Papa aos bispos na Ásia: não cair na tentação do "relativismo", "superficialidade"
e "aparente segurança"
Haemi (RV) – Penúltimo dia da Viagem Apostólica do Papa Francisco à Coréia.
Na manhã deste domingo, o Pontífice deixou a Nunciatura Apostólica, em Seul, dirigindo-se,
de helicóptero, para Haemi, a 102 km da capital coreana, onde se encontra o Santuário
do “Mártir desconhecido”.
O Santuário de Haemi é dedicado "ao mártir desconhecido"
porque a identidade da maior parte dos 132 mártires coreanos mortos naquele lugar
na metade do Séc. XIX é desconhecida.
Ali, o Santo Padre manteve um encontro
com os Bispos do Continente Asiático. Após a celebração da Liturgia das Horas o Cardeal
Oswald Gracias, arcebispo de Mumbay, na Índia, e Presidente da Federação das Conferências
Episcopais da Ásia (FABC), fez uma saudação ao Santo Padre, na qual, entre outros,
mencionou os problemas fundamentais da Igreja neste continente.
O purpurado
indiano aludiu, ainda, à missionariedade da Igreja universal no contexto asiático.
60% da população mundial vive na Ásia. É um continente em que a maioria da população
é jovem. Consequentemente, de várias formas, a Ásia é, realmente, fundamental para
o futuro do mundo e o futuro da Igreja.
O Papa iniciou seu pronunciamento dirigindo
uma fraterna e cordial saudação a todos, agradecendo ao Senhor, que os reuniu naquele
lugar sagrado, onde numerosos cristãos deram a sua vida pela sua fidelidade a Cristo.
Em suas palavras introdutórias, Francisco acrescentou uma breve apreciação:
"Disseram-me
que há mártires sem nome, porque não sabemos o nome deles: são santos sem nome. Isso
me faz pensar nos muitos, muitos cristãos santos, em nossas Igrejas: crianças, jovens,
homens, mulheres, anciãos... Muitos! Não sabemos o nome, mas são muitos. Faz bem a
nós pensar nessas pessoas simples que levam avante a sua vida cristã, e somente o
Senhor conhece a santidade delas."
E voltando a falar sobre os mártires coreanos,
disse que o testemunho deles de caridade se tornou graça e bênção para a Igreja na
Coreia e além de suas fronteiras.
Diálogo, identidade cristã, empatia em relação
a todos, num autêntico espírito contemplativo de abertura e de acolhimento do outro.
De
fato, em seu discurso aos bispos da Ásia o Santo Padre lançou um olhar sobre a missão
da Igreja em todo o continente asiático.
“Neste vasto Continente, onde convive
uma grande variedade de culturas, a Igreja é chamada a ser versátil e criativa no
seu testemunho do Evangelho, através do diálogo e da abertura a todos. Este é o desafio
de vocês! Na verdade, o diálogo faz parte essencial da missão da Igreja na Ásia. Devemos
empreender o caminho do diálogo, com indivíduos e culturas, partindo da nossa identidade
própria de cristãos, com abertura de mente e de coração."
Neste sentido, o
Santo Padre chamou a atenção dos pastores asiáticos para não cair na tentação do espírito
do mundo, que se manifesta de três maneiras: o “relativismo”, que obscurece o esplendor
da verdade, se infiltra nas comunidades cristãs e enfraquece a nossa identidade; a
“superficialidade”, que, numa cultura, exalta o efêmero e oferece numerosos lugares
de evasão e fuga, representando um grave problema pastoral; e a “aparente segurança”
humana de esconder-se atrás de respostas fáceis, frases prontas, leis e regulamentos.
Por
isso, afirmou o Papa, precisamos de muita fé, que impele à missão e nos dá a capacidade
de ser corajosos e humildes no nosso testemunho de esperança e amor. Neste sentido,
a identidade dos Pastores das diversas Igrejas consiste no compromisso de adorar a
Deus, amar, servir e dar testemunho cristão aos outros.
Enfim, a fé viva em
Cristo constitui a nossa identidade mais profunda, da qual brota o diálogo e a simplicidade.
Um diálogo autêntico requer capacidade de empatia, fruto de uma vida espiritual e
da experiência pessoal. Neste sentido, o diálogo exige um autêntico espírito de contemplação,
abertura e receptividade. Somos enriquecidos pela sabedoria da abertura aos outros.
E Pontífice concluiu, fazendo um auspício:
“Com este espírito de abertura aos
outros, espero firmemente que os países do seu Continente, com os quais a Santa Sé
ainda não mantém plenas relações, não hesitem em promover um diálogo em benefício
de todos. Não me refiro somente ao diálogo político, mas ao diálogo fraterno”.
Diante
de um grande Continente Asiático como este, disse por fim o Papa, com sua vasta extensão
de terra e antigas culturas e tradições, damo-nos conta de que suas comunidades cristãs
têm a missão de levar a luz do Evangelho até aos confins da terra. Que o Bom Pastor
guie e robusteça seus os esforços na missão de reunir o seu rebanho espalhado pelo
mundo.
Ao término do encontro com os Bispos da Ásia, o Papa Francisco cumprimentou
cada um dos presentes, com os quais, depois, almoçou no refeitório da Residência do
Santuário. (MT/RL)