Papa Francisco aos Bispos da Coreia: sede guardiães da memória e da esperança
O Papa Francisco encontra-se em Seul, por ocasião da sua terceira Viagem Apostólica,
que o levou à Coreia do Sul. O segundo encontro do Papa, em terras coreanas, foi com
as autoridades e diplomatas do país. De fato, ao deixar o Palácio Presidencial de
Seul dirigiu-se à sede da Conferência Episcopal Coreana, onde se reuniu com todos
os 35 Bispos das 16 dioceses existentes no país.
No discurso que pronunciou
aos seus irmãos no episcopado, o Papa Francisco saudou e agradeceu a presença de todos
e disse ser “uma bênção para ele estar ali e poder conhecer pessoalmente a vida dinâmica
da Igreja na Coreia. Aos pastores presentes, o Papa recordou-lhes a sua missão de
cuidar do rebanho do Senhor como guardiães das maravilhas que Ele realiza no seu povo.
Cuidar do rebanho ou do povo de Deus é uma das tarefas específicas, confiadas a cada
Bispo.
A seguir, o Santo Padre passou a refletir, como irmão no episcopado,
sobre dois aspectos principais do cuidado do povo de Deus naquele país: ser “guardiães
da memória” e “guardiães da esperança”. A beatificação de Paul Yun Ji-chung e dos
seus companheiros, que o Papa vai presidir no próximo sábado em Seul, será uma ocasião
para agradecer ao Senhor que, a partir das sementes lançadas pelos mártires, proporcionou
uma colheita abundante de graça naquela terra. E o Papa explicou:
“Vós
sois os descendentes dos mártires, herdeiros do seu heróico testemunho de fé em Cristo.
Além disso, sois herdeiros de uma tradição extraordinária, que teve início e cresceu
amplamente graças à fidelidade, a perseverança e o trabalho de gerações de leigos.
É muito significativo o fato de que a história da Igreja na Coreia tenha começado
com um encontro direto com a Palavra de Deus. A beleza intrínseca e a integridade
da mensagem cristã, ou seja, o Evangelho e o seu apelo à conversão, à renovação interior
e a uma vida de caridade, impressionaram a Yi Byeok e aos ilustres anciãos das primeiras
gerações”.
Hoje, afirmou o Papa, a fecundidade do Evangelho na terra
coreana e a grande herança transmitida pelos seus antepassados na fé podem-se reconhecer
no florescimento de paróquias ativas e movimentos eclesiais, nos sólidos programas
de catequese, na solicitude pastoral pelos jovens e nas escolas católicas, nos seminários
e nas universidades. A Igreja na Coreia é estimada pelo seu papel na vida espiritual
e cultural da nação e pelo seu vigoroso impulso missionário: de terra de missão, a
Coreia tornou-se hoje terra de missionários; e a Igreja católica continua a se beneficiar
de tantos sacerdotes e religiosos enviados pelo mundo. E, ao explicar o primeiro ponto
da sua reflexão, o Papa disse:
“Ser ‘guardiães da memória’ significa
mais do que recordar e aprender com acontecimentos do passado; significa extrair os
recursos espirituais para enfrentar, com clarividência e determinação, as esperanças,
as promessas e os desafios do futuro. A vida e a missão da Igreja na Coreia não se
medem, em última análise, em termos exteriores, quantitativos e institucionais; mas
devem ser julgados à luz do Evangelho e do seu apelo à conversão da pessoa para Jesus
Cristo. Ser guardiões da memória significa dar-se conta de que o crescimento vem de
Deus e, ao mesmo tempo, é fruto de um trabalho paciente e perseverante, tanto no passado
como no presente”.
A memória dos mártires e das gerações passadas de
cristãos, afirmou ainda o Papa, deve ser realista, não idealizada nem ‘triunfalista’.
Olhar para o passado, sem ouvir o chamamento de Deus à conversão, não nos ajuda a
prosseguir na caminhada; pelo contrário, pode até acabar por impedir ou deter o nosso
progresso espiritual.
Além de ser “guardiães da memória”, explicou o Santo
Padre, vós sois chamados também a ser “guardiães da esperança”: a esperança oferecida
pelo Evangelho da graça e da misericórdia de Deus em Jesus Cristo, a esperança que
inspirou os mártires. É esta esperança que somos chamados a proclamar a um mundo que,
apesar da sua prosperidade material, busca algo mais, algo maior, algo mais autêntico
e que dá plenitude.
Vós e os irmãos sacerdotes ofereceis esta esperança com
o vosso ministério de santificação, que não apenas conduz os fiéis às fontes da graça
na liturgia e nos sacramentos, mas constantemente vos impele a agir em resposta a
Deus. Por isso, o Papa exortou os pastores e o clero coreanos a manterem esta esperança
e a chama da santidade, da caridade fraterna e do zelo missionário na comunhão eclesial.
Por isso, o Pontífice convidou os Bispos a permanecerem sempre ao lado dos sacerdotes,
encorajando-os no seu trabalho diário, na sua busca da santidade e na proclamação
do Evangelho de salvação. O Papa transmitiu-lhes a sua saudação cordial e a sua gratidão
pelo generoso serviço em favor do povo de Deus.
O Bispo de Roma prosseguiu
dizendo que “se abraçarmos o desafio de ser uma Igreja missionária, uma Igreja que
sai constantemente para o mundo e, em particular, para as periferias da sociedade
contemporânea, teremos necessidade de cultivar aquele ‘prazer espiritual’ que nos
torna capazes de acolher e identificar-nos com cada membro do Corpo de Cristo.
Neste
sentido, recordou o Papa, é preciso mostrar particular solicitude, nas nossas comunidades,
pelas crianças e os idosos. A este respeito, quero pedir-vos que cuideis, de modo
especial, da educação dos jovens, apoiando, na vossa indispensável missão, não apenas
as universidades, mas também as escolas católicas, onde as mentes e os corações jovens
são formados no amor de Deus e da sua Igreja, no bem, no verdadeiro e no belo, para
serem bons cristãos e honestos cidadãos. E o Pontífice acrescentou:
“Ser
guardiães da esperança implica também assegurar o testemunho profético da Igreja na
Coreia, a fim de que continue a exprimir-se na sua solicitude pelos pobres e nos seus
programas de solidariedade, especialmente em favor dos refugiados e migrantes e dos
que vivem à margem da sociedade. Esta solicitude deveria manifestar-se, não apenas
através de iniciativas concretas de caridade, muito necessárias, mas também do trabalho
constante de promoção a nível social, ocupacional e educativo. Podemos correr o risco
de reduzir o nosso compromisso com os necessitados simplesmente a uma dimensão assistencial,
ignorando a necessidade de cada um de crescer como pessoa e exprimir com dignidade
a sua própria personalidade, criatividade e cultura”.
A solidariedade
para com os pobres deve ser considerada como um elemento essencial da vida cristã;
através da pregação e da catequese, fundadas no rico património da Doutrina social
da Igreja, esta solidariedade deve permear os corações e as mentes dos fiéis e refletir
em todos os aspectos da vida eclesial. O ideal apostólico de uma Igreja pobre e para
os pobres encontrou uma expressão eloquente nas primeiras comunidades cristãs desta
nação.
Por isso, o Pontífice espera que este ideal continue a moldar o caminho
da Igreja coreana na sua peregrinação para o futuro. Ele exprimiu a sua convicção
de que, se o rosto do amor sobressair na Igreja, os jovens se sentirão sempre mais
atraídos para o coração de Jesus, repleto de amor divino.
O Papa Francisco
concluiu o seu longo discurso aos Bispos coreanos encorajando-os, com estas reflexões
sobre a sua missão e como ‘guardiães da memória e da esperança’, a fomentar a unidade,
a santidade e o zelo dos fiéis na Coreia. A memória e a esperança, concluiu, nos inspiram
e nos guiam para o futuro. Possam as súplicas de Maria, Mãe da Igreja, levar ao seu
pleno florescimento, nesta terra, as sementes lançadas pelos mártires, irrigadas por
gerações de fiéis católicos e transmitidas a todos como uma promessa para o futuro
do país e do mundo.
Ao término do encontro com os Bispos da Coreia, o Bispo
de Roma retornou à Nunciatura Apostólica de Seul, concluindo assim o seu primeiro
dia de atividades na Coreia do Sul.