Enviado do Papa ao Iraque, Card. Filoni relata dramática situação psicológica e moral
dos refugiados
Bagdá (RV) - Prossegue a missão do enviado especial do Papa ao Iraque, Cardeal
Fernando Filoni, entre os refugiados no Curdistão. O prefeito de Propaganda Fide levou
nesta sexta-feira ajudas do Santo Padre a uma comunidade yazida. Neste sábado teve
outro significativo encontro com membros deste grupo religioso. Eis o relato do purpurado,
entrevistado pela Rádio Vaticano:
Cardeal Fernando Filoni:- "Na manhã
deste sábado encontrei em Duhok o governador desta região: falamos amplamente sobre
a situação dos refugiados e tomamos conhecimento daquilo que o governo local está
fazendo em favor dos vários grupos. De sua parte, naturalmente, há um empenho muito
generoso, embora, é claro, a região não disponha dos meios suficientes para enfrentar,
por muito tempo, a situação que veio a ser criada: a população quase dobrou em relação
à precedente. Portanto, também ele pede que as ajudas cheguem o mais rápido possível,
sobretudo em relação aos gêneros de primeira necessidade. Fomos visitar, com os outros
bispos, o patriarca caldeu e o núncio, os vários acampamentos para refugiados e fizemos
uma visita a Manghes, que é um vilarejo onde há um bom número de católicos caldeus
e onde pude ver a situação e falar com as pessoas que estão acolhidas no centro paroquial
dali, no qual numerosas famílias se encontram refugiadas. Trata-se de pessoas que
fugiram de Qaraqosh, de Bakhdida e de outros vilarejos da Planície do Nínive. Confiam
que a Igreja não os abandonará, mas também fazem apelo a fim de que seu grito não
seja esquecido a nível internacional. Depois, ali perto, fomos visitar uma escola
colocada a disposição pelo município, onde se encontram refugiados yazidis. Ali encontrei
uma situação muito, muito dramática: não tanto do ponto de vista logístico, quanto
do ponto de vista psicológico e moral. Vi, sobretudo, mulheres e muitas crianças e
poucos anciãos... Ao falar comigo, esses anciãos choravam porque não veem um futuro
para sua terra, sua cultura, sua tradição e continuamente nos perguntavam: "O que
fizemos de mal para sermos assassinados?" As mulheres estavam-se numa situação passiva:
entre a comoção, o choro e a incapacidade de ter uma reação, abaladas pela dor e pelo
sofrimento. As crianças, naturalmente muitas, que nos rodeavam, nos olhavam com aqueles
olhos grandes, quase a perguntar-nos: "O que vocês estão fazendo por nós?" Uma situação
comovente, de grande sofrimento, creio, partilhada por todos. O fato de assegurar-lhes
que o Papa e a Igreja Católica os defende, que fala por eles e que eles têm voz através
de nós, deu-lhes um pouco de encorajamento. Ademais, continuam chegando notícias de
assassinatos: fala-se de 100 homens que teriam sido mortos, a notícia chegou esta
manhã... Estamos procurando verificar. Fala-se de situações desesperadoras em alguns
vilarejos, porque o povo não conseguiu fugir." (RL)