Rio de Janeiro (RV) - A Semana Nacional da Família de 2014, aconteceu de 10
a 16 de Agosto, e teve como tema: “a espiritualidade da família cristã: um casamento
que dá certo”. Este tema pretendeu salientar a importância da vida espiritual para
a felicidade e unidade do casal e, consequentemente, da família. Precisamos testemunhar
ao mundo os matrimônios e famílias felizes, que edificaram suas casas sobre a rocha
(Mt 7,24). Famílias que construíram a solidez cristã através da proximidade com Deus,
cultivando vida espiritual intensa e perseverante pela: oração, perdão, diálogo, Eucaristia,
lectio divina, obras de misericórdia, reza do terço e muitas outras práticas de piedade
cristã recomendadas pela Igreja. Enfim, vivendo a Igreja doméstica como discípulos
missionários abertos à universalidade, apostolicidade e vivendo em unidade. Precisamos
anunciar a Boa Nova da família diante das ameaças devastadoras contra a sua identidade
e unidade. É importante envidar todos os esforços na proclamação da grandeza e beleza
da família, o grande santuário da vida e do amor. Enfim, precisamos fixar nosso olhar
na família que deu certo! Quantos casais cultivam gestos de bondade e ternura que
encantam e tornam adoráveis os relacionamentos! Quantos casais celebram com júbilo:
bodas de prata, ouro e diamante! Entretanto, enquanto fazemos tudo que é possível
para exaltar e encorajar os matrimônios sólidos e estáveis, a Igreja deve estar consciente
de milhares dos casos especiais, de maneira especial, o das famílias incompletas,
irregulares, machucadas e traumatizadas pelas separações, violências, desuniões. Estas
famílias, também, precisam ser amadas, acolhidas e acompanhadas pastoralmente (Familiaris
Consortio, no. 84). A Pastoral ou Dimensão Familiar tem uma preocupação também com
essa realidade. Com certeza, este assunto, muito delicado e sensível, será objeto
de aprofundamento pelo Sínodo Extraordinário da família neste ano. Entretanto,
lar feliz não se identifica com ausência de problemas, de crises e de sofrimentos.
Mas sim pelo amor, pela luta, pela dedicação, pela doação, e pela superação dos problemas.
O perdão deve estar presente no lar para curar as feridas causadas pelas encrencas
familiares. Porquanto, as dificuldades, os fracassos e os sacrifícios, generosamente
partilhados, unem profundamente à família e a amadurece e a santifica! Vimos
o interesse demonstrado quando o Sínodo da Família foi anunciado. Sem dúvida, esse
“caminho comum” a ser realizado em duas etapas será um momento importante em nosso
século. O número de dioceses Brasileiras (120) que enviaram as respostas demonstra
a participação assim como as Conferências Episcopais do mundo (80%). São sinais que
refletem a grande preocupação nacional e mundial com a problemática familiar. Na semana
da família precisamos rezar pelo Sínodo. Entre as principais preocupações da Pastoral
Familiar hoje, estão: A preparação para o matrimônio. Chamamos de setor pré-matrimonial.
Pois, uma boa, séria e remota preparação, geram famílias com bases sólidas, duradouras
e felizes. Os divorciados recasados. É cada vez maior o número de casais em segunda
união, os quais precisam de um olhar de misericórdia e acolhimento da Igreja. Existem
em setor pastoral para atender a essa realidade. Porém, vale lembrar que a causa das
separações está, na maioria das vezes, no “improvisamento” dos casamentos, os quais
tiveram pouca ou nenhuma preparação diante de um mundo que perdeu suas características
cristãs. A família precisa também valorizar os seus idosos e idosas, os quais
constituem uma espécie de reservas ou tesouros culturais desses valores. Subjetivismo
ou relativismo ético: O Papa Bento XVI disse que estamos vivendo a “ditadura do relativismo”.
O subjetivismo ético, incentivado pela mídia, é muito inclinado para o Hedonismo.
Por isso, tem aumentado as dificuldades familiares e conjugais. O matrimônio e
família criam profundos laços de pertença entre os cônjuges e com os filhos, ou seja,
uma interdependência intrínseca e permanente. “Os dois são uma só carne”! A ideia
errada de autonomia dificulta o relacionamento conjugal e uma saudável convivência
familiar. Multiplicidade de interesses, as pessoas vivem, hoje, em função de múltiplos
interesses: negócios, trabalhos, estudos, viagens, lazer, etc. Por isso, correm o
risco de colocar a família como mais um dos interesses. Ora, a família é uma vocação
divina e não função, ou seja, ela deve unificar todos os interesses e as ações da
pessoa humana. O futuro da humanidade passa pela família, já lembrava São João Paulo
II. A família deve abraçar a totalidade da pessoa humana e não apenas alguns aspectos
da sua vida. Infelizmente respiramos, hoje, uma atmosfera “anti-vida”. A mentalidade
contraceptiva é muito forte. Muitos casais pensam no casamento, mas não querem filhos,
os quais são vistos como estorvos e não como dons e bênçãos do Altíssimo. Eles não
compreendem que os filhos constituem a beleza, a alegria, o encanto e são um grande
dom de Deus! O individualismo alastrou-se por todos os segmentos da vida, sobretudo
na família. Até mesmo a comensalidade está desaparecendo das famílias. Vivemos
hoje, também, a cultura da “provisoriedade”. Tudo é provisório. Nada é definitivo!
Tudo que adquirimos é descartável e com prazo de validade (descartabilidade). Esta
cultura tem influenciado muito a dissolução do vínculo, o qual, de acordo com o plano
de Deus, tem caráter definitivo, irrevogável e sem prazo de validade! Eis a importância
da Semana da Família para propor ao mundo através das pastorais e dos movimentos familiares
que é possível viver como famílias cristãs e formar os filhos com valores que os levem
a lugar pela dignidade da pessoa, justiça e paz. Que continuemos a nossa luta pois
acreditamos na família segundo o plano de Deus e assim iremos caminhar. Orani
João, Cardeal Tempesta, O.Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ.