Aos Bispos asiáticos, Papa Francisco recorda a missão da Igreja naquele continente
- Importante intervenção do Cardeal Gracias
A manhã deste
domingo, 17, para o Papa Francisco, passou-se sobretudo no no Santuário de Haemi,
lugar que recorda os cristãos mortos nas sangrentas perseguições do séc. XIX, onde
o Papa se encontrou antes de tudo com os Bispos provenientes de toda a Ásia. O
Card. Osvald Gracias, arcebispo de Mumbay e presidente da Conferência dos Bispos da
Ásia pronunciou a sua saudação ao Papa.
O Cardeal Gracias recordou antes
de tudo o primeiro encontro asiático com o Papa Paulo VI nas Filipinas, em 1970,
e a sucessiva decisão dos bispos da Ásia, para formar uma Conferência episcopal continentais
(FABC), como estrutura de confronto constante; mas também semelhante às outras estruturas
supranacionais e continentais, como o CELAM, SECAM, ECCE. De modo sintético o Presidente
da FABC, descreveu o desenvolvimento da Conferência, das suas respectivas comissões
e atividades. A FABC assiste continuamente as Igrejas na Ásia através dos seus Secretariados,
com programas de formação e animação pastoral para os bispos, os especialistas e todos
os envolvidos no sector. Sem violar a autonomia das Conferências Episcopais individuais,
a FABC exerce com delicadeza a sua influência sobre a Igreja na Ásia. Esta era exatamente
a visão dos seus pais fundadores.
Nesta saudação ao Papa, o Cardeal Gracias
inseriu também uma reflexão sobre a natureza missionária da Igreja universal no contexto
asiático. 60 por cento da população mundial vive na Ásia. É um continente onde a maioria
da população é jovem. Como resultado, em muitos aspectos, a Ásia é realmente fundamental
para o futuro do mundo e o futuro da Igreja. As Igrejas na Ásia identificaram
três áreas de desenvolvimento, porque são três os principais desafios que estamos
a enfrentar: um diálogo com as culturas, um diálogo com os pobres, e um diálogo com
as religiões. O que nos diz o Evangelho em relação a estes três grandes realidades,
que estão, todos os três, diante de três ameaças: as culturas parecem perder a sua
vitalidade interior; os pobres arriscam não ser incluídos nos processos de crescimento,
mas de serem pelo contrário excluídos deles; e alguns grupos religiosos começam a
ver no fundamentalismo o seu seu único meio de sobrevivência.
Neste contexto,
o episcopado asiático vê cinco grandes desafios para a Igreja na Ásia: - O secularismo
e o materialismo estão se a tornar cada vez mais prevalentes na sociedade asiática.
A população asiática é por natureza religiosa. Ora, alguns estão a descobrir que Deus
foi empurrado do centro da vida das pessoas para as suas margens.
- A família,
que já foi considerada tão importante para toda a sociedade asiática e tão enraizada
nela, agora está a ser lentamente corroída. Verificam-se ataques à santidade da vida
matrimonial. O divórcio, que antes era considerado um tabu, agora não é assim tão
raro. - Os movimentos contra a vida estão a crescer, ameaçando a própria vida
de várias maneiras: conflitos étnicos, desordens entre comunidades, violenta supressão
de diversas convicções religiosas; uma trágica ameaça da vida de pessoas indefesas,
como os não-nascidos. E mesmo a eutanásia começou a ter apoiantes. - A alma asiática
procura e encontra alegria na comunidade. Mas até mesmo este aspecto é afetado por
um forte senso de individualismo rastejante, a falta de atenção para com o outro e
a indiferença às suas necessidades, a perda do espírito de hospitalidade e abertura
que era tradicionalmente inerente a todas as sociedades asiáticas . - Estamos
a perder o espírito da harmonia inter-religiosa e, recentemente, temos assistido a
um número crescente de ataques à religião. Nalguns países, a perseguição aos cristãos
está a aumentar. A oposição a eles vem de uma religião predominante, e por vezes por
ideologias que querem impor a autoridade política sobre os grupos religiosos.
No
seu discurso, o Papa Francisco centrou-se no papel da Igreja no vasto continente da
Ásia, onde habita uma grande variedade de culturas. A Igreja é chamada a dar um testemunho
do Evangelho, através do diálogo e a abertura para com todos. O ponto de partida e
o ponto de referência fundamental é a nossa própria identidade, a nossa identidade
de cristãos. Não podemos empenhar-nos num verdadeiro diálogo, se não somos conscientes
da nossa identidade. Se queremos comunicar de maneira livre, aberta e frutuosa com
os outros, devemos ser bem claros sobre aquilo que somos, o que Deus fez por nós e
o que Ele requer de nós. E se a nossa comunicação não quer ser um monólogo, deve
haver abertura de mente e coração para aceitar indivíduos e culturas.
E a propósito
do testemunho e do diálogo o Papa centrou-se em três dificuldades que se devem prever
e evitar de forma madura:
O primeiro é o relativismo que nos empurra em direção
às areias movediças da confusão e do desespero. É uma tentação que no mundo de hoje
também afeta a comunidade cristã, advertiu o Papa, esclarecendo que não se trata apenas
de relativismo entendido como um sistema de pensamento, mas daquele relativismo prático
quotidiano que, de maneira quase imperceptível, enfraquece qualquer identidade. A
segunda maneira em que o mundo ameaça a solidez da nossa identidade cristã é a superficialidade:
as coisas da moda, da evasão e fuga. Um sério problema pastoral, disse o Papa. Para
os ministros da Igreja, esta superficialidade pode se manifestar também em ser fascinado
pelos programas pastorais e pelas teorias, em detrimento do encontro direto e frutuoso
com os fiéis, especialmente os jovens, que pelo contrário precisam de uma catequese
sólida e uma segura guia espiritual. Sem estar enraizados em Cristo, as verdades para
as quais vivemos acabam por se inclinar, a prática da virtude se torna formalística
e o diálogo é reduzida a uma forma de negociação ou ao acordo no que se deve discordar.
A terceira tentação é a aparente segurança de se esconder atrás de respostas fáceis,
frases feitas, leis e regulamentos. Finalmente, concluiu o Papa, juntamente com
um claro sentido da sua própria identidade de cristãos, o diálogo autêntico exige
também uma capacidade de empatia. Não nos limitamos a ouvir as palavras que os outros
pronunciam, mas de compreender a comunicação não dita das suas experiências, esperanças
e aspirações, das suas dificuldades e daquilo que mais lhes está no coração. Esta
empatia deve ser o fruto do nosso olhar espiritual e da experiência pessoal, que
nos leva a ver os outros como irmãos e irmãs, a "ouvir", através e para além das suas
palavras e ações, o que os seus corações desejam comunicar.