2014-08-17 07:19:10

Aos Bispos asiáticos, Papa Francisco recorda a missão da Igreja naquele continente - Importante intervenção do Cardeal Gracias


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A manhã deste domingo, 17, para o Papa Francisco, passou-se sobretudo no no Santuário de Haemi, lugar que recorda os cristãos mortos nas sangrentas perseguições do séc. XIX, onde o Papa se encontrou antes de tudo com os Bispos provenientes de toda a Ásia.
O Card. Osvald Gracias, arcebispo de Mumbay e presidente da Conferência dos Bispos da Ásia pronunciou a sua saudação ao Papa.


O Cardeal Gracias recordou antes de tudo o primeiro encontro asiático com o Papa Paulo VI nas Filipinas, em 1970, e a sucessiva decisão dos bispos da Ásia, para formar uma Conferência episcopal continentais (FABC), como estrutura de confronto constante; mas também semelhante às outras estruturas supranacionais e continentais, como o CELAM, SECAM, ECCE. De modo sintético o Presidente da FABC, descreveu o desenvolvimento da Conferência, das suas respectivas comissões e atividades. A FABC assiste continuamente as Igrejas na Ásia através dos seus Secretariados, com programas de formação e animação pastoral para os bispos, os especialistas e todos os envolvidos no sector. Sem violar a autonomia das Conferências Episcopais individuais, a FABC exerce com delicadeza a sua influência sobre a Igreja na Ásia. Esta era exatamente a visão dos seus pais fundadores.


Nesta saudação ao Papa, o Cardeal Gracias inseriu também uma reflexão sobre a natureza missionária da Igreja universal no contexto asiático. 60 por cento da população mundial vive na Ásia. É um continente onde a maioria da população é jovem. Como resultado, em muitos aspectos, a Ásia é realmente fundamental para o futuro do mundo e o futuro da Igreja.
As Igrejas na Ásia identificaram três áreas de desenvolvimento, porque são três os principais desafios que estamos a enfrentar: um diálogo com as culturas, um diálogo com os pobres, e um diálogo com as religiões. O que nos diz o Evangelho em relação a estes três grandes realidades, que estão, todos os três, diante de três ameaças: as culturas parecem perder a sua vitalidade interior; os pobres arriscam não ser incluídos nos processos de crescimento, mas de serem pelo contrário excluídos deles; e alguns grupos religiosos começam a ver no fundamentalismo o seu seu único meio de sobrevivência.


Neste contexto, o episcopado asiático vê cinco grandes desafios para a Igreja na Ásia:
- O secularismo e o materialismo estão se a tornar cada vez mais prevalentes na sociedade asiática. A população asiática é por natureza religiosa. Ora, alguns estão a descobrir que Deus foi empurrado do centro da vida das pessoas para as suas margens.

- A família, que já foi considerada tão importante para toda a sociedade asiática e tão enraizada nela, agora está a ser lentamente corroída. Verificam-se ataques à santidade da vida matrimonial. O divórcio, que antes era considerado um tabu, agora não é assim tão raro.
- Os movimentos contra a vida estão a crescer, ameaçando a própria vida de várias maneiras: conflitos étnicos, desordens entre comunidades, violenta supressão de diversas convicções religiosas; uma trágica ameaça da vida de pessoas indefesas, como os não-nascidos. E mesmo a eutanásia começou a ter apoiantes.
- A alma asiática procura e encontra alegria na comunidade. Mas até mesmo este aspecto é afetado por um forte senso de individualismo rastejante, a falta de atenção para com o outro e a indiferença às suas necessidades, a perda do espírito de hospitalidade e abertura que era tradicionalmente inerente a todas as sociedades asiáticas .
- Estamos a perder o espírito da harmonia inter-religiosa e, recentemente, temos assistido a um número crescente de ataques à religião. Nalguns países, a perseguição aos cristãos está a aumentar. A oposição a eles vem de uma religião predominante, e por vezes por ideologias que querem impor a autoridade política sobre os grupos religiosos.


No seu discurso, o Papa Francisco centrou-se no papel da Igreja no vasto continente da Ásia, onde habita uma grande variedade de culturas. A Igreja é chamada a dar um testemunho do Evangelho, através do diálogo e a abertura para com todos. O ponto de partida e o ponto de referência fundamental é a nossa própria identidade, a nossa identidade de cristãos. Não podemos empenhar-nos num verdadeiro diálogo, se não somos conscientes da nossa identidade. Se queremos comunicar de maneira livre, aberta e frutuosa com os outros, devemos ser bem claros sobre aquilo que somos, o que Deus fez por nós e o que Ele requer de nós. E se a nossa comunicação não quer ser um monólogo, deve haver abertura de mente e coração para aceitar indivíduos e culturas.

E a propósito do testemunho e do diálogo o Papa centrou-se em três dificuldades que se devem prever e evitar de forma madura:

O primeiro é o relativismo que nos empurra em direção às areias movediças da confusão e do desespero. É uma tentação que no mundo de hoje também afeta a comunidade cristã, advertiu o Papa, esclarecendo que não se trata apenas de relativismo entendido como um sistema de pensamento, mas daquele relativismo prático quotidiano que, de maneira quase imperceptível, enfraquece qualquer identidade.
A segunda maneira em que o mundo ameaça a solidez da nossa identidade cristã é a superficialidade: as coisas da moda, da evasão e fuga. Um sério problema pastoral, disse o Papa. Para os ministros da Igreja, esta superficialidade pode se manifestar também em ser fascinado pelos programas pastorais e pelas teorias, em detrimento do encontro direto e frutuoso com os fiéis, especialmente os jovens, que pelo contrário precisam de uma catequese sólida e uma segura guia espiritual. Sem estar enraizados em Cristo, as verdades para as quais vivemos acabam por se inclinar, a prática da virtude se torna formalística e o diálogo é reduzida a uma forma de negociação ou ao acordo no que se deve discordar.
A terceira tentação é a aparente segurança de se esconder atrás de respostas fáceis, frases feitas, leis e regulamentos.
Finalmente, concluiu o Papa, juntamente com um claro sentido da sua própria identidade de cristãos, o diálogo autêntico exige também uma capacidade de empatia. Não nos limitamos a ouvir as palavras que os outros pronunciam, mas de compreender a comunicação não dita das suas experiências, esperanças e aspirações, das suas dificuldades e daquilo que mais lhes está no coração. Esta empatia deve ser o fruto do nosso olhar espiritual e da experiência pessoal, que nos leva a ver os outros como irmãos e irmãs, a "ouvir", através e para além das suas palavras e ações, o que os seus corações desejam comunicar. RealAudioMP3







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