado para o povo coreano abriu e fechou substancialmente o diálogo articulado
em dezesseis perguntas que o Papa teve com os jornalistas, mas foi a atualidade internacional
a destacar-se entre os temas tratados.
Em primeiro lugar, o Iraque: a aprovação
ou não ao bombardeio estadunidense e uma hipotética viagem do Pontífice ao País do
Golfo. "Estou disposto a ir", disse o Papa Francisco, "mas neste momento não é a coisa
melhor a ser feita", e depois reiterou: "É lícito frear o injusto agressor", frear,
"não digo bombardear", esclareceu, e, portanto, "avaliar os meios com os quais fazê-lo":
"É
lícito frear o injusto agressor. Mas devemos ter memória, recordar, também, quantas
vezes sob esse pretexto de frear o injusto agressor as potências se apossaram dos
povos e fizeram uma verdadeira guerra de conquista! Uma só nação não pode julgar como
conter, como frear um injusto agressor."
Depois, tratou da guerra no Oriente
Médio. Foi inútil a oração em junho, no Vaticano, com Abu Mazen e Shimon Peres? Foi-lhe
perguntado. Aquela iniciativa "nascida de homens que creem em Deus" "absolutamente
não foi um falimento", respondeu o Papa: sem oração, não há negociação nem diálogo,
explicou. Portanto, foi um passo fundamental de atitude humana". "Creio que a porta
tenha sido aberta":
"Agora a fumaça das bombas, das guerras não deixam ver
a porta, mas a porta ficou aberta a partir daquele momento. E eu creio em Deus, creio
que o Senhor olhe para aquela porta e para os que rezam e pedem que Ele nos ajude."
As
emoções sentidas encontrando tantas testemunhas na Coreia foram ocasião para o Papa
para falar dos efeitos da guerra. No abraço com as anciãs sobreviventes da deportação
no Japão na II Guerra Mundial, Francisco disse ter visto a dor de todo o povo coreano,
dividido, humilhado, invadido e, no entanto, forte em sua dignidade. Daí, uma advertência
ao mundo: "devemos parar um pouco e pensar no nível de crueldade a que chegamos".
Em seguida, usou palavras fortes sobre a tortura, utilizada, disse Francisco, "nos
processos judiciários e pelos serviços de inteligência":
"A tortura é um pecado
contra a humanidade, é um delito contra a humanidade, e digo aos católicos: torturar
uma pessoa é pecado mortal, é pecado grave!" É mais que isso: é um pecado contra a
humanidade.
Perguntado pelos jornalistas, o pensamento do Pontífice voltou
também à abertura ao diálogo com o povo chinês, definido "belo, nobre e sábio", com
o qual, disse Francisco, "a Santa Sé tem os contatos abertos".
Falou também
sobre o processo de beatificação do arcebispo de San Salvador, Dom Oscar Arnulfo Romero,
"desbloqueado", explicou o Papa, com os votos de que agora "se esclareça e se acelere".
Em
seguida, como era de se esperar, as perguntas sobre as viagens previstas para 2015:
é dada por certa a etapa Filadélfia (EUA), para o Encontro Mundial das Famílias, à
qual poderiam acrescentar-se Nova York e Washington. Prováveis, posteriormente, uma
viagem ao México e outra à Espanha.
Por fim, não faltaram curiosidades sobre
a vida do dia a dia do Pontífice: a vida normal na Casa Santa Marta, no Vaticano,
as férias feitas num "ritmo diferente" com mais leitura, mais repouso e mais música
e, ainda, a relação com Bento XVI, uma relação fraterna feita de troca de opiniões.
A decisão que toma hoje um Papa, tornando emérito, afirmou Francisco, "abriu" uma
"porta institucional":
"Porque a nossa vida se alonga e a uma certa idade não
se tema mais a capacidade de governar bem, porque o corpo se cansa... pode se ter
boa saúde, mas não se tem a capacidade de levar adiante todos os problemas de um governo
como o da Igreja. E creio que o Papa Bento XVI fez esse gesto dos Papas eméritos.
Repito: talvez algum teólogo me diga que isso não é justo, mas eu penso assim. Os
séculos dirão se é assim ou não. Veremos. Mas você poderá me dizer: "E se um dia sentir
que não dá mais para seguir adiante?" Eu farei o mesmo! Farei o mesmo. Rezarei, mas
farei o mesmo." (RL)